Crise venezuelana afeta todos os setores da sociedade
Chavismo de Nicolás Maduro ganha dimensões inéditas em
termos de repressão e escassez, com impacto social,
político e econômico sem
precedente na história do país
O agravamento do autoritarismo imposto por Nicolás Maduro
transformou a Venezuela numa ditadura de facto. À medida que as instituições
democráticas vão sendo asfixiadas, áreas vitais da sociedade mergulham em uma
crise generalizada e sem precedentes, trazendo o risco de uma guerra civil e o
esfacelamento completo da república. Não se trata de má vontade ideológica com
o regime, mas da mera constatação empírica do fracasso do bolivarismo,
materializado na deterioração das condições de vida.
No campo político, observa-se o acúmulo de poder pelo
Executivo, que aparelhou o Judiciário, as Forças Armadas e inviabilizou o
Legislativo, último reduto da Oposição. A violência do Estado, perpetrada por
forças de segurança e organizações paramilitares, se tornou sistêmica e ganha
níveis inéditos de repressão. Verificam-se diversos tipos de violações de
direitos humanos, como prisão sem o devido processo legal, tortura e
assassinato. Maduro tenta justificar o injustificável mediante uma vociferante
coleção de acusações contra o “inimigo externo”: o imperialismo americano.
Segundo reportagem do GLOBO, o Human Rights Watch (HRW) e
o Foro Penal venezuelano, ONGs conceituadas no monitoramento dos direitos
humanos, contabilizaram 88 casos de graves violações no país, afetando 314
pessoas, apenas entre abril, quando começaram as manifestações de rua contra o
regime bolivariano, e setembro. As ONGs mencionam casos de tortura, como
asfixia, aplicação de choques elétricos e abusos sexuais. Elas acrescentam que
este ano, só nos protestos de rua, 124 pessoas foram mortas e mais de duas mil
ficaram feridas. A perseguição a opositores e suspeitos de subversão se tornou
sistemática, inclusive com invasão de residências sem mandado, prisões ilegais
e ações militares contra civis. Líderes da oposição, como o ex-prefeito de
Caracas Antonio Ledezma, estão fugindo do país.
Já as finanças do país, baseadas no petróleo, foram
dilapidadas por uma gestão populista e centralizadora, resultando na pior crise
econômica de sua história. A Venezuela vive sob hiperinflação, escassez de todo
tipo de produto, racionamento de energia e uma crise social sem precedentes,
com crescente desemprego e criminalidade. A falta de camisinhas, para ficarmos
num exemplo banal, já causa o aumento de casos de doenças sexualmente
transmissíveis e gravidez não planejada. Mas a escassez é geral e inclui
alimentos, remédios e itens de primeira necessidade. Não à toa, a população
foge pela fronteira, num êxodo que já se transformou em crise humanitária.
Afetadas pela crise do chavismo, nações latino-americanas
formaram o chamado “Grupo de Lima”, que reúne 12 países, e pressiona o governo
de Caracas, condenando a “ruptura da ordem democrática e a sistemática violação
dos direitos humanos”. É preciso que esse tipo de pressão internacional
continue e inclua outros grupos de nações, como a UE, forçando o regime de
Maduro ao diálogo.
*Publicado no Portal O Globo em 01/12/2017
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