Carlos José Marques
Michel Temer vive dias de provação. Pela primeira vez, a
família de um presidente em pleno exercício do cargo é arrolada a depor,
prestar explicações, por supostos casos de corrupção. Uma investigação da
Polícia Federal dá conta de lavagem de recursos via reformas nas casas tanto da
filha como da sogra em troca de um decreto de portos – que acabou por não
existir, diga-se de passagem. Ruim para Temer, pior para o Brasil.
Essa é a
terceira onda de ataques sistemáticos ao chefe da Nação e, com ela, o País vai
vivendo à base de soluços. Anda e para a depender da atenção que a pauta de
ajustes consegue arranjar. Os revezes pessoais do mandatário contaminaram a
gestão. A economia ficou a reboque das insânias políticas. A agenda reformista,
que tinha na previdência seu maior alvo, ficou para as calendas. Na verdade,
logo foi abatida. A primeira de uma longa lista.
Há pouco mais de um ano o
empresário Joesley Batista, para escapar do cerco que se fechava sobre ele,
comprometeu Temer numa gravação conduzida e criminosa. De lá para cá, a
prioridade de combate à crise foi abaixo. Não há tempo para as negociações,
para costurar alianças em torno de projetos, para propor saídas. Os esforços
são consumidos na luta por salvar a própria pele. Há algo de perverso nessa
contenda. Adversários tentam minar a resistência federal buscando colar a pecha
de ineficiência em um governo que, bem ou mal, conseguiu fazer a transição.
Há
resultados concretos e sabidos: da inflação e dos juros levados a níveis
historicamente baixos à reforma trabalhista, o fim da recessão e uma inominável
lista de boas providências. Longe de ser suficiente. Porém significaram
fundamentais passos na direção correta. A camarilha parlamentar, a despeito das
conquistas, não perdoou. Nos últimos tempos, após estratégia infrutífera de
afastar o presidente por meio de votação em plenária, resolveu sabotar todo e
qualquer projeto de melhorias estruturais. De novo, trágico para o Brasil.
A
paralisia do trabalho verificada atualmente no Congresso assemelha-se a de um Parlamento
em pleno status de intervenção. Tal qual nos idos do AI-5. Não se vota nada,
não se aprova qualquer medida provisória que valha. A privatização da
Eletrobras empacou. A simplificação do sistema tributário, defendida desde o
início do ano, não é nem mais lembrada. Até a bancada governista bandeou-se
para o lado da oposição na luta contra o cadastro positivo de devedores que
Temer almejou adotar. O que sai daquela casa nos dias de hoje é mera
perfumaria.
Deputados e senadores estão mais preocupados em garantir a
reeleição. Sonham com a perpetuação do foro privilegiado contra eventuais
rescaldos das investigações da Lava Jato. Eis a classe política que
restou. Parlamentares atentos a questões comezinhas. A janela da troca
partidária galvanizou mais interesse do que a vital preocupação com equilíbrio
das contas nacionais. Cortar, reduzir gastos, eliminar desperdícios é discussão
impopular para o momento eleitoral.
Na direção oposta, congressistas estão
mesmo é derrubando todos os vetos de Temer a medidas que oneram o erário. A
festa da distribuição de recursos inexistentes alcançou o auge. As
renegociações de dívidas do Funrural, por exemplo, custarão mais R$ 15 bilhões
ao Tesouro por obra e graça dos senhores do parlamento que resolveram torrar o
dinheiro da viúva. E o presidente – encurralado por querelas com a PF, o TSE e
a Procuradoria – fica com as mãos atadas, sem margem de manobra.
O
esfacelamento do seu poder reflete-se ainda nos entendimentos para a formação
de uma candidatura de centro consistente e vencedora. O fatiamento das opções
eleitorais nesse eixo cria um cenário de grandes riscos à sucessão. Não há
ainda uma chapa que anime. O tucanato resiste, bestamente, em fechar um acordo
com o MDB para defender o legado – de resto consistente – traçado por Michel
Miguel Elias Temer Lulia. A impopularidade, inclusive nas ruas, assusta.
Dois
anos depois de assumir, o presidente vive o seu inferno astral. Tentará
contornar a má imagem e má fase com uma forte ação de comunicação realçando
suas realizações no período. Ainda acalenta a própria candidatura como
alternativa para ficar vivo no jogo.
Publicado no portal da revista ISTOÉ em 10/05/2018
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