Bateu, sim. E não foi a primeira vez...
"É importante dizer que foi um episódio único na
minha vida. Jamais tive qualquer atitude dessa com minha mulher, meus filhos.
Não tenho uma atitude de violência antes e depois desse episódio". Foi com
esse discurso que o secretário executivo do município do Rio de Janeiro, Pedro
Paulo de Carvalho, enfim admitiu ter agredido a ex-mulher Alexandra Marcondes
Teixeira, em fevereiro de 2010, como revelou o site
de VEJA no mês passado. O problema é que sua confissão -
tornada pública apenas depois que Alexandra confirmou as agressões ao
Ministério Público - tem mais inconsistências. O momento de 'descontrole' não
foi o único, nem o primeiro, como revela o boletim de ocorrência número 6304/2008,
registrado na 43ª DP (Cidade Ademar), na Zona Sul de São Paulo.
Depois da noite de Natal de 2008, por volta de 1h30 do
dia 26 de dezembro, a família havia acabado de chegar na residência de
Alexandra, no bairro Jardim Prudência. Segundo o depoimento a que VEJA teve
acesso, as agressões ocorreram ainda dentro do carro: "..estava na
companhia do marido e da filha em seu veículo, momento em que começaram a
discutir. O seu marido Pedro passou a chamá-la de 'vagabunda', 'piranha, 'FDP',
culminando em agredi-la fisicamente, desferindo socos em seu corpo e
rosto", contou Alexandra ao delegado Milton Toschi Júnior, que estava no
plantão daquela madrugada.
Os dois já eram casados havia sete anos e, na tentativa
de preservar o casamento, Alexandra acabou deixando o caso de lado. Apesar de a
Lei Maria da Penha ter entrado em vigor dois anos antes, ela só se tornou uma
'ação incondicionada' (quando o Ministério Público pode dar prosseguimento
independentemente da vontade da vítima) após uma decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF), em 2012. E, como acontece na maioria dos episódios de violência
doméstica, as agressões se repetiram dois anos depois.
Em 6 de fevereiro de 2010, Alexandra decidiu voltar de
surpresa para o apartamento em que viviam, em frente à praia da Barra da
Tijuca, para comemorar o nono ano de matrimônio. Acabou, contudo, tendo uma
surpresa nada agradável. A marca de batom na taça de vinho, os fios de cabelo
na cama e no ralo do banheiro e o sutiã jogado debaixo da mesa da cozinha foram
as primeiras pistas. Através das câmeras de circuito interno do condomínio, ela
teve certeza de que o marido havia levado para dentro do seu apartamento uma
misteriosa companhia na noite anterior.
Naquela mesma manhã, Pedro Paulo havia viajado para
Brasília para acompanhar o prefeito Eduardo Paes em uma agenda oficial. Quando
voltou para casa, ouviu de Alexandra o pedido de separação. E ficou
transtornado. Empurrou-a no chão, desferiu chutes nas suas pernas e, em
seguida, deu socos no rosto que acabaram deixando hematomas e quebrando um de
seus dentes, como comprova o laudo do exame de corpo delito obtido por VEJA. Na
delegacia, ela confirmou em depoimento que havia sido agredida outras vezes
anteriormente.
O inquérito permaneceu parado na Delegacia Especial de
Atendimento à Mulher (Deam) de Jacarepaguá, na Zona Oeste, por cinco anos e
oito meses. Apenas depois de VEJA ter trazido à tona o episódio, o caso foi
encaminhado para o Ministério Público. Apesar das pressões políticas pedindo o
arquivamento, o procurador geral do Estado, Marfan Martins Vieira, encaminhou o
caso para o procurador geral da República, Rodrigo Janot, em Brasília, já que o
acusado, como deputado federal, tem foro privilegiado.
A revelação do escândalo movimentou os bastidores da
política fluminense. O PMDB já tinha definido que o nome do fiel escudeiro de
Paes seria o escolhido para disputar a eleição do ano que vem. Agora, várias
alas defendem a mudança de nome. O atual prefeito bateu o pé. Tratou a agressão
à mulher como uma "questão da vida privada" que já havia sido
superada.
Em entrevista à Folha
de São Paulo, Pedro Paulo tentou reinterpretar a Lei Maria da
Penha, alegando não ser um contumaz agressor de mulheres. "Eu cometi um
erro. Eu traí minha mulher. Vocë imagina a dificuldade e o calor dessa
discussão. Associar isso a um ato de violência doméstica, de um comportamento
violento, isso em hipótese alguma eu vou admitir. Porque isso não é minha
atitude, eu não tenho qualquer comportamento parecido com o que prevê a Lei
Maria da Penha". Pois, além da lei não falar em periodicidade de
agressões, agora sabe-se que o quase-candidato não agrediu a mulher apenas uma
vez.
A história que vem se alastrando pelas redes sociais -
uma petição eletrônica pedindo que Pedro Paulo seja afastado imediatamente do
cargo de secretário já tem mais de 10 mil assinaturas - vai, aos poucos,
ganhando as ruas. Hoje, a partir das 17h, na Cinelândia, milhares de mulheres
prometem fazer uma grande manifestação contra o futuro candidato e contra o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha.(Com Veja.com/Conteúdo)
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