O tempo da felicidade é
o sempre
André Machado*
Ex-parlamentares cassados que se entregam à polícia, a
iminente sucessão presidencial, greves, paralisações, calor infernal. Nem só da
aspereza do cotidiano vive o jornalismo. À margem do que chamamos hard news,
flutuam temas talvez desprovidos do mesmo grau de urgência, sem aquele apelo de
utilidade pública. Nem por isso, no entanto, são menos relevantes. E podem
provocar reflexões tão importantes quanto pensar sobre as causas e os
desdobramentos da greve nos ônibus de Porto Alegre. Por exemplo: é sempre tempo
de tentar buscar a felicidade.
Leio,
num jornal do Centro do País, o exemplo do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, o FHC. Aos 82 anos, ele decidiu ir a um cartório de São Paulo com sua
companheira e formalizar a união estável do casal. Há muito de perspectiva, de
simbólico, de esperança nesse gesto que não rende manchete. Ele poderia ter se
mantido à sombra da viuvez, apresentando-se em conferências e tecendo outro
volume de memórias. Afinal, lembranças não faltam a um homem que, entre tantas
outras coisas, foi um dos poucos a entrevistar o filósofo francês Jean-Paul
Sartre, de quem foi amigo ao viver na França.
Mas,
ao contrário do senso comum, Fernando Henrique deve ter entendido que o ato de
relembrar só acontece na sua plenitude quando acompanhado de um outro verbo,
mais simples, e que conhecemos desde sempre: viver. Simples assim.
E,
pelo exemplo e pela reflexão, me nasce uma certeza que, espero, irá me
acompanhar até os meus 82 anos. O tempo de ser feliz é hoje. E se não importa
quando, este tempo é o sempre.
Aproveite
o dia!
*Jornalista
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