Como Toffoli ganhou o apelido ‘amigo do amigo de meu pai’
Foto: Gazeta/Reprodução |
A mensagem em que Marcelo
Odebrecht chama o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), de "amigo do amigo de meu pai" foi escrita em julho de 2007 e
faz referência a uma das obras "campeãs" em propina na Operação Lava
Jato: a usina de Santo Antônio, com mais de R$ 100 milhões em suborno, segundo
delatores da Odebrecht e Andrade Gutierrez.
No e-mail, Marcelo faz a
seguinte pergunta a dois executivos da Odebrecht: "Afinal vocês fecharam
com o amigo do amigo do meu pai?". Adriano Maia, que foi diretor jurídico
da Odebrecht e cuidava dos contatos com o Judiciário, respondeu à pergunta de
Marcelo: "Em curso".
O amigo do pai de Marcelo,
Emilio Odebrecht, era Lula, segundo a delação da empreiteira. Toffoli, diz
Marcelo, então chefe da Advocacia Geral da União (AGU) do governo Lula e
ex-assessor petista, era o amigo de Lula nesse jogo de apelidos cifrados.
O presidente do Supremo
nega que tenha qualquer relação com a Odebrecht. Questionado agora pela PF
sobre qual seria a questão tratada pela Odebrecht com Toffoli, Marcelo apontou
o dedo para o ex-diretor jurídico e disse que só Adriano Maia poderia
esclarecer a dúvida.
Foi por causa desse
depoimento que o ministro Alexandre de Moraes determinou a censura ao site O
Antagonista e à revista Crusoé, que revelaram o apelido atribuído pela
Odebrecht a Toffoli.
Toffoli comandou ofensiva
para livrar obra de contestações judiciais
À época da mensagem,
Toffoli era o titular da Advocacia Geral da União (AGU) e comandava uma
força-tarefa para contestar ações judiciais que tentavam barrar a construção da
hidrelétrica do rio Madeira. Ambientalistas e defensores das populações
indígenas eram contra a obra porque ela traria danos ao meio ambiente e às
etnias de Rondônia que dependiam do rio.
Santo Antônio marcou a
estreia da Odebrecht no mercado de energia, e Marcelo tinha uma estratégia
agressiva: queria fazer as duas usinas planejadas para o Rio Madeira, a de
Santo Antônio e Jirau, separadas por pouco mais de 100 km. O ganho de
produtividade com a proximidade das duas obras era óbvio.
A Odebrecht levou Santo
Antônio, mas perdeu Jirau por causa da atuação de Dilma Rousseff, ex-ministra
de Minas e Energia e à época chefe da Casa Civil de Lula, segundo acusação
feita por Emilio Odebrecht em seu acordo de delação.
Emilio disse que a empresa
vencedora do leilão de Jirau, a Tractebel, não respeitou o edital: "A
Tractebel entrou em Jirau contra a gente, mas feriu o edital: colocou a
barragem a 10 km ou 15 km [do local ideal]. Ela infringiu o edital mas (...)
teve apoio da Dilma pleno".
Dilma negou enfaticamente
ter beneficiado qualquer consórcio nas usinas do Rio Madeira. Emílio disse que
reclamou do comportamento de Dilma para Lula, mas o ex-presidente não fez nada.
Emilio conta que a Odebrecht preferiu manter boas relações com Dilma por
vislumbrar que ela poderia tornar-se presidente.
A Odebrecht já tinha um
problema anterior com Dilma. Marcelo pedira a ela para vetar que o consórcio de
seu concorrente em Jirau tivesse a participação de empresas públicas de
energia. Dilma não aceitou o pedido, e o consórcio foi formado por um gigante
mundial de energia (a francesa Suez), Camargo Corrêa, Chesf (Centrais
Hidrelétricas do rio São Francisco) e Eletrosul – as duas últimas são empresas
públicas.
Propina teria beneficiado
políticos de vários partidos
Os relatos dos delatores
da Odebrecht e Andrade Gutierrez apontam que a propina da usina Santo Antônio
envolveu um arco de partidos que vai do PT ao PSDB, do PMDB ao PP, e até
sindicalistas da CUT e da Força Sindical – que, segundo eles, foram subornados
para não fazer greve.
Aécio Neves (PSDB),
governador de Minas à época, foi acusado por delatores de ter recebido R$ 20
milhões da Andrade Gutierrez para colocar a Cemig (estatal mineira de energia)
e Furnas (estatal federal que estava sob a esfera de Aécio) no consórcio que
construiu a Usina Santo Antônio. A Odebrecht diz ter disponibilizado R$ 50
milhões para Aécio fora do Brasil.
O ex-deputado Eduardo
Cunha (PMDB) levou R$ 20 milhões, segundo delatores da Odebrecht. O petista
Arlindo Chinaglia, que presidia a Câmara dos Deputados, ficou com R$ 10
milhões, de acordo com eles.
O senador Edison Lobão
(PMDB), que sucedeu Dilma no Ministério das Minas e Energia em 2008, recebeu R$
5,5 milhões para tentar anular o leilão de Jirau, ainda segundo os delatores da
Odebrecht. O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) teria recebido repasses ilícitos
que chegam a R$ 20 milhões, segundo outro delator da Odebrecht.
Com Gazeta do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário