Chorando pelo ladrão
O pacote anticrime de
Sergio Moro foi aprovado na Câmara dos Deputados e o Brasil reagiu fazendo o
que melhor sabe fazer: chorar. Teve o choro de alegria triunfal dos parasitas,
delinquentes de boa aparência e ex-liberais com cara de nojo que saíram avisando
ao mundo que Sergio Moro “perdeu”. E teve o choro profissional dos que vivem de
alardear que a Lava Jato está morrendo. Enfim, foi uma choradeira.
Em seus cinco anos de
vida, a Lava Jato já morreu 58 vezes e meia, o que dá mais de 10 mortes por ano
– sempre nos braços comovidos dos que dizem amá-la. É muito sofrimento. Essas
viúvas justiceiras, que estão aí fazendo coro com a bandidagem e dizendo que
Sergio Moro “perdeu”, passaram o ano de 2019 avisando dia sim e outro também
que o mesmo Moro ia pular fora do governo, ia abortar a missão de ministro da
Justiça porque estava isolado, desgastado, indisposto, traído, decepcionado,
deprimido, demissionário e talvez à beira do suicídio.
Eles não erram nunca.
O dramalhão está
comovente, mas vamos dar uma segurada no vale de lágrimas com uma notícia não
tão emocionante, e um pouco desagradável: Sergio Moro venceu. O pacote
anticrime é o início de uma ampla reforma legislativa para combater o crime de
forma mais eficaz – e a largada foi dada. Como já dito, as cassandras previam
que Moro nem se sustentaria no cargo, muito menos proporia avanços na lei, e se
por um acaso remoto chegasse a esse ponto seria devidamente neutralizado e
engolido pelas raposas do Congresso, etc. Sabem tudo.
De fato os Maias, Alcolumbres
e parasitas associados tentaram de tudo para fritar Sergio Moro – e as viúvas
lamuriantes bailavam entre manchetes encomendadas noticiando o derretimento do
ex-juiz. Nenhum desses – nem os sabotadores, nem os que se dizem a favor – sabe
de quem estão falando. Moro é hoje o maior símbolo da lei no país, da justiça
para todos, e o seu senso de estratégia para usar essa imensa força política
torna todos os demais citados crianças de escola.
Ele sabia perfeitamente
que o pacote iria levar mordidas e tabefes. E que isso seria só o começo da
guerra. Na cabeça dos vendedores de angústia e fracasso, Moro iria aterrissar
no parlamento com uma varinha de condão e moralizar tudo num fim de semana. Se
não for assim, não serve – o mal venceu, o governo fez acordo com os corruptos
(o fetiche máximo das cassandras) e o herói da Lava Jato foi amaciado. Eles não
têm ideia do que foi (e é) a Operação Lava Jato.
A quantidade de rasteiras
que atingiram a força tarefa antes dela se tornar a operação de justiça mais
vitoriosa da história levaria essa gente que chora ao desespero. Jamais serão
capazes de entender que a cada embate – seja qual for seu resultado imediato –
Sergio Moro e sua missão só se fortalecem, sujeitando os parasitas ao seu jogo
e multiplicando seu capital político com o engajamento cada vez maior da
população. Ah, mas não aprovou a prisão em segunda instância... Ah, mas
desidrataram o pacote...
Desidratado está o
discernimento dessas pessoas que dizem apoiar a missão de Moro (o resto está só
mentindo, como sempre). Sim, o pacote aprovado tem avanços valiosos, como o fim
da progressão de regime para líderes de organizações criminosas, entre outros –
mas tudo é muito pouco para os arautos da facilidade. A prisão preventiva está
dificultada? Que esteja entre os pontos para se brigar no Senado – mas um
mandado bem fundamentado continua suficiente para prender preventivamente. E
para quem ficar obcecado com as brechas propícias à má fé, o melhor é nem sair
de casa.
Vale um lembrete para o
coral da lamúria: quando o STF liberou a prisão em segunda instância, a Lava
Jato já tinha estourado a quadrilha do PT. Como pode? Eles não podiam prender
após condenação em segunda instância? Eles não tinham o pacote anticrime
intacto e embrulhado em papel de cetim dourado?
