Eliane Cantanhêde
O PT anda tão em círculos na sucessão presidencial quanto
o PSDB, e os dois vão acabar chegando exatamente ao ponto de partida, com o
governador Geraldo Alckmin e o ex-prefeito Fernando Haddad disputando a
eleição, ambos com chances de ir ao segundo turno.
A sociedade sonhou, falou e tentou alavancar “o novo”
para outubro, mas começa a cair a ficha de que a eleição de 2018 tende a
repetir o enfrentamento entre PSDB e PT que vem, asperamente, desde a vitória
de Fernando Henrique em 1994.
Há resistências ao nome de Haddad no próprio PT? Há, mas
também houve, e mais forte, a Dilma Rousseff em 2010 e ao próprio Haddad em
2012. Quem dá as cartas é Luiz Inácio Lula da Silva. Os petistas resistem, mas
acabam engolindo. E artistas e intelectuais douram a pílula
Há quem duvide de que Lula tenha efetivamente pensado no
ex-governador da Bahia Jaques Wagner como candidato. E, mesmo que tivesse
pensado, a operação da Polícia Federal na casa dele, com pedido de prisão
(negado), enterrou qualquer chance de Wagner.
Desde o início, Haddad despontava como preferido, num
embate que parecia ser com João Doria, do PSDB. Doria perdeu fôlego, Haddad se
manteve firme, apesar de ter contra ele não só o PT, mas também uma dúvida: se
nem sequer se reelegeu prefeito, tem como disputar a Presidência? Talvez sim,
talvez não, mas vem novamente a comparação com Alckmin: se não ele, quem?
Além disso, Haddad, ou quem quer que seja o candidato do
PT, vai ter uma dificuldade enorme: o desgaste do partido, que só elegeu um
prefeito de capital nas últimas eleições, na pequena e distante Rio Branco, no
Acre. A campanha vai ser de lascar, com acusações, pressões e brigas internas
duríssimas.
O principal fator tem cara e nome: Lula. E com diferentes
cenários. Se Lula ganhar o habeas corpus preventivo e escapar por ora da
cadeia, vai esticar ao máximo a versão de que é candidato, mas pondo Haddad
debaixo do braço e fazendo do professor paulista um nome conhecido e palatável
no País, sobretudo no Nordeste.
Se Lula for preso e ficar dois meses atrás das grades,
ele sai como o maior cabo eleitoral da história e nem precisa ter tanto
trabalho de fazer maratona com Haddad. Basta dar uma entrevista atrás da outra
e gravar bons programas eleitorais para a TV. Essa hipótese, a de prisão
rápida, é considerada diante da iminência de o STF derrubar a execução da pena
após condenação em segunda instância, já com Lula preso.
O pior dos mundos para Fernando Haddad, como candidato do
PT, seria o terceiro cenário: Lula preso ao longo do segundo semestre, durante
toda a campanha. Com Lula fora de combate, sem rebelião das massas e o PT sob
ataque, tudo ficará mais difícil para qualquer candidato petista. Com Lula,
Haddad é um, sem ele é outro, sem dúvida bem mais frágil.
Mesmo assim, as esquerdas não devem nutrir esperanças.
Manuela D’Ávila, do PCdoB, e Guilherme Boulos, do PSOL e líder em ascensão nos
movimentos populares, não terão tempo de TV, nem suporte, nem alianças
suficientes para deslanchar. E Ciro Gomes, do PDT, jamais teria apoio do PT,
além de ter um inimigo poderoso: ele próprio. Se alguém pode herdar eleitores,
até pelo “recall”, é Marina Silva, da Rede.
É assim que a eleição vai chegando ao dia 6 de abril, das
desincompatibilizações, empurrando para a linha de frente o PSDB e o PT.
Alckmin, o “chuchu”, e Haddad, o “mais tucano dos petistas”, estão indo devagar
e sempre, numa campanha que não deve privilegiar nomes, mas o que representam.
A estratégia do PT é gerar a ideia de dois times em campo, um que “quer manter
direitos dos trabalhadores”, outro que “quer tirar esses direitos”. É mentira,
mas vai que cola...
*Publicado no Portal do jornal Estadão em 06/03/2018
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