Governo baixa o nível nas negociações
Machado Filho
Diante da possibilidade, cada vez mais clara, de não
aprovação pelo Congresso
do projeto de lei que derruba a meta fiscal e permite ao governo fechar as
contas públicas de 2014 sem a obrigação de cumprir o superávit primário
(economia para pagar os juros da dívida pública), o governo federal publicou um
decreto em edição extra de sexta-feira (28) do "Diário Oficial da
União" que autoriza a liberação de mais R$ 444 milhões para o pagamento de
emendas parlamentares, verbas usadas por deputados e senadores para bancar
obras em seus redutos eleitorais.
No início do
ano, a previsão de superávit era de R$ 99 bilhões. Com o projeto, cuja votação
está prevista para esta terça (2), passa para R$ 10 bilhões.
O que
impressiona é que o texto condiciona explicitamente a liberação de mais verbas
à aprovação do Projeto que autoriza o “calote” governamental. No decreto, o
governo afirma expressamente que "a distribuição e a utilização do valor
da ampliação (...) ficam condicionadas à publicação da lei resultante da
aprovação do PLN número 36, de 2014, em tramitação no Congresso Nacional".
E acrescenta que, se não for aprovado, “o Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão e o Ministério da Fazenda elaborarão novo
relatório de receitas e despesas e encaminharão nova proposta de decreto".
A oposição,
liderada por Aécio Neves, tenta fazer com que o projeto não seja aprovado e,
parece, já recorreu ao STF para impedir a manobra governista.
O líder do
governo, deputado Henrique Fontana (PT/RS), acha tudo normal e classifica de
corriqueiro o decreto considerado vergonhoso pela oposição. Leiam o que disse o
deputado gaúcho.
- A
condicionalidade à aprovação é porque existe ali um conjunto de despesas que o
orçamento público tem que realizar que, obviamente, depende desta autorização.
Para o petista,
nada mais normal do que o governo, no dia em que o projeto será votado,
divulgue um decreto em que condiciona aumento de verbas para emendas de
deputados à aprovação do projeto que muda as regras do, autorizando que o
governo aplique um verdadeiro calote nas contas públicas.
Nesta minha já
quase longa vida, jamais assisti a uma
manobra tão rasteira e que leva o governo a alcançar o mais baixo nível no terreno
das negociações. Vale tudo para seguir fazendo o que bem entende.
Imagine querer,
por lei, a diminuição de uma responsabilidade de R$ 99 para R$ 10 bilhões. É
como o senhor ou assenhora, diante da possibilidade de reprovação do filho na
escola, chegar para a diretora e dizer que, agora, a nota máxima não é mais 10, é
cinco. Ou fazer o rancho e dizer para o gerente do supermercado que não vai
pagar a despesa, mas só parte dela.
O que mais me
impressiona é que existem militantes, fanáticos e cegos, e dirigentes partidários e parlamentares, que concordam, por
conveniência ou cumplicidade, com uma manobra tão baixa.
A que nível
chegou o governo federal!
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