Ou vai ou racha*
Alckmin se consolida e atrai governo e PMDB. Mas isso
custa caro...
Eliane Cantanhêde
A semana consolidou o protagonismo de Geraldo Alckmin no
PSDB e na eleição presidencial, irradiando articulações com outros partidos,
particularmente o PMDB, e para governos estaduais, particularmente o de São
Paulo. João Doria, por exemplo, acionou seu plano B: a disputa pelo Palácio dos
Bandeirantes.
Depois de deslizar ladeira abaixo na disputa com o
padrinho Alckmin pela vaga de presidenciável tucano, Doria vem aí para sua
sucessão. Aliás, os dois vão juntos a Brasília, no mesmo avião, para a
convenção tucana que elegerá Alckmin presidente do PSDB e, provavelmente, o
indicará candidato ao Planalto.
A costura, no entanto, desagrada a setores do PSDB,
depende fortemente do PMDB e será uma nova pedreira para Alckmin e Doria, agora
unidos para sempre, até que a morte – ou turbulências na campanha – os separe.
Vai que Alckmin se consolide politicamente, mas não se viabilize
eleitoralmente? Doria estará a postos.
Um fator decisivo na equação (talvez no resultado) do
PSDB é o Planalto. Mesmo recém-operado, o presidente Michel Temer viaja pelo
País, comemora os índices positivos na economia que pingam mês a mês e está
metido até a alma na aprovação de alguma reforma da Previdência. Tudo isso com
dois objetivos: participar ativamente da sua sucessão e não passar vexame nos
livros de História.
Temer candidato a um segundo mandato? Praticamente
impossível. Henrique Meirelles unindo governo e base aliada em torno do seu
sonho pessoal? Improvável. Sobra a opção de emprestar os êxitos e os
instrumentos de Temer para outro candidato – e contra os demais.
O PMDB, maior e mais ramificado partido do País, era uma
federação de partidos e se transformou em federação de problemas e incógnitas.
Uma parte (Renan Calheiros) vai com o PT, outra (Eliseu Padilha) com o PSDB e
em direção a Alckmin. Os interesses, disputas e picuinhas estaduais vão definir
o resto.
O presidente do partido, senador Romero Jucá, xingado
ontem em um voo, tem uma habilidade política inquestionável. O que dizer do
líder dos governos FHC, Lula e Dilma e Temer? Poderia ir para um lado ou para
outro, mas está com o PSDB e, quando defende “um projeto único para o País”,
tenta dar uma ordem unida a favor do PSDB – ou de Alckmin.
Isso não sai de graça, como nada no PMDB e na própria
política sai de graça. Jogar a máquina do governo e o peso do partido significa
negociar a garantia de votos tucanos para a reforma da Previdência, o uso dos
palanques para defender o governo Temer e o apoio a candidatos do PMDB nos
Estados.
O pacote PMDB-PSDB caminha para Doria ao governo
paulista, rifando o peemedebista Paulo Skaf e provocando o tucano José Serra
com vara curta. Mas há pragmatismo aí: se alguém comanda a política paulista é
Alckmin...
A oposição não está parada. Jair Bolsonaro é o oposto de
Alckmin: ele se viabiliza eleitoralmente, mas não demonstra força política e
partidária. A fórmula deu certo (em termos de votos) com Fernando Collor. A
ruptura de 2018 se assemelha à de 1989? Andamos para trás?
Nas esquerdas, há a tentativa de unificar o discurso, mas
cada qual com seu candidato. Logo, “unificar o discurso” significa meter o pau
no governo Temer. Neste fim de semana, Guilherme Boulos experimenta saltar de
líder do MTST a candidato do PSOL, enquanto o PCdoB inova ao lançar uma
candidatura própria, a da deputada gaúcha Manuela D’Ávila.
A Rede continua à espera de Marina Silva anunciar se vai
disputar ou não pela terceira vez. E o PT? Vai se segurando com o que tem à
mão, que é Lula, o campeão das pesquisas e dos processos. E se não for ele?
Fernando Haddad está de prontidão, mas a eleição com Lula é uma e, sem ele,
outra bem diferente.
*Publicado no Portal Estadão em 01/12/2017
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