Vera Magalhães
À medida que a corrida eleitoral avança, a inicial
pulverização de candidaturas começa a dar lugar a um afunilamento. O movimento
começou: candidaturas dos mesmos campos político-ideológicos começam a
conversar, e a saída de Joaquim Barbosa da disputa tira do páreo o mais
próximo que havia restado de um “outsider” do jogo da política tradicional.
Justamente por reunir atributos desejados pelo eleitorado
cético com a política, Barbosa era o oponente visto como mais perigoso pelos
concorrentes. Mas ele próprio surpreendeu a opinião pública e o PSB e, antes
mesmo de o jogo começar para valer, anunciou que estava fora. A forma
voluntarista com que agiu tanto na filiação, aos 45 minutos do segundo tempo,
quanto na desistência mostra que talvez tenha sido melhor que ele tenha saído
logo agora. Política requer couro curtido, resiliência e disposição ao diálogo.
E a situação para lá de delicada do Brasil nos campos institucional, político e
econômico não combina com dúvidas tão “classe média sofre” como saber se a
portentosa aposentadoria de um ex-ministro do STF seria suficiente para manter
a família. A Presidência da República é infinitamente maior que isso.
A rapidez com que os “candidatos ao novo” desistiram da
missão reforça a máxima das raposas velhas segundo a qual a política não é para
amadores. O que mostra a total falta de sintonia entre o establishment político
e o que deseja o eleitorado.
Se já não havia favoritos na atual disputa, como bem notou Eliane
Cantanhêde em sua coluna, a saída de Barbosa
retira da equação também a possibilidade de renovação. Ganham, num primeiro
momento, os partidos mais estruturados, que já vinham tentando se reorganizar
em torno de menos candidaturas.
Essas conversas continuam, ainda que o desfecho deva
ocorrer apenas mais adiante. De um lado, Geraldo Alckmin tenta
costurar uma ampla aliança de centro-direita, que esbarra na disputa velada
entre DEM e MDB pelo lugar pelo lugar do copiloto e na hesitação do tucano em
ter Michel Temer no
centro do palanque.
De outro, a expectativa é de que as siglas de esquerda
também se organizem de forma menos dispersa, e Ciro Gomes passa a ser um polo
possível, a despeito da negativa do PT em apoiá-lo. O primeiro sinal foi dado
pelo governador Flávio Dino (PCdoB-MA), e o PSB, ainda atordoado pelo fora que
levou de Barbosa, pode também se aproximar do pedetista.
Nesta terça-feira, 11 pré-candidatos se
revezaram num ensaio de debate em Niterói.
Muitos desses não passarão pela peneira que já reteve Lula, preso, e os
aspirantes a um novo que insiste em não vir. A tabela abaixo traz os mais e
menos cotados na bolsa de apostas.
Tô fora
Desistência não é inédita na
vida de Joaquim Barbosa
Quem acompanha a trajetória de Joaquim Barbosa não chegou
a se espantar com sua desistência em disputar a Presidência da República. A
trajetória do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal inclui, não custa
lembrar, a renúncia à cadeira no Tribunal Superior Eleitoral cinco meses antes
de assumir a presidência da Corte, em 2009, e a aposentadoria antecipada do
próprio Supremo, em 2014, aos 59 anos.
Ajuste de rota
Sem PT, Ciro pode fazer
caminho rumo ao centro
Aliados e adversários do ex-governador e ex-ministro Ciro
Gomes esperam que o pré-candidato do PDT ao Palácio do Planalto intensifique os
acenos ao centro nos próximos dias, depois que ficou (mais) claro que o PT não
pretende apoiá-lo. A busca por um vice do meio empresarial e declarações como a
que repetiu ontem, de que o setor produtivo não pode ser “demonizado”, já estão
inseridas nessa nova estratégia.
Peneira eleitoral
Quem deve ficar e quem pode
cair fora
Ficam
Jair Bolsonaro
Marina Silva
Geraldo Alckmin
Ciro Gomes
Álvaro Dias
João Amoêdo
Guilherme Boulos
Deve entrar
Candidato do PT
Podem sair
Rodrigo Maia
Paulo Rabelo de Castro
Aldo Rebelo
Manuela D'Ávila
Flávio Rocha
Michel Temer
Henrique Meirelles
Fora do baralho
Lula
Joaquim Barbosa
Publicado no portal do jornal Estado de São Paulo em
09/05/2018
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