Semana de horrores*
Convenção do PSDB fechou uma semana
de escárnio e
irritação na política
Eliane Cantanhêde
A convenção
nacional do PSDB encerrou ontem uma semana de horrores na
política, com personagens relevantes produzindo cenas inacreditáveis de
escárnio. Lula choca
pela cara de pau, a oposição mergulha no mais irresponsável populismo, a base
governista dá shows de fisiologismo e os tucanos afundam em descrédito,
enquanto o governo vai perdendo a guerra que realmente interessa ao País: a
reforma da Previdência.
O troféu cara de pau vai para Lula, sempre ele, que
aproveitou um comício em Maricá, único município do Rio governado pelo PT, para
pronunciar duas barbaridades. Segundo ele, “a Lava Jato não pode fazer o que está fazendo com o
Rio”. E mais: “Porque dizem que meia dúzia roubou,
não podem causar o prejuízo que estão causando à Petrobrás”. É de amargar.
Quem quebrou o Rio foi a Lava Jato?! E quem quase quebrou
a Petrobrás, liderando aquela “meia dúzia”?! Você responde, porque o juiz
Sérgio Moro, ocupadíssimo tentando dar um jeito no que fizeram não só no Rio,
mas no País, avisa que não bate boca com condenado.
Por falar no Rio, o ex-governador Sérgio Cabral e
sua mulher, Adriana Ancelmo, vão fazer um curso de Teologia na Faculdade
Batista do Paraná. Um curso a distância, claro, já que os dois, como “vítimas”
da Lava Jato e de seus desdobramentos, estão passando uns tempos no Presídio de
Benfica. De Teologia?! Numa faculdade do Paraná de Moro?!
Outra contribuição para a semana veio do campeão de votos
para a Câmara (1,3 milhão de votos em 2010). Depois de sete anos de
mandato, o deputado
Tiririca subiu à tribuna para fazer o seu discurso de “oi, tchau” e
se disse “decepcionado” e “com vergonha” da política. Típico caso de “cuspir no
prato em que comeu”, o que desmente seu slogan de campanha: “Tiririca, pior do
que está não fica”. Ficou.
O governo Michel Temer participou
do festival, claro. Quando a Coluna do Estadão publicou, todo mundo
achou absurdo, mas, sim, aliados confirmam que a coordenação
política do Planalto vai para... o deputado Carlos Marun, que
liderou a tropa de choque contra a cassação do notório Eduardo Cunha e o
presenteia com guloseimas na cadeia em Curitiba.
É assim que saem o tucano Antonio Imbassahy e o PSDB e
entram (no coração, na alma e no bolso do governo) Marun e o Centrão. O governo
Temer vira definitivamente o governo do Centrão, mas nem assim consegue aprovar
a reforma da Previdência, deixando sérias dúvidas sobre ônus e bônus e sobre
uma candidatura comum para 2018.
Para não parecer que tudo isso é coisa só de Brasil,
Donald Trump desengavetou uma decisão dos anos 1990, deu uma canetada
transferindo a embaixada americana em Israel para Jerusalém e jogou pólvora no
incêndio da Cisjordânia? Que Brasil é esse? Que potência é essa? Que mundo é
esse?
É assim que Geraldo Alckmin assume
a presidência do PSDB e traça sua estratégia para 2018 com base na velha
política, como se nada tivesse mudado. Mudou, governador! Os cidadãos estão
enojados, movimentos reformistas se consolidam, a busca do “novo” é real e as
redes sociais vieram para ficar – e crescer. Ao fugir ao seu próprio programa e
à responsabilidade pela transição, o PSDB não apenas “envelheceu”, como diz
Armínio Fraga. Está caindo na vala comum. E, se é para cair na vala comum, que
vençam os Lula, os Cabral, os Bolsonaro, os Tiririca. Depois, é só botar a
culpa de tudo na Lava Jato. E, em vez de seguir em frente, andar para trás.
Para inglês ver
Atenção ao Judiciário nesta semana: de um lado,
publicam-se as planilhas com os salários e as regalias, como se fosse para
mudar; de outro, o CNJ garante as regalias, o auxílio-moradia e otras cositas
más, exatamente para manter tudo como está.
*Publicado no Portal Estadão em 10/12/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário