Eliane Cantanhêde
Prender ou não prender Lula, essa é a questão por trás de
uma guerra de torcidas poucas vezes vista no estádio chamado Supremo Tribunal
Federal, onde 11 ministros estarão em campo amanhã, cercados por manifestantes
barulhentos e expostos para milhões de telespectadores irados pelo País
afora.
As torcidas juram que falam “em tese”, ou agem “por
princípio”, a favor ou contra a prisão após condenação em segunda instância,
mas é óbvio que todos eles falam e agem motivados por algo bem concreto: o
pedido de habeas corpus preventivo em favor do ex-presidente Lula. Até por isso
a agitação só explode agora, na semana da decisão.
A evolução frenética e espantosa do número de apoiadores
do manifesto a favor da prisão em segunda instância diz tudo. A coleta de
assinaturas começou na quinta e logo já eram 500, chegaram a 1.500, pularam
para 3 mil, dispararam para 4 mil e atingiam quase 5 mil ontem, na entrega ao
Supremo.
Essa torcida, que reúne juízes, promotores e
procuradores, tenta não personificar sua causa nem focar em Lula, alegando
genericamente que acabar com a prisão em segunda instância vai ter um efeito
cascata danoso para a sociedade e benéfico para homicidas, latrocidas,
estupradores, traficantes...
O contra-ataque partiu de entidades de advogados e
defensores públicos, que também ontem entregaram manifesto ao Supremo, com
3.262 assinaturas, em sentido contrário: condenando a prisão após segunda
instância. Argumentam que ninguém (especialmente ricos e poderosos?) pode ser
considerado culpado e cumprir pena antes de esgotados todos os recursos (20 ou
30 anos depois?).
Enquanto os manifestos sacudiam os ânimos já exaltados da
mais alta corte do País, o Distrito Federal, São Paulo, Minas e outros Estados
tremiam – literalmente –, sob o efeito de um terremoto originado nas
profundezas da Bolívia e transmitido em ondas para o Brasil. É justo: o Brasil
exporta bombas da Odebrecht, os vizinhos pagam com terremotos.
Os tremores continuam hoje no Brasil, com manifestantes
anti-Lula, ops!, a favor da prisão em segunda instância, na Praça dos Três
Poderes, na Avenida Paulista e em várias capitais e grandes cidades. Amanhã,
semifinal do campeonato, será a vez dos apoiadores de Lula, ops!, dos
contrários à prisão em segunda instância, empunharem suas bandeiras vermelhas
para pressionar o Supremo. Ou “sensibilizar os ministros”, como dizem de um
lado e de outro.
Ontem, a presidente do Supremo, Cármen Lúcia, se reuniu
com o diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro, para discutir a
segurança do prédio e dos ministros. Não só porque essas torcidas andam cada
vez mais violentas, até dando tiros em caravanas, mas também pelas ameaças ao
relator da Lava Jato, Edson Fachin.
Foi por causa desse clima de Fla-Flu que Cármen Lúcia
decidiu fazer um pronunciamento pela TV Justiça, pedindo “serenidade”. Não
adianta muita coisa, mas é um dever do, ou da, presidente de um Poder falar
pela instituição numa hora como essa.
Aliás, não é só o Supremo que está em pé de guerra, nem
sujeito a ameaças, pressões, manifestos e terremotos. O que dizer do Congresso,
onde os maiores partidos (PT, PSDB e MDB) veem seus quadros voando pela janela
partidária sob o sopro da indignação popular? E do Planalto, com o cerco a
Temer chegando a seus principais amigos e gerando o fantasma de uma terceira
denúncia?
Dê no que dê amanhã no Supremo, o resultado vai ser
gritaria, confusão, profusão de acusações. Se o HC de Lula for negado, a reação
virá do PT, PCdoB, PSOL e seus movimentos satélites. Se for acatado, como tudo
indica, a ira será de todo o resto. E o risco de Rosa Weber, coitada, será
ganhar um pixuleco para chamar de seu.
*Postado no portal do jornal Estadão em 03/04/2018
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