Não. O que eles tinham por
todos os lados era essa mesma fracassomania de agora, que adora anunciar a
derrota do mocinho e a vitória do bandido (isso ajuda à beça, vocês não têm
noção) e que disse até o último instante que Sergio Moro não ia prender Lula, porque...
Sei lá, porque cornetar é de graça e tem uns trouxas que aplaudem.
O que aconteceu você sabe.
E é o mesmo que está acontecendo agora. Enquanto os chorões choram, Moro
coordena a redução de todos os índices de criminalidade no país e avança com seu
arrastão legalista – em sintonia com a Lava Jato que anuncia mais de 4 bilhões
de reais já recuperados dos quadrilheiros. Economizem as lágrimas porque está
só começando.
Guilherme Fiuza
Sinal dos tempos
Começou dezembro.
Começou o fim do ano. E vai terminando o primeiro ano do novo governo. O que
fica?
Taxa básica de juros a
mais baixa da história da Selic. Inflação abaixo da meta. Contas externas
equilibradas. Recuperação da maior recessão da história. Ainda endividamento
público altíssimo, por causa de um estado gordíssimo. Reforma da Previdência
feita, mas reformas tributária e administrativa ainda por fazer. Pacote
anticrime e prisão em segunda instância ainda por fazer, deixando a impunidade
como presente de Natal para assaltantes, corruptos e bandidos em geral.
As iniciativas do
presidente, promessas de campanha, ainda esbarram na lentidão do Legislativo,
preso a uma cultura que demora a se atualizar. Mas a cultura de um novo
Brasil já derrubou os homicídios pelo empoderamento das leis e da polícia.
Ninguém mais meteu a mão na Petrobrás, ou dos fundos dos Correios, ou no Banco
do Brasil e na Caixa Econômica. Não precisa de aval do líder do PT para fechar
negócio com a Petrobras.
O BNDES voltou a ser banco
nacional e não internacional para financiamento de ditaduras amigas. Estradas
intermináveis por aditamentos contratuais agora são concluídas pelos batalhões
de engenharia do Exército e atoladouros foram convertidos de asfalto bem
construído. A divisão de poderes, característica da democracia, retornou ao
sonho de Montesquieu: o Executivo não se mete no Judiciário nem no Legislativo
e os respeita. Mas quem manda em ministério é o chefe do Executivo e não os
chefes de partidos políticos.
A política externa se move
pelo pragmatismo, entre Estados Unidos e China, entre árabes e israelenses,
entre Mercosul e União Europeia. O interesse é o do Brasil, não de ideologia
velha e fracassada, como a que inventava o Mais Médicos para financiar a
ditadura sessentona. Embaixadas deixam de ser diretórios partidários, como a
que abrigou Zelaya em Honduras.
Não se compram jornais,
como quando estourou o mensalão e se pretendia alugar a omissão ao custo de um
punhado de publicidade com os impostos de todos. Não se conseguiu ainda deixar
escolas sem partido, universidades federais sem a velha ideologia falida – esse
será um resgate demorado, num deserto de ideias, inçado por raízes de maus
frutos.
Governo conservador nos
costumes e liberal na economia. Fórmula de fortalecimento moral de um país que
aspira a ordem que leva ao progresso. De outro, a liberdade econômica, que gera
pesquisa, trabalho, tecnologia, produtividade e distribuição da renda pela mão
invisível do mercado.
Também foi um ano de choro
e ranger de dentes dos derrotados, que vivem de disse-me-disse, como candinhas
lavadeiras. A militância agarra-se a novas matrizes, inventadas pela orfandade
da esquerda americana, depois do fim da mãe Kremlin. Seus porta-vozes agitam
bandeiras exóticas que empalidecem, divorciadas dos brasileiros que já não
aguentam tanto engodo. Tudo isso pode ser sinal do fim de décadas de desmonte
de valores nacionais, familiares e pessoais. E prenúncio da alvorada de novos
tempos.
Alexandre Garcia