Clima no Planalto é de ‘bola para frente’*
'Fim da ficção do Rodrigo Janot, de volta à realidade do
Brasil'
era uma das frases engatilhadas para o pronunciamento do presidente
Eliane Cantanhêde
O Palácio do Planalto levou dois sustos nesta
quarta-feira, 25, a inesperada internação do presidente Michel Temer no
Hospital do Exército e a dificuldade em dar quórum para derrotar a segunda denúncia
no plenário da Câmara. Apesar disso, a vitória estava garantida desde o início
e o sentimento no governo era e é de “bola para frente!”.
Por causa da obstrução na uretra, do procedimento médico
e da anestesia, Temer teve de cancelar uma reunião com os ministros Eliseu
Padilha e Moreira Franco – também denunciados, como ele – para definir o tom e
o conteúdo de um pronunciamento que ele pretendia fazer à Nação.
A intenção era, e continua sendo, insistir num ponto:
depois de duas denúncias, ambas derrubadas pela Câmara, é hora de retomar a
normalidade, a agenda de reformas abruptamente interrompida pelo escândalo JBS
e os avanços na economia. Aliás, argumentos repetidos insistentemente pelos
deputados que votaram a favor de Temer.
“Fim da ficção do Rodrigo Janot, de volta à realidade do
Brasil” era uma das frases engatilhadas para o pronunciamento do presidente,
que deveria, ou deverá, enumerar dados econômicos positivos. Além da queda da
inflação, do sexto mês da volta de empregos e da perspectiva de crescimento de
mais de 3% em 2018, a ideia é falar de êxitos nesta mesma semana.
Enquanto o Congresso se preparava para votar a segunda
denúncia e Temer abria os cofres para as emendas dos parlamentares dos
votantes, o Banco Central baixava os juros para 7,5%, o Senado votava
importante projeto sobre a leniência das empresas e o mercado se debruçava
sobre o leilão do pré-sal, marcado para esta sexta-feira, 27.
A expectativa do Planalto é de que, sem a obrigatoriedade
de participação da Petrobrás, a presença de grandes empresas estrangeiras será
forte, criando um bom momento para mostrar a volta da confiança dos
investidores internacionais no Brasil.
O Planalto, portanto, quer mostrar normalidade, avanços,
segurança e disposição de mudar as coisas para melhor, mas tudo isso depende da
capacidade e da força política de Temer para retomar a reforma da Previdência,
que já foi considerada fundamental nos governos Fernando Henrique, Lula e Dilma
Rousseff, mas nenhum deles conseguiu ir até o fim.
Temer, que se sente vitorioso e revigorado politicamente,
aposta tudo nisso, mas a vitória na Câmara não significa que os problemas
evaporaram e tudo está resolvido e às mil maravilhas. Nem a própria saúde do
presidente.
*Publicado no Portal Estadão em 26/10/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário