Lá vem ela. Gostosa. Toda prosa. Fiu! Fiu!
César Cabral*
Há quem diga que o Brasil não é um país, mas sim uma piada.
Não creio; se for é de muito mau gosto, do tipo Charlie Hebdo. Não é, também, o
país mais corrupto do mundo já que uma dúzia deles pela África, America do Sul
e pelo oriente ganham de goleada já nos dez primeiros minutos de competição.
O Brasil também não é um país violento mesmo que nesse
quesito nossa posição mundial seja considerável; há mais mortes no trânsito em
uma semana por aqui do que em um ano em Nova York. Aqui se matam mais mulheres
do que em países sabidamente antimulheres que as exterminam a pedradas ou as
mutilam costurando suas vaginas.
Eu moro na segunda cidade mais violenta do mundo. No Rio de
Janeiro balas perdidas acertam quem não tinha nada a ver com os tiroteios entre
traficantes. Polícia bate nos protestantes porque goza e mata porque é
despreparada, desequilibrada.
Na política nada há nada mais patético, rasteiro e, dizem,
democrático, pois qualquer brasileiro pode votar e ser votado; vai de Sarney a
Tiririca passando por um presidente dessa república analfabeto eleito e
reeleito. E só Tupã sabe o que compõe assembleias legislativas e mais de cinco
mil camaras municipais. Famoso ou apenas notório, seja lá por que for, tem
vitória garantida em qualquer eleição.
É o caso do vereador Aonde é; um entregador de pizza que
ganhou essa identificação por perambular por um bairro da periferia, em busca
de um endereço perguntando: aonde é? Eleito, com esse nome, “Aondeé” na urna
eletrônica, em três meses comprou sete apartamentos com parte do salário dos
assessores de seu gabinete. Foi preso, solto e está de volta a câmara municipal
e terá que dar explicações a “comissão de ética”. Mas já declarou: “fui vítima
de uma armação”.
Somos chamados de “macaquitos” pelos argentinos não porque
somos negros, mas por que imitamos os norte-americanos em tudo até onde formos
capazes. Operações militares eles batizam com expressões de grande efeito como
Tempestade no Deserto; parece titulo de filme feito em Hollywood. Aqui nossas
operações policiais têm nomes espalhafatosos como Operação Lei Seca, Operação
Satiagraha, Operação Lava-Jato. Assim mesmo, com hífen e tudo.
Esse Brasil meio galhofeiro infestado de bandidos, larápios,
vigaristas e povo ignorante (lato senso como adjetivo e substantivo de dois
gêneros) não é, certamente, o pior dos mundos; muito menos o melhor. Nem uma
coisa nem outra. È impagável, ridículo, cômico de nascença, carnavalesco.
E chegou o carnaval! E chegou durante e enquanto a patifaria
come solta, pois o negócio é sambar. Com alegria, com graça. Na escola de samba
União da Ilha, do coração de Graça Foster há 18 anos, e onde ela já desfilou
outras vezes, esse ano o enredo será uma graça: “Beleza Pura?”. Segundo o
jornal O Globo, o presidente da escola diz que as portas estão abertas para tão
ilustre e bela figura que “poderá escolher entre, pelo menos, cinco fantasias
para representar o enredo “Beleza Pura?”. A escola, que pretende tratar sobre o
tema da beleza de maneira bem-humorada, irá compor o desfile com disfarces de
“Frangos de Academia” - em uma referência às pessoas que têm obsessão por
malhar -, “Rei do pop e do Retoque”- representando o cantor Michael Jackson -,
“Zé Bonitinho, o perigote das mulheres”, “A corte da moda” e “O Herói e a
Proteína”.
Se Graça Foster sambar, na avenida, cantará faceira o refrão
“Lá vem ela, toda prosa, gostosa, fiu, fiu! A beleza tá no seu interior. Nos
olhos de quem vê. No verdadeiro amor”. Na última vez que Graça Foster desfilou
na União da Ilha foi na ala Xangô “orixá relacionado à justiça, que nas
religiões afro é visto como aquele que castiga os mentirosos, os ladrões e os
malfeitores”. A União da Ilha tem entre seus patrocinadores a Petrobras de quem
recebe um milhão de reais.
Quem me contou essa história foi Vulpino Argento, o Demente,
suplente de senador não eleito que leu a notícia no jornal O Globo que não
permite que suas matérias sejam publicadas, transmitidas por broadcast, etc,
sem autorização. O que é justo. Mas ler e comentar, no boca a boca, acho que
pode. Não sei se esse enredo da União da Ilha, “Beleza Pura?”, é mesmo uma
pergunta, uma gozação com a Graça Foster ou se é mesmo coisa de Brasil pátria
educadora e seus brasilinos.
*Jornalista
e escritor
Sensacional, Machado Filho! Até eu, que não me preocupo mais com carnaval (já gostei), vibrei muito com essa matéria.
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