sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

➤OPINIÃO - 2

Crise venezuelana afeta todos os setores da sociedade

Chavismo de Nicolás Maduro ganha dimensões inéditas em 
termos de repressão e escassez, com impacto social, 
político e econômico sem precedente na história do país

O agravamento do autoritarismo imposto por Nicolás Maduro transformou a Venezuela numa ditadura de facto. À medida que as instituições democráticas vão sendo asfixiadas, áreas vitais da sociedade mergulham em uma crise generalizada e sem precedentes, trazendo o risco de uma guerra civil e o esfacelamento completo da república. Não se trata de má vontade ideológica com o regime, mas da mera constatação empírica do fracasso do bolivarismo, materializado na deterioração das condições de vida.

No campo político, observa-se o acúmulo de poder pelo Executivo, que aparelhou o Judiciário, as Forças Armadas e inviabilizou o Legislativo, último reduto da Oposição. A violência do Estado, perpetrada por forças de segurança e organizações paramilitares, se tornou sistêmica e ganha níveis inéditos de repressão. Verificam-se diversos tipos de violações de direitos humanos, como prisão sem o devido processo legal, tortura e assassinato. Maduro tenta justificar o injustificável mediante uma vociferante coleção de acusações contra o “inimigo externo”: o imperialismo americano.

Segundo reportagem do GLOBO, o Human Rights Watch (HRW) e o Foro Penal venezuelano, ONGs conceituadas no monitoramento dos direitos humanos, contabilizaram 88 casos de graves violações no país, afetando 314 pessoas, apenas entre abril, quando começaram as manifestações de rua contra o regime bolivariano, e setembro. As ONGs mencionam casos de tortura, como asfixia, aplicação de choques elétricos e abusos sexuais. Elas acrescentam que este ano, só nos protestos de rua, 124 pessoas foram mortas e mais de duas mil ficaram feridas. A perseguição a opositores e suspeitos de subversão se tornou sistemática, inclusive com invasão de residências sem mandado, prisões ilegais e ações militares contra civis. Líderes da oposição, como o ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma, estão fugindo do país.

Já as finanças do país, baseadas no petróleo, foram dilapidadas por uma gestão populista e centralizadora, resultando na pior crise econômica de sua história. A Venezuela vive sob hiperinflação, escassez de todo tipo de produto, racionamento de energia e uma crise social sem precedentes, com crescente desemprego e criminalidade. A falta de camisinhas, para ficarmos num exemplo banal, já causa o aumento de casos de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez não planejada. Mas a escassez é geral e inclui alimentos, remédios e itens de primeira necessidade. Não à toa, a população foge pela fronteira, num êxodo que já se transformou em crise humanitária.

Afetadas pela crise do chavismo, nações latino-americanas formaram o chamado “Grupo de Lima”, que reúne 12 países, e pressiona o governo de Caracas, condenando a “ruptura da ordem democrática e a sistemática violação dos direitos humanos”. É preciso que esse tipo de pressão internacional continue e inclua outros grupos de nações, como a UE, forçando o regime de Maduro ao diálogo.

*Publicado no Portal O Globo em 01/12/2017

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