Interinidades sem fim*
Eliane Cantanhêde
Eduardo Cunha e Dilma Rousseff continuam um na cola do
outro e, se não houver novas prisões ou novos pedidos eletrizantes da
Procuradoria, eles serão os personagens principais da semana. É hoje o dia D do
Conselho de Ética, derradeiro reduto de Cunha para tentar sobreviver. E será
amanhã o julgamento das contas de Dilma em 2015 pelo Tribunal de Contas da
União, que não é nada amistoso.
Cunha e Dilma vão ambos caminhando para um cadafalso que
parece inexorável. Nenhum dos dois tem para onde correr, um cerceado por contas
e gastos astronômicos da família, a outra limitada pelos crimes de
responsabilidade na gestão orçamentária e pelos três anos seguidos de recessão,
o pior desempenho da história brasileira.
O cerco a Cunha enfrenta muitas armadilhas, mas está,
enfim, se fechando. A Suíça mandou pilhas de provas. A Procuradoria apresentou
a terceira denúncia contra ele. O Supremo autorizou o terceiro inquérito para
investigá-lo na Lava Jato. O juiz Sérgio Moro transformou em ré sua mulher,
Cláudia Cruz.
Sobrava-lhe a Câmara, mas também ela começa a lhe faltar.
O PT e o PSDB, que se opõem frontalmente contra e a favor do impeachment de
Dilma, recuperaram algum senso de pragmatismo e discutem um basta para Cunha e
para essa agonia sem fim. O Centrão, que reúne os partidos mais conservadores
(e suscetíveis aos “argumentos” de Cunha), também está lhe puxando o tapete.
No Planalto, o presidente em exercício Michel Temer
continua em cima do muro, mas o entorno dele já jogou a toalha: Cunha foi muito
útil para o impeachment, mas transformou-se num estorvo na interinidade. Tudo
gira em torno de sua cassação e, assim, ele paralisa a pauta, inviabiliza o
debate político, deixa em segundo plano o início da agenda econômica.
Cunha, portanto, está por um fio, pendurado na tal Tia
Eron, deputada do PRB da Bahia. Se ela aparecer, se ela votar contra ele e se a
votação no Conselho de Ética for até o fim, o plenário selará a cassação. E a
renúncia? Cunha tem um argumento poderoso: se renuncia, ele perde o foro
privilegiado e vai cair com a mulher, e provavelmente com a filha, no colo do
juiz Moro.
Quanto a Dilma, que vai ficando cada vez mais isolada no
Alvorada, asfixiada por decisões que ora têm sentido na administração pública,
ora se apoiam na mais pura mesquinharia: sem avião, sem helicóptero, sem boca
livre, sem clipping de notícias e com menos assessores. Ela vai sobrevivendo à
custa de intermináveis depoimentos e sessões no Senado, mas deve perder amanhã
mais uma vez no TCU. E uma coisa alimenta a outra.
Não bastassem as 17 irregularidades apontadas pelo
tribunal nas contas do seu governo em 2015, o jornal O Globo informa que o Ministério Público de
Contas acaba de identificar mais quatro medidas provisórias que criaram gastos
extras de R$ 49,6 bilhões naquele ano. Além de comprovarem a gastança, as MPs
não levaram em conta critérios essenciais de urgência, imprevisibilidade ou
calamidade.
Então, Cunha deve perder hoje, Dilma tem tudo para perder
amanhã e... ainda assim a luta continua. Ele ainda vai tentar a Comissão de
Constituição e Justiça, enquanto Waldir Maranhão vai se agarrando à cadeira e
às mordomias. E ela ainda vai aguardar o julgamento final do Senado, enquanto
Temer tem os movimentos cerceados e a economia não deslancha. Essas
interinidades sem fim só atravancam o progresso, como diria o outro.
Medo 1. A
Frente Parlamentar de Combate à Corrupção exige hoje de Maranhão a instalação
de uma comissão especial para o projeto do MP contra a roubalheira que teve
dois milhões de assinaturas e está parado no Congresso. Por que será?
Medo 2. Com
o atentado em Orlando e a decisão do EI de traduzir seus informes também para o
português, a Polícia Federal aumentou o grau de risco da Olimpíada para 4, numa
escala até 5.
*Publicado no Estadão.com em 14/06/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário