O presidente Michel Temer
fechará o mandato, quase certamente, com a inflação bem-comportada. Será um
presente de boas-vindas para o novo governo. Com alta de apenas 0,19%, o
IPCA-15 de novembro reforçou a expectativa de um fim de ano melhor para as
famílias. A pesquisa foi realizada entre os dias 12 de outubro e 12 deste mês.
Esse levantamento é usado como prévia do Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), publicado regularmente na primeira semana de cada mês.
Se as pressões inflacionárias continuarem moderadas, o futuro presidente e sua
equipe encontrarão um cenário de preços muito favorável sob mais de um aspecto.
Se esse quadro se
confirmar, os consumidores terão espaço razoável no orçamento para continuar
indo às compras e gerando, portanto, uma preciosa demanda para movimentar a
produção. O Banco Central (BC) poderá manter os juros básicos no atual patamar
– de 6,50% ao ano – ainda por algum tempo, favorecendo o crédito e a
movimentação dos negócios. Maior atividade permitirá aumento da arrecadação de
impostos, contribuições e taxas, facilitando a execução orçamentária no
primeiro ano do novo mandato.
Além disso, poder iniciar
o governo sem ser assombrado por um quadro inflacionário ruim já será uma
bênção para o novo presidente. Quem conhece um pouco de história do Brasil pode
avaliar facilmente o significado dessa bênção.
Em outubro o IPCA-15 havia
batido em 0,58%. A nova taxa, de 0,19%, foi a menor para um mês de novembro
desde 2003, quando ficou em 0,17%. Com o recuo mensal, a variação acumulada no
ano ficou em 4,03%. Em 12 meses a taxa passou de 4,53% para 4,39% e ficou
novamente pouco abaixo da meta anual de 4,5%.
Para o ano, a mediana das
estimativas do mercado caiu de 4,23% para 4,13% na última pesquisa do BC com
economistas do setor financeiro e de consultorias. Para os próximos anos as
medianas indicam 4,20% em 2019, 4% em 2020 e 3,90% em 2021. Para os três anos
as projeções apontam juros básicos de 8%. A realidade poderá ser um pouco
melhor, se os atuais 6,50% forem mantidos ainda por alguns meses no começo do
próximo governo.
O Copom, Comitê de
Política Monetária do BC, ainda tem uma reunião prevista para 2018, em
dezembro. Não se espera, no mercado, mudança da taxa básica. Ao contrário: a
tendência da autoridade tem sido relaxar a política de crédito.
A última providência,
anunciada na quinta-feira, foi um novo conjunto de simplificações dos depósitos
compulsórios mantidos pelo sistema financeiro no BC. Além de simplificar as
normas, o pacote abriu condições para a liberação de R$ 2,7 bilhões em
operações de crédito neste fim de ano – mais uma ajuda à recuperação de uma
economia ainda em marcha muito lenta.
Se os padrões do Copom
forem mantidos pela nova diretoria do BC, as decisões sobre juros continuarão a
depender das avaliações do quadro internacional, da análise das condições
atuais da economia nacional e de suas perspectivas e da execução – realizada e
esperada – do programa de ajustes e reformas das contas públicas.
Não só os técnicos e
dirigentes do BC, é importante notar, acompanharão todos os componentes desse
quadro.
Os agentes do mercado
financeiro e os empresários também estarão atentos e reagirão segundo a
evolução das expectativas. Assim, afetarão juros, cotações de ativos de todos
os tipos e os preços em todas as fases da produção e da comercialização, desde
as primeiras até as vendas no varejo.
Inflação contida e juros
moderados dependerão, portanto, da competência técnica e política do presidente
e de sua equipe no enfrentamento do primeiro desafio, o da arrumação das finanças
oficiais. Dessas qualidades vão depender a reforma da Previdência, as mudanças
necessárias no Orçamento, o maior dinamismo da administração pública e a
mobilização de recursos para os gastos de valor estratégico.
Se falhar, o governo
desperdiçará o legado da inflação moderada, dos juros baixos e da incompleta,
mas muito importante, pauta reformista cumprida pelo governo do presidente
Temer.
Portal Estadão
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