Quem é mais anti-Lula*
Eliane Cantanhêde
Ao mesmo tempo em que viabiliza sua candidatura à
Presidência da República, Geraldo Alckmin patina nas pesquisas e atrai pressões
e ataques especulativos de dentro e de fora do PSDB e até mesmo de adversários.
Isso significa fraqueza, mas também pode significar força.
Se Alckmin não empolga, está em quarto lugar e não
consegue criar a expectativa de vitória, por que ele incomoda tanto, preocupa
tanto, mobiliza tanto os adversários? Porque, em uma política polarizada como
continua sendo a brasileira, um candidato do PSDB, qualquer que seja, ainda é
um fator relevante na eleição. Especialmente se o PT é quem lidera.
Ao dizer que os antilulistas estão migrando para Jair
Bolsonaro, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, não faz uma mera constatação e
sim exercita uma estratégia: insuflar Bolsonaro e minimizar Alckmin. Apesar dos
pesares, para Lula é melhor Bolsonaro do que Alckmin no segundo turno.
Bolsonaro se consolidou e não faltam relatos de como é
recebido em festa pelo País afora e estimula anônimos a lançarem camisetas para
ele no Aeroporto de Brasília, outdoors em Criciúma (SC) e adesivos de carro em
Natal, para ficar em poucos exemplos. Mas Bolsonaro não tem a estrutura
partidária, as alianças, o tempo de TV, os recursos e a experiência de Alckmin.
E, ao contrário de quem é governador de São Paulo, também não tem muito o que
mostrar em uma campanha.
Logo, o tucano Alckmin é “mais perigoso” para um candidato
petista do que um deputado que vive há 25 anos da política, mas se diz
antipolítico. Por isso, os petistas vão martelar o oposto: que Bolsonaro é o
anti-Lula e Alckmin não está com nada. Para bom entendedor, basta: eles temem
Alckmin.
A vida do tucano, porém, não está nada fácil e a cobrança
sistemática é de que Alckmin tem prazo: ou encorpa nas pesquisas até fevereiro,
ou vai enfrentar competição interna. Ali ao lado, na espreita, estarão João
Doria e Luciano Huck. Eles estão praticamente fora do páreo, mas “praticamente”
não quer dizer “totalmente”.
Hoje, é surpreendente que Alckmin esteja empatado com
Ciro Gomes, apesar das gritantes diferenças de condições entre eles, a começar
do óbvio: um tem a exibição de governador do principal Estado, o outro está sem
mandato. Mas nem os mais críticos a Alckmin creem que isso se manterá assim.
O foco das articulações é aglutinar forças políticas, mas
as forças disponíveis estão com o pé atrás. Bolsonaro não agrega, Lula está
vendo o PSOL, a Rede e até o PCdoB lançarem candidatos próprios e Alckmin tenta
uma articulação malandra: quer que o governo e o PMDB o apoiem, mas sem ele e o
PSDB apoiarem o governo e o PMDB. Ou seja: ele quer usufruir das facilidades do
governo, mas sem dividir o desgaste de popularidade. A política não costuma
funcionar assim. Aliás, nem as relações comerciais e pessoais.
As mexidas no tabuleiro de 2018, onde já estão colocados
Lula (na dependência da Justiça) e Bolsonaro, são o lançamento de Marina Silva
em uma cerimônia simplória, o anúncio de que o PCdoB vai de Manuela D’Ávila e a
expectativa do PSOL de trocar Luciana Genro por Guilherme Boulos na cabeça de
chapa.
Henrique Meirelles? Ex-presidente do BC nos oito anos de
Lula, ele não tem um só voto no PT. Ministro da Fazenda de Temer, nunca teve
uma só palavra de apoio público à sua candidatura. Filiado ao PSD, vê Gilberto
Kassab, presidente do partido, se guardando para quando o carnaval chegar.
Meirelles diz que o governo terá candidato, mas não será Alckmin. Pode até não
ser, mas depende do cenário em fevereiro. Ou melhor: depende da capacidade de
Alckmin empolgar e se afirmar como “o cara” para unir o centro contra “a
ameaça” Lula versus Bolsonaro.
*Publicado no Portal Estadão em 05/12/2017
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