Nenhum candidato diz isso
claramente, mas a posse do ministro Antonio Dias Toffoli na presidência do
Supremo Tribunal Federal reforça um discurso crescente na campanha eleitoral: o
de que a eleição do petista Fernando Haddad seria a porta aberta para a volta
ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva.
Os dois movimentos,
Toffoli no STF e o crescimento de Haddad nas pesquisas (8% pelo Ibope),
convergem na mesma direção: a desconfiança de que Lula será solto de alguma
forma em 2019.
A intenção de Toffoli é
pôr em pauta no plenário, logo no início do ano, a prisão após condenação em
segunda instância. A antecessora Cármen Lúcia encerrou seu mandato cumprindo a
promessa de não fazê-lo. Toffoli o fará. Como a última decisão sobre a questão
foi por um único voto, não é impossível mudar.
E Haddad presidente seria
não apenas Lula dando as cartas, como a possibilidade real de soltar Lula por
indulto. Aliás, ele ou Ciro Gomes (PDT), que já admitiu publicamente a
hipótese durante a campanha.
Há, porém, outros aspectos
a serem considerados nos dois casos. Um deles é que, não raro, as pessoas se
superam ao assumir imensos desafios e prezam, antes de seus compromissos
políticos ou partidários, o seu próprio nome e a sua imagem para a história.
Toffoli, 50 anos, é o mais
novo presidente da história do Supremo. Sua nomeação por Lula como ministro da
Corte causou surpresa, perplexidade e crítica, não só pela idade, mas porque
ele fora reprovado em duas provas para juiz, não era um nome brilhante no meio
jurídico e tinha como credenciais ter sido advogado do PT, assessor da Casa
Civil de José Dirceu e advogado-geral da União de Lula.
Toffoli, porém, de bobo
não tem nada. Ao assumir a cadeira, informou-se, aproximou-se dos colegas,
ganhou passe livre no gabinete de Gilmar Mendes, nomeado por FHC, identificado
com o PSDB e considerado, goste-se ou não dele, um dos mais preparados e
técnicos ministros do Supremo.
Foi assim também, na busca
de reconhecimento e de negociação com os extremos, que Toffoli saiu do seu
gabinete no STF, cruzou o Eixo Monumental e foi até o Quartel General do
Exército conversar com o comandante, general Eduardo Villas Bôas.
Saiu dali com o nome do
respeitado general Fernando de Azevedo e Silva para sua assessoria especial na
presidência.
Gesto inteligente,
sobretudo num momento em que o comandante do Exército alerta para a
legitimidade do próximo presidente da República, o candidato líder nas
pesquisas é um capitão reformado e seu vice é um general de quatro-estrelas que
acaba de deixar a ativa. Sem maldade, apenas como constatação, Toffoli atraiu o
“inimigo” para bem perto dele. E tem um canal direto com as Forças
Armadas.
Quanto a Haddad: ele
assumiu simultaneamente a candidatura pelo PT e uma vaga no “segundo pelotão”,
aquele que disputa chegar ao segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSL). E,
assim, passa a ser alvo natural de todos os demais concorrentes, Ciro Gomes,
Geraldo Alckmin, Marina Silva.
A diferença é que Ciro
disputa o espaço de esquerda diretamente com Haddad e não pode bater em Lula,
para não afugentar votos principalmente do Nordeste, onde já lidera com 18%.
Marina bate na polaridade PT x PSDB e Alckmin não tem restrições, está livre
para bater. No seu discurso, Bolsonaro é “passaporte para a volta do PT” e
Haddad, para a volta de Lula.
Logo, os três procuram uma
brecha ao centro para furar o embate Bolsonaro-Haddad, que caracteriza a chegada
da direita radical ou a volta do PT, Lula e Dilma. Em suma, Ciro, Alckmin e
Marina são os candidatos do mesmo partido, o “voto útil”.
Portal Estadão
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