O trabalho dos políticos*
A intensa agenda de João Doria (PSDB-SP) desde que
assumiu a Prefeitura de São Paulo – além de seis viagens internacionais, o
prefeito teve mais de 280 reuniões com empresários, informa o jornal Valor –
revela que também os políticos, quando querem, exercem intensamente suas
atividades. Não há perdas de tempo nem expediente restrito a terça, quarta e
quinta. Quando se quer, muito se faz, todos os dias. Esse aspecto merece ser
lembrado especialmente depois da gestão de Fernando Haddad, cuja paralisia foi
de tal ordem que até o seu criador, Lula da Silva, reclamou publicamente da
preguiça do ex-prefeito petista.
É óbvio que não basta que a agenda dos políticos seja
intensa. É um primeiro passo, mas está longe de ser suficiente. É preciso um
diligente e constante trabalho, mas concentrado naquilo que corresponde a cada
cargo público. Não há bom prefeito se o asfalto está ruim, se os semáforos não
funcionam, se as árvores não estão podadas, se as ruas estão sujas, se o
serviço de ônibus é precário, entre tantas outras tarefas da prefeitura. Muito
especialmente, um prefeito deve ser avaliado pelo funcionamento adequado de
escolas, hospitais e postos de saúde. Sem isso, não se pode dizer que há uma
boa gestão da coisa pública.
A administração pública, seja em qual esfera for –
municipal, estadual ou federal –, enfrenta grandes desafios, especialmente se a
gestão anterior foi acintosamente deficiente, e seria irreal exigir que os
serviços públicos alcançassem um nível de excelência pela simples chegada de um
novo político ao cargo. A resolução dos problemas públicos demanda tempo. Isso
não significa, no entanto, que a população tenha de se contentar com o mesmo
sofrível atendimento público anterior. Uma coisa é exigir a imediata perfeição,
outra coisa – que necessariamente deve estar presente em toda administração
pública com pretensões de ser bem avaliada pela população – é a existência de
uma perceptível e progressiva melhora dos serviços públicos.
Urge, portanto, uma nova mentalidade no exercício dos
cargos públicos, com uma condução profissional a produzir resultados palpáveis
para a população. Responsabilidade, compromisso e honestidade são
pré-requisitos para o cargo. A isso se deve acrescentar uma gestão que alie
competência técnica, criatividade na resolução dos problemas e exímio
conhecimento das exatas responsabilidades do cargo que se ocupa. Depois de
tantos anos de populismo e voluntarismo petistas, é preciso devolver os cargos
públicos às suas funções institucionais.
As prefeituras e os governos estaduais são muito mais que
palanques para novas eleições. Agir como se estivesse numa ininterrupta
campanha política foi o que fez, com tanto prejuízo ao País, o sr. Lula da
Silva. Os cargos públicos são ocasiões privilegiadas de servir ao público,
segundo atribuições bem definidas. É certo que, em muitas áreas, há
concorrência de competências entre União, Estado e município. Nesses casos,
urge harmonizar a ação com os demais níveis de poder, para evitar ineficiências
e custos desnecessários. No Rio de Janeiro, por exemplo, já é comum que se
esqueça que a segurança pública é dever do governo estadual. Com frequência,
dá-se a entender que a União é responsável pela imposição da lei e da ordem, em
substituição ao caos lá instalado pela desídia de repetidas administrações
estaduais.
*Publicado no Portal Estadão em 31/07/2016
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