Eliane Cantanhêde
Se o Supremo arma o fim branco da Lava Jato, as operações
da Polícia Federal contra poderosos e crimes de colarinho-branco vão de vento
em popa, com uma peculiaridade: elas embicaram em 2018 para os dois partidos
que polarizam a política desde 1994, o PSDB e o PT.
A primeira operação da PF direcionada para corrupção
neste ano foi no Paraná, sólido reduto tucano. A segunda foi ontem na Bahia,
onde o PT é campeão de votos. Assim, a guerra entre PSDB e PT pode deixar de
ser apenas política e passar para a seara da polícia – e justamente no ano da
sucessão presidencial.
No Paraná, as buscas e apreensões chegaram à Casa Civil,
coração de qualquer governo, mas não diretamente ao governador tucano Beto
Richa. Já na Bahia o alvo mais reluzente foi o ex-governador e líder petista
Jaques Wagner. O efeito é demolidor.
Uma operação no Paraná aumenta o desânimo com a política
e a percepção de que “todos são iguais”, principalmente por vir junto com a
revelação de que o engenheiro Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto,
mantém R$ 113 milhões no exterior. Ele é apontado como “operador” dos
tucanos paulistas.
Na Bahia, porém, a Operação Cartão Vermelho (um nome que
diz tudo) atinge em cheio uma das últimas reservas do PT para a Presidência.
Com a candidatura do ex-presidente Lula virtualmente inviabilizada pela
Justiça, o partido só tem, ou tinha, duas alternativas: o baiano Wagner ou o
paulista Fernando Haddad. E agora?
Um baiano-carioca, com boa ginga e fala fácil, Jaques
Wagner é um político hábil e bem-sucedido. Hábil a ponto de ser, ao mesmo
tempo, da “turma do Lula” e da “turma da Dilma”, com cargos-chave no governo da
ex-presidente, apesar do racha explícito entre os dois grupos após a eleição de
2014. E competente o suficiente para virar o jogo e ser a grande surpresa
eleitoral da Bahia, desbancando o reinado do grupo de Antonio Carlos Magalhães,
o ACM. Numa reviravolta emocionante, foi eleito governador em primeiro turno em
2006 e em 2010 e, como fecho de ouro, fez o sucessor, o técnico petista Rui
Costa, em 2014.
Wagner se tornou quadro de ponta de um partido que vem
sangrando desde o mensalão de 2006 e do petrolão de 2014. José Dirceu, José
Genoino (caso à parte) e Antonio Palocci saíram da cena política e abriram
espaço para o time reserva, com Dilma, vinda do PDT, no Planalto, e Haddad, um
professor, na Prefeitura de São Paulo.
Se petistas históricos afundaram o partido na lama, a
neófita destruiu a própria fama de “gerentona” e a imagem de sucesso da era PT,
enquanto Haddad não conseguiu sequer se reeleger. O terceiro time entrou em
campo. Daí a senadora Gleisi Hoffmann na presidência da sigla, também por
escolha direta e pessoal de Lula, como Dilma e Haddad. O estoque de quadros
está se esgotando. O risco é o de aliados também começarem a faltar.
A sucessão presidencial de 2018 vai, assim, se tornando
mais e mais confusa, imprevisível e tensa, com nomes entrando e saindo
freneticamente da lista de candidatos e todos os políticos morrendo de medo do
que vem a seguir. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, decreta o fim da polarização
PT-PSDB, mas quem assume essas vagas? Nunca se sabe qual vai ser a próxima
operação da PF, nem que alvos vai atingir.
A Operação Cartão Vermelho é sobre a farra com as verbas
para o Fonte Nova, em Salvador, longe de ser o único estádio suspeito. O Mané
Garrinha, por exemplo, já levou dois ex-governadores do DF para a Papuda, um do
DEM, outro do PT.
Além dos 7 a 1 para a Alemanha, a Copa de 2014 deixou um
rastro de cartolas presos, governadores contundidos, superfaturamento e
elefantes brancos por toda a parte. Cartão vermelho para ela!
*Publicado no Portal Estadão em 27/02/2018
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