ADEUS GABO!
“No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às
5h30m da manhã para esperar o navio em que chegava o bispo. Tinha sonhado que
atravessava um bosque de grandes figueiras onde caía uma chuva branda e, por um
instante foi feliz no sonho, mas ao acordar sentiu-se completamente salpicado
de cagada de pássaros. ‘Sempre sonhava com árvores’, disse-me sua mãe 27 anos
depois, evocando os pormenores daquela segunda-feira ingrata. ‘Na semana anterior
tinha sonhado que ia sozinho em um avião de papel aluminizado que voava sem
tropeçar entre as amendoeiras’, disse-me. Tinha uma reputação muito bem
merecida de intérprete certeira dos sonhos alheios, desde que fossem contados
em jejum, mas não percebera qualquer augúrio aziago nesses dois sonhos do
filho, nem nos outros sonhos com árvores que ele lhe contara nas manhãs que
precederam sua morte.”
Este é o primeiro parágrafo do primeiro livro do Gabriel
Garcia Márquez que li, em 1981. Foi a partir da 14ª edição de Crônica de Uma
Morte Anunciada, que comecei a penetrar no incrível mundo das histórias
contadas por Gabo, este colombiano fantástico que nasceu no dia 6 de março de 1927, em Aracataca, e morreu dia
17 de abril de 2014, no México.
E foi com este livro de Garcia Márquez, que comecei
a conhecer Macondo, “uma aldeia de vinte casas”, o Coronel Aureliano Buendía, de
Cem Anos de Solidão, “que promoveu trinta e duas revoluções armadas e perdeu
todas. Teve dezessete filhos varões de dezessete mulheres diferentes. Escapou
de quatorze atentados, setenta e três emboscadas e um pelotão de fuzilamento.
Chegou a ser comandante geral das forças revolucionárias (...) mas nunca
permitiu que lhe tirassem uma fotografia” e tantos outros personagens
inesquecíveis.
Li praticamente toda a obra de Gabriel García Marquez, e
acabei me inundando de encantamento ao me deparar com O Amor nos Tempos do
Cólera, aquele que o próprio Gabo considerava como seu verdadeiro livro.
Cem anos de solidão, Veneno da Madrugada, Olhos de cão
azul, Os funerais da Mamãe Grande, O Outono do Patriarca, Do Amor e Outros Demônios,
Memórias de Minhas Putas Tristes e tantos outros que, ao olhar para minha
biblioteca me fazem pensar no quanto os mais de trinta exemplares que tenho
guardam de histórias que somente o gênio de Gabo poderia contar.
Com os livros, fica a saudade e com as histórias, as
lágrimas que o mundo derrama pela morte de Gabriel Garcia Márquez. Com a rosa amarela que conservo sempre na minha mesa de trabalho, como ele fazia, fica a minha homenagem particular.
“Tropeçou no último degrau, mas se levantou
imediatamente. ‘Teve até o cuidado de sacudir com a mão a terra que ficou em
suas tripas’, disse-me tia Wene. Depois entrou em sua casa pela porta dos
fundos, que estava aberta desde as seis horas, e desabou de bruços na cozinha”
O trecho, na página 177, encerra a fantástica Crônica de
Uma Morte Anunciada, o primeiro livro de Gabriel Garcia Márquez que li.
Adeus Gabo!
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