Por que mais mulheres
declararam voto em Bolsonaro?
As pesquisas de intenção
de voto divulgadas entre segunda-feira (1º) e terça-feira (2), após as
manifestações do fim de semana contra e a favor do candidato Jair Bolsonaro,
mostraram um aumento nas intenções de voto no presidenciável do PSL.
Principalmente entre as mulheres.
No Ibope divulgado na
segunda, Bolsonaro ganhou seis pontos percentuais entre as eleitoras (de 18%
para 24%). Já no Datafolha desta terça, foram mais seis pontos (de 21% para
27%) entre o público feminino. O crescimento surpreende: as passeatas pelo
Brasil sob o mote “#EleNão” teriam sido um tiro pela culatra?
Em certa medida, analistas
políticos argumentam que sim. Os movimentos, apesar de contarem com grande
número de pessoas, não ajudaram a alterar o voto bolsonarista. Também pesou
contra essas manifestações a percepção de que estariam ligadas à esquerda e aos
candidatos de polo oposto ao de Bolsonaro, o que pode até ajudar na decisão de
grupos anti-esquerda e anti-PT a fecharem com o candidato do PSL nesta reta
final do primeiro turno eleitoral.
“São pessoas que estão
descontentes com o politicamente correto. Não são pessoas que gostam ou
desgostam do Bolsonaro por causa de sua posição sobre a mulher. Para esse
grupo, a política sobre a mulher não é o mais importante. O que importa é o
combate à corrupção, violência. A cada vez que ele explica sua posição sobre
mulheres e minorias, ele até ganha mais voto”, avalia Márcio Coimbra,
estrategista político no Senado Federal.
O movimento “#EleNão” fala
apenas com quem já está contra Bolsonaro e não atinge outros segmentos sociais,
inclusive parte das mulheres. Levantamento realizado pelo Grupo de Pesquisa em
Políticas Públicas para o Acesso à Informação da Universidade de São Paulo
(USP), durante a manifestação contra Bolsonaro realizada na capital paulista,
no sábado (29), mostra um perfil muito bem definido dos manifestantes do
“#EleNão”. A maioria é de esquerda, branca e de alta renda.
Dos 470 manifestantes
entrevistados na passeata “#EleNão” em São Paulo, 80% se identificaram como de
esquerda e 8% como de centro/esquerda. Apenas 1% afirmou ser de direita. 75%
afirmaram não serem anti-petistas.
Quanto aos partidos
políticos com mais apoio entre os manifestantes, 30% disseram considerar o PT
seu partido de preferência e 34% se declararam simpatizantes do PSOL. Também
foram apontados como preferidos pelos manifestantes os partidos PDT (3%), Rede
(2%), PCdoB (1%) e Novo (1%). Sobre a renda, 57% responderam ter renda familiar
de cinco a dez salários mínimos; e 26% disseram ganhar mais de dez salários
mínimos.
Esse perfil dos
manifestantes pode ter efeito contrário ao desejado. Ao ser um movimento
percebido por alguns eleitores como “de esquerda”, a passeata do “#EleNão”
ainda pode ajudar alguns indecisos que se consideram anti-petismo e
anti-esquerda a migrarem o voto para Bolsonaro.
“Quanto mais tiver
“#EleNão”e quanto mais o Haddad subir, mais o Bolsonaro pode ganhar no primeiro
turno. Se o pessoal do “#EleNão ficasse quietinho, não mostrariam uma força tão
grande para o Haddad. E o “EleNão” acaba sendo um voto Haddad”, avalia Coimbra.
“O movimento mostra que o Haddad tem força, faz com que o voto de centro se
desloque para o Bolsonaro”, afirmou o estrategista Márcio Coimbra.
Para Eladio Oduber,
sociólogo e professor do IESB, a adesão das mulheres a essas passeatas é
justificada por ainda predominarem comportamentos machistas na sociedade. “A
mulher pertence a um grupo social que vive em estresse. E, de vez em quando,
elas veem que têm uma possibilidade de protestar, de dizer ‘chega’”.
Oduber avalia, porém, que
as manifestações tanto a favor como contra Bolsonaro têm pouca capacidade de
alterar o resultado das urnas. “Eu acho que em um nível intangível que as
coisas estão, essas manifestações não impactam. Impactam talvez em grupos que estejam
em cima do muro, entre pessoas que buscam uma identidade, de tentar querer
pertencer. Quando as pessoas se veem acompanhadas nas suas visões, elas ficam
com coragem de se manifestar. Essas manifestações que o grupo do Bolsonaro fala
publicamente sempre existiram no Brasil. Mas eram atenuadas. As pessoas sempre
tiveram muita vergonha de expressar o machismo, a homofobia. Mas, na vida
privada, esses comportamentos sempre existiram”, afirmou o professor.
Coimbra também vê
resultado similar ao apontado pelo professor, com as manifestações. “As
manifestações simplesmente estão falando para o próprio público. É um tiro
n’água. Você não ganha eleitor, não perde, mas reforça mensagem”, disse.
Sobre o discurso, o
professor de Sociologia avalia que as decisões políticas dos eleitores no
Brasil acabaram restritas ao campo afetivo, com questões como o medo
direcionando as decisões. “A radicalização do debate no Brasil passa pela parte
afetiva. Se tem muito medo. Estamos vivendo numa sociedade de desconfiança. A
Lava Jato colocou essa radiografia, confirmou as desconfianças que a gente
tinha, dos políticos, tudo ficou muito claro”, disse Oduber.
Pesquisas corrigindo a rota
Apesar do resultado do
Ibope, que apontou aumento da intenção de voto em Bolsonaro entre as mulheres
após as passeatas, Márcio Coimbra argumenta que esse fato pode estar dissociado
das manifestações. Seria uma correção de rota nas pesquisas, na reta final do
primeiro turno.
“Acho que não tem nada a
ver com as manifestações do final de semana. Se olharmos as pesquisas de
mercado, já tínhamos a situação que o Ibope está apontando agora. O que o Ibope
está fazendo é o ajuste dos seus números, para cima, para chegar mais perto da
realidade. Bolsonaro não cresceu este final de semana. A rejeição a Fernando
Haddad e Bolsonaro é a mesma já há algum tempo. Eles já tinham essa mesma
rejeição há algumas semanas”, afirma Coimbra.
O crescimento de intenções
de voto em Bolsonaro também ajuda a fomentar as teorias de que os institutos de
pesquisa não seguem metodologias acuradas. Um aliado de Bolsonaro afirmou à
Gazeta do Povo, sob condição de anonimato, que o resultado da pesquisa Ibope
mostrou que os institutos estão “ajustando em direção à realidade” o resultado
de suas pesquisas, para evitar erro maior quando se comparar com o resultado
das urnas.
Gazeta do Povo (PR)