O aumento dos salários dos
ministros do Supremo foi a primeira derrota imposta pelo Senado ao governo Jair
Bolsonaro, antes mesmo da posse, mas o tiro saiu pela culatra. O aumento atiçou
a irritação popular contra o Congresso e os partidos. Bolsonaro ficou do “lado
certo”, os políticos, do “lado errado”.
Dinheiro para saúde,
educação, saneamento, cultura e infraestrutura não há, mas para marajá do
serviço público nunca falta. E o aumento do Supremo tem um efeito cascata que
inunda todos os poderes e unidades da federação, com impacto danoso num déficit
já pavoroso e no estado fiscal lamentável dos estados.
Derrota de Bolsonaro? Ou
derrota do Brasil, do contribuinte, dos investimentos, da responsabilidade
fiscal, do Congresso? O presidente Michel Temer, que poderia corrigir o erro,
não pode nem o fará, porque já vinha negociando o aumento há meses com o
presidente do STF, Dias Toffoli.
O Congresso insiste em não
ver, ouvir, sentir e entender nada, mesmo após a vitória de Bolsonaro e a
derrota de incontáveis políticos tradicionais, particularmente senadores,
alguns deles até muito sérios, porque “os justos pagam pelos pecadores”.
Enquanto a imagem do
Congresso continua afundando, Bolsonaro vai surpreendendo para melhor. As
ameaças e manifestações fora do tom, tão chocantes na campanha, vêm sendo
trocadas por reverência à Constituição, respeito às instituições – até ao
presidente Michel Temer –, e uma relação civilizada com a imprensa.
Após a ameaça a um jornal
e a exclusão da imprensa escrita da primeira coletiva, ambas decisões
inadmissíveis, ele vem cedendo à realidade de que a mídia incomoda, mas é parte
fundamental da democracia. Deu entrevistas às TVs e responde a perguntas
improvisadas pelos repórteres. Seus homens fortes têm dado declarações e
coletivas sobre suas intenções: o general Augusto Heleno, o economista Paulo
Guedes, o juiz Sérgio Moro. Só o vice Hamilton Mourão anda calado.
Aliás, os novos ministros
são a outra surpresa positiva. Gostem-se ou não deles e esgoele-se ou não a
oposição, o fato é que a opinião pública e o mercado receberam bem os já
citados, particularmente Moro, assim como o militar e astronauta Marcos Pontes
para Ciência e Tecnologia e, agora, a deputada, agrônoma e ruralista Tereza
Cristina, aplaudida no próprio Congresso.
Ex-líder do PSB, ela mudou
para o DEM por votar no impeachment de Dilma Rousseff e, se vira ministra por
indicação da Frente Parlamentar do Agronegócio, é um trunfo por ser a primeira
mulher no primeiro escalão e tem um plus: o DEM tende a ser uma mão na roda
para Bolsonaro, porque os dois são complementares. O partido do presidente
eleito, o PSL, deu um salto, virou a segunda bancada na Câmara e, logo, roubará
o primeiro lugar do PT. Mas quantidade nem sempre é qualidade nem garante
resultados.
O PSL é um amontoado de
caras novas, que mal se conhecem entre elas e têm pouca ou nenhuma experiência
de Congresso. Já o DEM é muito experiente, disciplinado, passou por uma
renovação que alavancou líderes mais novos e modernos. E o partido tem muita identidade
com a pauta liberal de Bolsonaro, ou melhor, de Paulo Guedes.
Bolsonaro quer um
diplomata de carreira no Itamaraty (logo, please!) e pode levar militares para
duas áreas que eles consideram pontos fortes do regime de 1964: Infraestrutura
e, não se assuste, Educação.
Por último, Heleno vai
para o Planalto. Na Defesa, ficaria voltado para as Forças Armadas. No GSI,
órgão de inteligência, terá acesso direto ao presidente e às principais
informações e segredos do País. Ele já tem natural influência sobre Bolsonaro e
informação é poder. Logo, é forte candidato a eminência parda.
Portal Estadão
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