terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

➤Crise na Venezuela

Igrejas não têm hóstia para comunhão


O corpo de Cristo está em falta na Venezuela. Às vezes, o sangue também. Com a escassez de alimentos, padres têm tido cada vez mais dificuldade de dispor de hóstias e vinho para a Eucaristia nas missas do país, onde 96% da população é católica.

Em Mérida, no oeste da Venezuela, padres e bispos têm de pedir a outros religiosos hóstias que sobraram de outras celebrações ou repartir pão. Segundo o bispo auxiliar da Arquidiocese de Mérida, Luis Enrique Rojas Ruiz, o problema não é novo, mas se agravou nos últimos meses, assim como a crise humanitária no país. 

“A escassez de farinha e de vinho para consagração afeta todo o país. Já levamos o problema para a Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) e, na ocasião, outros bispos levantaram o mesmo problema”, disse Ruiz. “Há meses entramos com o pedido para comprar farinha, mas não há. Em outras ocasiões, nos colocam numa lista ou não há o suficiente para produzir as hóstias.”

O religioso diz que é difícil também conseguir vinho para a consagração durante a Eucaristia. “É uma situação lamentável, que atinge diretamente a Igreja e os fiéis”, afirmou. “Tivemos de escrever uma carta para os bispos de Cúcuta (na Colômbia, a 254 km de Mérida), para que nos ajudassem.”

Apesar da severa escassez em diversos setores da economia, governo de Nicolás Maduro não admite que haja uma crise humanitária na Venezuela 
Foto: EFE/Reprodução
Como a maioria do que é consumido no país, a farinha de trigo e a bebida são importadas. O governo restringiu nos últimos anos ao máximo a oferta de dólares para a iniciativa privada trazer insumos de fora da Venezuela e tomou para si a responsabilidade de importar e abastecer o mercado interno, o que acabou não acontecendo. 

Ainda de acordo com o bispo auxiliar, a crise tem prejudicado o trabalho da Igreja junto aos pobres. Com cada vez mais gente passando fome no país – 87% da população está abaixo da linha da pobreza e 64,3% emagreceu mais de 11 quilos em 2017 com a escassez –, muitos recorrem à Igreja por um auxílio.

“Até o ano passado, saíamos distribuindo sopa para os mais necessitados, mas está cada vez mais difícil”, afirmou Ruiz. “Muitas vezes, eles deixam as crianças nas paróquias com a esperança de que nós lhes daremos comida.”

Agência Estado

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