O corpo de Cristo está em falta na Venezuela. Às vezes, o sangue também.
Com a escassez de alimentos, padres têm tido cada vez mais dificuldade de
dispor de hóstias e vinho para a Eucaristia nas missas do país, onde 96% da
população é católica.
Em Mérida, no oeste da Venezuela, padres e bispos têm de
pedir a outros religiosos hóstias que sobraram de outras celebrações ou
repartir pão. Segundo o bispo auxiliar da Arquidiocese de Mérida, Luis Enrique
Rojas Ruiz, o problema não é novo, mas se agravou nos últimos meses, assim como
a crise humanitária no país.
“A escassez de farinha e de vinho para consagração afeta
todo o país. Já levamos o problema para a Conferência Episcopal Venezuelana
(CEV) e, na ocasião, outros bispos levantaram o mesmo problema”, disse Ruiz. “Há meses entramos com o pedido para comprar farinha, mas não há. Em
outras ocasiões, nos colocam numa lista ou não há o suficiente para produzir as
hóstias.”
O religioso diz que é difícil também conseguir vinho para
a consagração durante a Eucaristia. “É uma situação lamentável, que atinge
diretamente a Igreja e os fiéis”, afirmou. “Tivemos de escrever uma carta para
os bispos de Cúcuta (na Colômbia, a 254 km de Mérida), para que nos ajudassem.”
Apesar da severa escassez em diversos setores da economia, governo de Nicolás Maduro não admite que haja uma crise humanitária na Venezuela Foto: EFE/Reprodução |
Como a maioria do que é consumido no país, a farinha de
trigo e a bebida são importadas. O governo restringiu nos últimos anos ao
máximo a oferta de dólares para a iniciativa privada trazer insumos de fora da
Venezuela e tomou para si a responsabilidade de importar e abastecer o mercado
interno, o que acabou não acontecendo.
Ainda de acordo com o bispo auxiliar, a crise tem
prejudicado o trabalho da Igreja junto aos pobres. Com cada vez mais gente
passando fome no país – 87% da população está abaixo da linha da pobreza e
64,3% emagreceu mais de 11 quilos em 2017 com a escassez –, muitos recorrem à
Igreja por um auxílio.
“Até o ano passado, saíamos distribuindo sopa para os
mais necessitados, mas está cada vez mais difícil”, afirmou Ruiz. “Muitas
vezes, eles deixam as crianças nas paróquias com a esperança de que nós lhes
daremos comida.”
Agência Estado
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