A
cartilha contra a Lava Jato e o desespero do PT
José
Fucs*
|
Foto: Agência Brasil |
A
cartilha divulgada pelo PT na terça-feira contra o juiz Sergio Moro, o ministro
Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, e “setores” do Ministério Público e
da Polícia Federal, mostra o grau de desespero do partido diante das acusações
que proliferam em ritmo acelerado contra a legenda e seus dirigentes, em
especial o ex-presidente Lula.
A
perspectiva de que brote alguma acusação formal contra Lula e de que o Ministério
Público venha a cobrar os R$ 20 bilhões desviados da Petrobras pelo PT e por
outros partidos provoca calafrios no comando petista, já que a medida, se
efetivada, poderá resultar na quebra da legenda e na cassação de seu registro.
Se
alguém ainda tinha a ilusão de que, desta vez, ao contrário do que aconteceu no
mensalão, o PT faria uma autocrítica séria sobre os malfeitos e enfrentaria
como gente grande as acusações que pesam contra o partido e seus caciques, deve
estar lamentando, nesta altura do campeonato, a ingenuidade perdida. Como seria
de esperar, para quem conhece o modus operandi do partido, o
PT agora foi mais PT do que nunca.
Na
cartilha de 34 páginas(!), intitulada Em defesa do PT, da verdade e da
democracia e disponível em seu site, o PT retoma o chororô do mensalão
contra a “tentativa de criminalização” e o objetivo de "eliminar o partido
da vida política brasileira".
Em
seu projeto de poder, o PT e seus caciques parecem não admitir a existência de
profissionais, com “P” maiúsculo, na Justiça, no Ministério Público e na
Polícia Federal, que não se curvem a seus esquemas. Os que ousam enfrentá-los,
com base em informações e dados objetivos, como extratos de contas no exterior
e outras provas apresentadas nas delações premiadas da Lava Jato, tornam-se
alvo de uma onda difamatória obscena, cujo principal objetivo é construir uma
“narrativa” própria para os fatos, para iludir os incautos e alimentar o
discurso das milícias petistas nas ruas e nas redes sociais.
Sob
a suspeita de ter promovido a industrialização do pixuleco “por dentro”, ao
transformar o dinheiro proveniente do propinoduto da Petrobrás em doações
legais, o PT investe contra instituições cuja independência é indispensável
para a democracia que se pretende consolidar no país. Recorre, mais uma vez, à
velha tática de se colocar como vítima indefesa contra o que considera
"uma campanha de aniquilamento do partido comandada pela mídia
monopolizada”.
Como
já havia acontecido no mensalão, o PT defende no documento, sem qualquer
constrangimento, dirigentes como João Vaccari Neto, o ex-teroureiro petista
preso pela Lava Jato em Curitiba, e outros companheiros considerados
injustiçados. O partido só não revela que os defende, mesmo diante de todas as
evidências de envolvimento no petrolão, porque, ainda que eles tenham levado
alguns trocados para casa, segundo as acusações feitas até agora no âmbito da
Lava Jato, estavam agindo em nome do PT e do engenhoso sistema de corrupção
criado para financiá-lo.
Como
se Lula não tivesse sido o responsável pela divisão do povo brasileiro em “nós”
e “eles”, o PT volta a dizer que é alvo de uma “campanha de ódio, intolerância
e mentiras”. Em vez de apresentar novos fatos em sua defesa, que sejam
críveis o suficiente para convencer quem tem um mínimo de inteligência, o PT se
mostra mais preocupado em vociferar contra os “vazamentos criminosos” que
estariam sendo feitos contra o partido e seus dirigentes nas investigações e
processos em andamento no país.
Felizmente,
hoje, essas versões fantasiosas, elaboradas no laboratório do partido, já não
convecem muita gente. Talvez, nas reuniões do PT ainda haja espaço para venerar
"petroleiros" e mensaleiros. Ao menos enquanto for conveniente.
Porque, quando não for mais, como está acontecendo hoje com José Dirceu, também
preso pela Lava Jato, o presidente do PT, Rui Falcão, provavelmente não
hesitará em fazer pressão para que eles deixem o partido.
Enquanto isso, fora
dos bunkers petistas, os brasileiros dão sinais reconfortantes de que preferem
cultivar heróis de um novo Brasil, livre de pixulecos, como o juiz Segio Moro e
seus colegas da força-tarefa da Lava Jato.
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do Fucs – Revista Época