quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Crônica

O tempo da felicidade é o sempre


André Machado*

Ex-parlamentares cassados que se entregam à polícia, a iminente sucessão presidencial, greves, paralisações, calor infernal. Nem só da aspereza do cotidiano vive o jornalismo. À margem do que chamamos hard news, flutuam temas talvez desprovidos do mesmo grau de urgência, sem aquele apelo de utilidade pública. Nem por isso, no entanto, são menos relevantes. E podem provocar reflexões tão importantes quanto pensar sobre as causas e os desdobramentos da greve nos ônibus de Porto Alegre. Por exemplo: é sempre tempo de tentar buscar a felicidade.
Leio, num jornal do Centro do País, o exemplo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o FHC. Aos 82 anos, ele decidiu ir a um cartório de São Paulo com sua companheira e formalizar a união estável do casal. Há muito de perspectiva, de simbólico, de esperança nesse gesto que não rende manchete. Ele poderia ter se mantido à sombra da viuvez, apresentando-se em conferências e tecendo outro volume de memórias. Afinal, lembranças não faltam a um homem que, entre tantas outras coisas, foi um dos poucos a entrevistar o filósofo francês Jean-Paul Sartre, de quem foi amigo ao viver na França.
Mas, ao contrário do senso comum, Fernando Henrique deve ter entendido que o ato de relembrar só acontece na sua plenitude quando acompanhado de um outro verbo, mais simples, e que conhecemos desde sempre: viver. Simples assim.
E, pelo exemplo e pela reflexão, me nasce uma certeza que, espero, irá me acompanhar até os meus 82 anos. O tempo de ser feliz é hoje. E se não importa quando, este tempo é o sempre.
Aproveite o dia!
*Jornalista

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