A pergunta que não quer calar
Antigamente, a rapina ao patrimônio público era ação de indivíduos, solitária ou em pequenas quadrilhas. Hoje, é sistêmica e se dá na casa dos bilhões
A ruína do projeto
político do PT – e o governo Dilma é sua mais eloquente síntese e tradução -
dá-se em meio ao silêncio de entidades da sociedade civil, que, ao longo da
história contemporânea, tiveram amplo protagonismo na cena pública.
Onde estão a OAB,
a ABI, a UNE e a CNBB, entre outras siglas que se associaram à história da
reação popular aos maus governantes? – eis a pergunta que não quer calar.
No momento em que
a corrupção sistematizada, comandada de dentro do Estado, apresenta sua conta –
Mensalão, quebra da Petrobras, violação da Lei de Responsabilidade Fiscal,
falência da economia -, é no mínimo ensurdecedor o silêncio de quem sempre
soube falar tão alto em momentos de crise e de má governança.
O final do governo
militar deveu-se a uma conjunção de fatores, que se resumem na falência de seu
modelo econômico e na falta de representatividade de seu modelo político.
Foram essas
entidades que romperam a mordaça da repressão, articularam a sociedade e
levaram às ruas o “basta” da população. Exerceram, naquela oportunidade, uma
vigilância cívica decisiva para que o país se reencontrasse com a democracia.
Mas essa
vigilância, que prosseguiu nos primeiros governos civis – os de Sarney, Collor,
Itamar e FHC -, começou a minguar até desaparecer por completo desde a posse de
Lula, festejada por elas como se o país, enfim, tivesse chegado ao
Paraíso.
O que se constata
é que, a exemplo do que aconteceu com o próprio Estado brasileiro, essas
entidades foram mutiladas na sua essência. Transformaram-se em células
partidárias, corresponsáveis pelo projeto político em curso, de índole
revolucionária.
A lógica
revolucionária, como se sabe, é a da ruptura, que começa por dividir a
sociedade e a colocá-la em conflito. Promove o caos e depois acena com a ordem
totalitária para consertar o que ela mesmo quebrou. O país está em meio a esse
processo.
O projeto do PT
postula uma “sociedade hegemônica”, que é o avesso de uma sociedade
democrática, em que o poder se alterna entre os diversos partidos que se
organizam para exercê-lo. Numa sociedade de pensamento único, não cabe a
liberdade de imprensa, o que explica a obsessão petista por controlar a mídia.
Esse projeto de
poder, gestado no Foro de São Paulo – entidade criada por Lula e Fidel Castro
em 1990, para reunir as esquerdas do continente em torno de um projeto único de
poder, a Grande Pátria -, já está em estágio mais avançado em países vizinhos,
menos complexos que o Brasil.
Temos então a
oportunidade de contemplar etapas pelas quais ainda não passamos, mas que,
mantidas as ações em curso, fatalmente passaremos. E isso explica as dimensões
estratosféricas da rapina petista ao Estado brasileiro.
Não foi o PT que
inventou a corrupção, mas nada nem ninguém a elevou ao patamar em que se
encontra. E o que temos corresponde apenas a um início de devassa numa única
estatal. Como disse Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, o que lá se
fez também se fez nas demais estatais, ainda não investigadas.
Antigamente, a
rapina ao patrimônio público era ação de indivíduos, solitária ou em pequenas
quadrilhas. Hoje, é sistêmica e se dá na casa dos bilhões. Para onde foi esse
dinheiro, que se tem por irrecuperável? Se só um gerente, Pedro Barusco, braço
direito do Renato Duque, operador do PT na estatal (e que está solto), se
dispôs a devolver 100 milhões de dólares, quanto está em jogo?
Não apenas: se o
rombo já constatado – e, repito, estamos falando de apenas uma estatal – chega
quase a 90 bilhões de reais, pergunta-se para onde foi essa montanha de
dinheiro. Ninguém acredita que o dinheiro que Barusco vai devolver era só dele.
A lógica indica
que ele era um laranja. O dinheiro, guardado em conta no exterior, serve à
causa, assim como os demais 88,6 bilhões que a própria Graça Foster admite não
ser o total. O dinheiro é do Foro e serve aos interesses da Grande Pátria, de
que falava Hugo Chávez, o projeto de unificação socialista do continente. É
dinheiro demais até para um partido com a voracidade do PT. É destinado a um
projeto geopolítico – afinal, revolução é verba -, cujos adeptos dominam hoje
as principais entidades da sociedade civil.
Daí o silêncio
cúmplice com que acompanham os maiores desmandos já registrados na História não
apenas do país e do continente, mas do próprio mundo moderno, como registrou o
The New York Times. Em que medida esse ideário psicótico afetou as
instituições, sobretudo o Judiciário, teremos a oportunidade de ver, nos
desdobramentos da Operação Lava-Jato.
Aguarda-se para
depois do carnaval a denúncia do procurador geral da República, Rodrigo Janot,
e o posicionamento do relator do processo no STF, ministro Teori Zavascki. Eles
dirão em que estágio de subserviência e deterioração estão as instituições
desta Sereníssima República.
*Jornalista - Artigo publicado no jornal O Globo
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