Com a impugnação da
candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, o PT não terá outra saída a não ser
substituir o quanto antes o ex-presidente pelo ex-prefeito Fernando Haddad, há
tempos o “plano B” para a disputa.
Mesmo com a impugnação da
candidatura de Lula, não se pode dizer que o PT foi derrotado. Do ponto de
vista da estratégia política para manter o nome do ex-presidente e do partido
nos meios de comunicação, nas redes sociais e como motivação para a militância,
a legenda foi vitoriosa. Há dois anos o partido estava em ruínas. Perdera o
poder, com o impeachment de Dilma Rousseff, vira alguns de seus dirigentes
presos pela Operação Lava Jato, sob suspeita de envolvimento em corrupção na
Petrobrás e em outras estatais, e ficara sem metade de suas prefeituras. Um
desastre completo. Recuperar-se em 24 meses, conseguir ter um candidato à
frente em todas as pesquisas, mesmo preso, como aconteceu com Lula, e gozar da
perspectiva de fazer a substituição do candidato com possibilidade de manter-se
competitivo, é uma vitória política.
Quanto a Lula, deve-se
admitir que ele soube transformar sua prisão, uma prisão por corrupção e
lavagem de dinheiro, num instrumento político. Sua cela na Polícia Federal, em
Curitiba, foi transformada no QG político do PT. A presidente do partido,
senadora Gleisi Hoffmann, e Fernando Haddad foram nomeados seus advogados,
embora não tenham participado da defesa jurídica dele. Com isso, puderam manter
contato com o ex-presidente todos os dias. Durante todo o período da
pré-campanha, do registro das candidaturas e do início da campanha, Lula esteve
à frente de tudo. Os outros candidatos se tornaram meros coadjuvantes de um
teatro político, em que tudo foi instrumentalizado pelo PT.
De tudo isso, há de se
lamentar a lentidão do TSE em fazer aquilo que deveria ter feito antes, porque
a demora criou uma insegurança jurídica sem tamanho quanto às eleições.
Insegurança que obrigou os institutos de pesquisa a optarem por três tipos de
perguntas quando se referiam ao candidato petista, uma com Lula, outra com
Haddad e outra com Lula dizendo que Haddad seria o seu candidato.
Enquanto o TSE esperava a
hora de tomar sua decisão, e a insegurança jurídica só aumentava, o PT se
esbaldava. Chegou ao luxo de criar uma chapa triplex, com Lula à frente da
chapa, Haddad de vice e a deputada gaúcha Manuela d’Ávila (PCdoB) de vice do
vice. Um caso único na história recente das eleições brasileiras.
O que pôde fazer o PT fez.
Agora, terá de parar com o teatro que todos sabiam que resultaria na impugnação
da candidatura de Lula, pois enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Com o fim da
candidatura do ex-presidente, o PT terá de parar de se esconder atrás do nome
de Lula. Terá de mostrar Fernando Haddad, entrar na disputa para valer, o que
não tinha feito até agora. Lula crescia na preferência do eleitor de forma
automática, embora preso.
A partir de agora
inicia-se uma nova fase do jogo político. Fernando Haddad terá de gastar sola
de sapato, como se diz. E se apresentar como o candidato do ex-presidente. Não
receberá 100% dos votos que poderiam ser destinados a Lula. Se conseguir um
porcentual entre 60% e 70%, poderá se dar por satisfeito. Mas não deve se
esquecer de que há outros candidatos de olho na vaga para o segundo turno. Sem
Lula, Haddad é apenas mais um, embora competitivo.
Portal Estadão – 01/09/2018
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