sexta-feira, 14 de setembro de 2018

➤José Fucs

Como Haddad, Ciro é Dilma


O presidenciável Ciro Gomes, do PDT, disse outro dia, referindo-se a Fernando Haddad, que “o País não aguenta outra Dilma”. Mas, a rigor, o próprio Ciro poderia dizer, parafraseando a célebre frase do rei Luís XIV, da França, “a Dilma sou eu”. Não apenas por afirmar, como Dilma, Haddad e a tropa de choque do PT e seus aliados, que o impeachment foi “golpe”, que Lula não deveria estar na cadeia e que a Lava Jato é uma aberração produzida à margem da Constituição.

A julgar por muitas de suas propostas para o Brasil, em especial no campo econômico, não dá para dizer com clareza as diferenças entre as ideias de Ciro e as de Haddad e Dilma. Exceto por filigranas, relacionadas principalmente com o déficit da Previdência, o que Ciro propõe é um reempacotamento da chamada “nova matriz econômica”, adotada por Dilma, que levou o País à maior recessão da história e deixou 13 milhões de desempregados como saldo. Não por acaso, até poucos dias atrás, Ciro corria atrás do apoio petista à sua candidatura. 

Se analisarmos com frieza as propostas de Ciro para a economia, saltam aos olhos as semelhanças com a tal  da “nova matriz econômica” praticada por Dilma e defendida por Haddad, caracterizada pela  expansão fiscal, por meio de desonerações seletivas e do crédito de bancos públicos a juros subsidiados, e pelo controle artificial das taxas de câmbio e juros pelo governo.

A bem da verdade, deve-se dizer que as propostas de Ciro não se limitam ao resgate da “nova (velha) matriz”, que minou, com as “pedaladas” fiscais, a credibilidade de Dilma. Em termos de intervencionismo na economia, Ciro consegue ir além. Não é à toa que, quando ele sobe nas pesquisas, assim como Haddad, o dólar vai às nuvens e a Bolsa despenca. É só conferir o que ele propõe ao País, para entender a reação negativa de investidores e empresários.

As propostas de Ciro para a economia, que pouco tocam na questão do aumento de produtividade, hoje o principal gargalo do País, escancaram suas ideias intervencionistas e não deixam dúvidas sobre suas semelhanças com a política econômica de Dilma, encampada, sem o devido crédito, por Haddad. Confira a seguir as principais ideias já defendidas por Ciro nesta campanha eleitoral:

-Projeto nacional-desenvolvimentista, com foco na proteção ao setor produtivo nacional;
-Política industrial com estímulo oficial à indústria nacional, com crédito subsidiado pelo BNDES;
-Nacionalismo econômico, com restrições à venda de empresas como Embraer e Eletrobras ao capital estrangeiro e à participação de investidores externos em setores como petróleo e águas;
-Restrição à privatização de estatais como Eletrobras e Petrobrás;
-Reversão da privatização da Eletrobras caso seja efetivada até o final do governo Temer;
-Reversão de concessões feitas a estrangeiros pela Petrobras no atual governo;
-Financiamento de obras de infraestrutura com recursos subsidiados com dinheiro público;
-Reversão da reforma trabalhista.


Além de defender medidas protecionistas para o setor produtivo, Ciro propõe uma série de medidas na área das finanças públicas que se assemelham às adotadas por Dilma e apoiadas por Haddad. Veja quais as principais a seguir:

-Fim do tripé macroeconômico, baseado na equilíbrio fiscal, nas metas para a inflação e na taxa de câmbio flutuante;
-Duplo mandato para o Banco Central, submetendo o controle da inflação à busca do pleno emprego;
-Revogação da Emenda Constitucional nº 95, que estabeleceu o teto de gastos;
– Definição de um um teto para a dívida pública e incorporação de parte dos juros ao principal;
-Uso das reservas cambiais para reduzir a dívida pública;
-Interferência do governo na definição dos juros pelo Banco Central;
-Aumento de impostos, com volta da CPMF, para cobrir o déficit público;
-Desvalorização cambial artificial, para proteção da produção nacional e redução de importações;
-Redução do salário real por meio da desvalorização da moeda, para tentar alavancar investimentos e aumentar competitividade;
-Crédito subsidiado dos bancos públicos ao consumo, para viabilizar o SPCiro, que pretende limpar o nome dos maus pagadores;
-Revogação da taxa de longo prazo (TLP), que deverá igualar os juros cobrados pelo BNDES aos juros de mercado, e volta da TJLP, vinculada à meta de inflação.

Portal Estadão

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