Partidos usam o Coaf para
vingança contra a Lava-Jato
O país convive com 13,4
milhões de desempregados nas ruas e está à beira do abismo fiscal, mas os
chefes de alguns partidos políticos consideram ser mais importante desperdiçar
tempo e energia em atos de retaliação à Operação Lava-Jato. Estabeleceram
prioridade na pauta legislativa à remoção do Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça, impondo o seu retorno à estrutura
do Ministério da Economia.
Só há uma justificativa
lógica, plausível, para tal esforço multipartidário que se desenvolve há três
meses entre algumas lideranças partidárias no Congresso: enviar uma mensagem
política de vingança ao ex-juiz Sergio Moro, ministro da Justiça, e a todos os
agentes responsáveis pelas investigações que encerraram um ciclo de crimes na
política.
A ansiedade por uma
vindita contra a Lava-Jato produziu exóticas alianças entre partidos
autoproclamados de esquerda, como PT, PSOL e PCdoB, com um bloco da chamada centro
direita, composto pelo Progressista (antigo PP), PR, MDB, PSDB e o DEM. Por
coincidência, essas mesmas organizações foram abaladas pelas investigações, e
alguns dos seus líderes se destacam na lista de réus por corrupção, lavagem de
dinheiro e formação de quadrilha.
O PT e seus satélites PSOL
e PCdoB se mantêm inconformados com a exposição do legado de desvios deixado
pelos governos em que foram sócios. Para os petistas, por exemplo, não importa
que o ex-presidente Lula ou o ex-ministro José Dirceu tenham sido investigados,
denunciados, condenados e presos com base em provas validadas em três
instâncias da Justiça. Se pertencem ao PT, têm imunidade — segundo a maneira
particular de raciocinar do petismo e das organizações que dele dependem.
Até o mês passado, a
Lava-Jato havia produzido 285 condenações, com sentenças que somavam mais de 3
mil anos de prisão. O número de réus ultrapassou 600, e os valores ressarcidos
ao Estado superaram R$ 13 bilhões. Os resultados nesses cinco anos traduzem de
forma cristalina a mensagem de mudança, reafirmada nas urnas por uma sociedade
enfadada com o predomínio de práticas viciadas na vida política nacional.
Usar a pauta legislativa
para vinganças contra o Judiciário é absurdo. É, também, um contrassenso,
porque boa parte do acervo de provas determinantes das condenações na Lava-Jato
teve origem em colaborações premiadas dos próprios líderes políticos
envolvidos, réus confessos do PT, Progressista, PR, MDB, PSDB e o DEM, entre
outros partidos.
O tempo que já se gastou
nesse falso debate sobre a retirada do Coaf do Ministério da Justiça representa
o mais puro desperdício de energia num país aflito com a deterioração das
condições sociais e econômicas. A retomada do desenvolvimento deveria ser
prioridade absoluta das lideranças do Congresso.
O Globo
Editorial – 20/05/2019
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