Mesmo com tamanha
imprevisibilidade sobre as eleições de outubro já sabemos algo sobre o que vem
por aí, e não é pouco. Vamos do mais próximo ao mais distante na linha do
tempo.
Uma candidatura única do
centro é dúvida ainda para o clássico, mas a aproximação do deadline de julho
apressa conversas sem que ainda se tenham nomes claros fora o do ex-governador
Geraldo Alckmin, com dificuldades mesmo dentro do partido que preside. Perduram
os vaticínios de que a candidatura de Jair Bolsonaro vai se derreter sozinha,
mas a candidatura perdura. Falta pouco para o PT cometer um inédito suicídio
político, se insistir em que só Lula é o candidato do partido, mas a beira do
abismo costuma infundir medo nas pessoas.
Adoro e joguei futebol,
mas nunca vi tanto desinteresse por uma Copa como o que registro agora, o que
sugere que essa eleição seja inédita por mais um fator (além da curta duração,
regras restritas de financiamento, curto tempo de televisão, forte presença de
plataformas digitais, máquina do governo encurralada, grau de indignação
popular, destruição do sistema político e falta de lideranças genuínas – tudo
isso me parece sem comparação com outros pleitos).
Já sabemos também que as
dificuldades das candidaturas de “novos” indicam uma predominância do “velho” sistema
político eleitoral num choque de proporções enormes com o que parece ser o
sentimento popular de rejeição “ao que está aí”, começando pelos figurões das
classes políticas. Em outras palavras, já podemos antecipar uma renovação menor
do que se deseja nas Casas do Congresso, e eleitos bastante distantes do
eleitor.
Prosseguindo na linha do
tempo, já parece garantido a esta altura que o próximo presidente, ou a próxima
presidente, formará um governo de minoria num sistema político no qual o chefe
do Executivo é paradoxalmente muito poderoso – e não governa sem o Congresso.
Esse homem (mulher) com uma caneta que aponta diretamente mais de 30 mil cargos
terá de costurar uma maioria precária diante de uma crise fiscal que já
paralisou a máquina (incapaz de se custear) e reduziu a quase nada a capacidade
de investimentos, tudo agravado pela voracidade de grupos corporativos e a
necessidade de adotar medidas impopulares.
É difícil imaginar que uma
parcela imensa da sociedade que nem sequer capta exatamente o significado de
“dinheiro público” (boa parte das pessoas acha que o dinheiro é do governo)
seja acometida de súbita consciência do que é cidadania (direitos e deveres). É
igualmente difícil imaginar que a corrupção, enxergada hoje pela maioria dos
brasileiros como o principal problema do País (bastaria limpar os corruptos que
tudo “funcionaria”, um perigoso engano), deixe sua posição de destaque nas
prioridades do eleitor. Talvez seja substituída pela questão da segurança
pública – o medo continuará sendo uma característica importante a influenciar o
comportamento das pessoas.
Por último na linha do
tempo que traço daqui até os primeiros 100 dias do novo governo, já podemos
antecipar a continuidade do regime de insegurança jurídica que parte do próprio
STF. O exemplo mais recente é a postura de um dos ministros, que se julga apto
a reverter anos de discussão sobre um item isolado da reforma trabalhista, a
abolição do esdrúxulo imposto sindical, por ter outra opinião a respeito do que
as duas Casas do Legislativo. Como o imponderável é sempre característica do
terreno da política, especialmente numa crise, aposto às cegas que a
politização da Justiça nos trará mais sobressaltos, além do vigoroso
prosseguimento da Lava Jato.
Ficarei grato, dormirei
melhor e feliz, se os fatos me desmentirem.
Publicado no portal do Jornal
Estado de São Paulo em 07/06/2018
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