Há na política nacional um clima de apatia e desencanto.
Em menos de cinco meses haverá eleições e o cidadão mostra-se reticente com
suas preferências. “Os eleitores estão sem perspectiva de melhora”, diz Márcia
Cavallari, diretora executiva do Ibope Inteligência. “Não conseguem ver como
sair desse lugar em que estamos, não conseguem enxergar uma luz no fim do
túnel.”
O fenômeno da apatia com a política tem traços
paradoxais. Nos últimos dois anos, o brasileiro experimentou uma melhora da
situação econômica e social do País, que foi em boa medida resultado da mudança
do governo federal. O impeachment de Dilma Rousseff serviu de ocasião para
retificar os rumos da política econômica, com efeitos diretos sobre a inflação,
o emprego, os juros, o consumo. Ainda há muito a fazer, mas a situação do País
hoje é incomparavelmente melhor do que há dois anos.
Há evidências empíricas, portanto, de que o modo como o
País é governado tem consequências práticas sobre a população. Em tese, tal
constatação deveria ser mais que suficiente para que o eleitor reconhecesse a
importância da política e, portanto, das próximas eleições, para o seu futuro
imediato. Do resultado das urnas dependerá a continuidade da reconstrução do
País.
A percepção sobre a importância das eleições é, no
entanto, ainda muito frágil. Na prática, a ideia de que as eleições periódicas
são fundamentais para o País convive, sem maiores conflitos, com um profundo
alheamento da política. Em geral, não se nega o valor do voto, mas ele é visto
como incapaz de mudar o País. Segundo esse raciocínio, o melhor seria não criar
expectativas com as eleições. Ou seja, o cidadão não parece disposto a utilizar
o voto como um poderoso instrumento de mudança.
Entre as causas da apatia, que conduz a graves distorções
na representação, ressaltam o populismo praticado pelo PT ao longo das últimas
décadas e a demagogia que se tornou método de quase todos os partidos. De certa
forma, o eleitor tem razão para estar frustrado. Foi-lhe dito que não era
preciso cuidar do equilíbrio fiscal, foi-lhe prometida a diminuição dos juros
por simples ato de vontade da presidente da República, foi-lhe afirmado que o
déficit da Previdência não era motivo para preocupação, assim como tantas
outras barbaridades.
O lulopetismo prometeu ao brasileiro um futuro
espetacular sem necessidade de esforço. A única condição para que o paraíso
fosse definitivamente instalado na terra era manter o PT no poder. Como bem se
sabe, não foi isso o que ocorreu. As lideranças petistas trouxeram de volta a
inflação, o desemprego, o aumento dos juros. Em suma, o PT deu motivo para que
a população desconfiasse do governo – qualquer governo – e descresse do País.
Para piorar, a crise econômica veio acompanhada de
grandes escândalos de corrupção. Sob o discurso da preocupação social, tão
repetido pelos petistas, havia uma enorme podridão moral, capaz de gerar casos
como o do mensalão e o do petrolão. Os recursos públicos desviados ganharam
proporções inéditas.
Diante desse quadro, houve quem tenha vislumbrado a
oportunidade para difundir a ideia de que todo o sistema político estaria
podre. Com adeptos no Judiciário e no Ministério Público, essa causa disseminou
ainda mais desconfiança em relação à política. Se, como afirmam, tudo está
irremediavelmente podre, qualquer medida que venha da política estaria viciada
pela raiz. Essa atitude é profundamente antidemocrática, pois o trabalho de
reconstrução do País caberia apenas a alguns poucos iluminados, que não
receberam nenhum voto para isso.
O eleitor precisa resgatar o seu protagonismo,
ressaltando toda a importância do voto para o futuro do País. Isso não
significa que a simples ocorrência de eleições seja garantia inexorável de um
futuro promissor. Significa que o voto é o instrumento democrático e legítimo
para a mudança dos hábitos administrativos e dos costumes políticos que têm
levado o País ao fundo do poço. Somente a consciência dos nefastos efeitos de
escolhas irresponsáveis nas eleições pode levar o eleitor a uma conduta mais
madura diante das urnas. Não se constrói um País sem a ativa participação
política e o trabalho de seu povo.
Publicado no portal do Jornal Estado de São Paulo em
21/05/2018
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