Já falei que
estou em férias ou, como dizia meu irmão Dilair, “gozando os benefícios do
direito adquirido”, durante este mês de dezembro. Mas não consigo ficar longe
das informações diárias, principalmente por toda a sujeira que tomou conta do poder
e que, parece, só continua sendo ignorada por militantes ou por quem tem
interesse em que ela não saia debaixo do tapete.
Hoje conferi um
dos editoriais do Estadão e, por sua colocação clara e repleta de informações,
me faz dividir com vocês. O texto publicado no Estado de São Paulo, é
imperdível, principalmente pelas verdades que escancara.
Tenham todos um
Bom Dia!
O poder bichado
O ESTADO DE
S.PAULO
02 Dezembro 2014
Do doleiro Alberto Youssef se pode
afirmar que o que ele não sabe não vale a pena saber. E se tiver contado aos
investigadores da Operação Lava Jato a metade que fosse apenas do que conhece
em primeira mão, a Polícia Federal e o Ministério Público têm diante de si um
cenário de bandalheiras que reduz a uma poça o "mar de lama" de
tempos idos. Como informou ontem este jornal, por exemplo, a certa altura das
suas mais de 100 horas de depoimentos em regime de delação premiada, concluídos
há uma semana, o operador que desinfetou, por baixo, R$ 10 bilhões em dinheiro
contaminado disse que "só sobram dois" no Partido Progressista (PP)
sem envolvimento com a extração sistemática de recursos da Petrobrás.
Desde as eleições municipais de 2012,
quando o pepista Paulo Maluf acolheu de braços abertos o candidato petista
Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo - coroando uma operação conduzida
pelo companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, capaz de tudo para provar que
poderia eleger um segundo poste, depois de Dilma Rousseff -, os partidos não se
largam. Um ano antes ela entregara ao PP, na pessoa do então deputado federal
baiano Mário Negromonte, o Ministério das Cidades. Ele caiu da cadeira em razão
de denúncias de contratos irregulares da pasta com ONGs e de superfaturamento
de obras para a Copa. Foi substituído pelo também pepista Aguinaldo Ribeiro. O
PP tem atualmente 37 deputados e 5 senadores na ativa. A menos que, nas suas
contas, Youssef tenha incluído membros do partido sem mandato, a sigla
abrigaria 40 parlamentares de mãos manchadas.
Pudera! A força-tarefa da Lava Jato
tem motivos para acreditar que o assalto aos cofres da Petrobrás começou há
pelo menos 15 anos. Mas o saque só foi sistematizado a partir de 2004, graças
ao talentoso José Janene, o também mensaleiro de primeira grandeza que viria a
falecer em 2010. Ele pôs ordem na lambança, transformando a corrupção no varejo
"em esquema de organização partidária", nas palavras de um investigador.
O butim foi distribuído entre os dirigentes de siglas acumpliciadas. Modesto, o
PP ficava com 1% dos contratos da Diretoria de Abastecimento da petroleira,
conduzida por indicação do partido ao então presidente Lula pelo arquicorruptor
confesso Paulo Roberto Costa. Somando esse e outros setores, a cota do PMDB
também girava em torno de 1%. Mas a parte do PT era três vezes maior.
A insuportável realidade é que está
tudo bichado nos palcos do poder. Ainda na edição de ontem o Estado noticiou
que o Tribunal de Contas da União (TCU) passou a apurar em caráter prioritário
suspeitas de outras falcatruas que teriam sido cometidas por empreiteiras
fisgadas pela Operação Lava Jato no escândalo da Petrobrás, dessa vez em
parcerias firmadas pela Eletrobrás com o setor privado - as chamadas Sociedades
de Propósito Específico (SPE), que funcionam como se fossem empresas
particulares. Por força desse arranjo, o TCU só consegue fiscalizar os gastos
das empresas públicas participantes. Apesar dessa limitação, já em 2011 a Corte
de contas advertia para "a má gestão dos recursos públicos aplicados por
meio das SPE". Material para um exame acurado não falta. Nos últimos cinco
anos, a Eletrobrás investiu R$ 9,7 bilhões em 150 negócios nessa modalidade de
parceria.
As ramificações da farra na
Petrobrás, que por muito tempo continuarão no centro das atenções, são o que
delas se poderia esperar. No começo da semana passada, o último foragido da
Lava Jato entregou-se à polícia. Trata-se do transportador de dinheiro de
Youssef, Adarico Negromonte Filho, irmão do já citado ex-ministro das Cidades.
Em um nível muitíssimo mais raso, a fraternidade do mal atingiu outro membro do
Gabinete dilmista - o ministro da Agricultura, Neri Geller, do PMDB. Na
sexta-feira, dois de seus irmãos, Odair e Milton, foram presos sob a acusação
de pertencer a uma quadrilha que grilava terras destinadas à reforma agrária. É
o mais recente, decerto não o último, caso da epidemia de indecência no centro
do poder e arredores.
Para ser "muito melhor" do
que tem sido, como prometeu, Dilma precisa não só acertar as contas federais,
mas refazer o seu governo em bases morais mais firmes.
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