Lula, o sócio oculto*
Tal qual um Fausto dos trópicos, Lula vendeu ao diabo
o
que era uma biografia virtuosa
Vera Magalhães
As últimas e estarrecedoras revelações do submundo da
empreiteirocracia instituída no Brasil por Luiz Inácio Lula da Silva e mantida
sob Dilma Rousseff não deixam dúvida: Lula não era apenas beneficiário, mas
sócio majoritário e idealizador do esquema que pilhou a Petrobrás, o BNDES, o
setor elétrico, a Receita Federal e sabe-se lá mais quantos pedaços do Estado.
Mais: Lula se tornou sócio dos empreiteiros não só depois
de instalado no Palácio do Planalto. As negociatas começaram bem antes, quando
o sindicalista ainda começava a angariar a fama que viria a ter.
Foi nessa época, ainda no fim dos anos 1970, que o
petista começou a se mostrar maleável a vender suas convicções na bacia das
almas do pragmatismo, ajudando Emílio Odebrecht a pacificar uma greve no Polo
Petroquímico de Camaçari, na Bahia.
Depois de perder três eleições presidenciais, o pacto se
tornou escancarado. O que até algumas semanas era atribuído a uma ideia
conjunta de José Dirceu, Antonio Palocci e Duda Mendonça, a tal Carta ao
Povo Brasileiro, de 2002, agora se sabe que foi uma nota promissória assinada
por Lula com a Odebrecht, que viria a ser descontada em gordas parcelas ao
longo dos 13 anos seguintes.
Foi já naquela primeira campanha vitoriosa que a
empreiteira percebeu as chances de vitória do antes triderrotado e apostou nele
suas fichas, na forma de financiamentos de campanha por meio de caixa 2 e
pagamentos no exterior. Antonio Palocci foi o intermediário, desde então, disso
que viria a se tornar uma sociedade lucrativa para todos.
Diante da enormidade dos desvios de recursos públicos,
contratos fraudados, medidas provisórias sob encomenda, empréstimos danosos aos
interesses nacionais, loteamento de diretorias e gerências de estatais, obras
superfaturadas e superdimensionadas e políticas econômicas deletérias — como as
regras do pré-sal, as desonerações, os múltiplos Refis, investimentos em países
como Cuba e Angola —, o apartamento triplex no Guarujá e o sítio de Atibaia
entregues à família Lula, e ridiculamente disfarçados em nome de terceiros, são
migalhas.
Tal qual um Fausto dos trópicos, Lula vendeu ao diabo o
que era uma biografia virtuosa, de um homem que se fez lutando contra
circunstâncias pessoais, econômicas, familiares e políticas em tudo adversas,
que mudou a lógica do sindicalismo pelego que se praticava desde Vargas, que
fundou um partido do nada liderando de operários a intelectuais, que chegou ao
poder prometendo fazer a inclusão social tão adiada no Brasil.
E o fez de caso pensado, sem nenhum drama de consciência.
Usando sua propagada inteligência e a intuição política sempre louvada,
inverteu o jogo e submeteu as poderosas empreiteiras à lógica do “dão ou
descem” do trem do Brasil grande, inflado por ele e implodido por sua
sucessora.
Dada a dimensão do sequestro institucional, econômico e
político praticado pelo PT e revelado em capítulos cada vez mais deprimentes
desde o mensalão, chegando ao ápice com as delações dos “capos” das empreiteiras,
chega a soar ridícula qualquer tentativa de paralelo traçada pela esquerda
aturdida com outros esquemas criminosos pescados junto na rede da Lava Jato.
Todos têm de ser punidos e seus beneficiários de
diferentes partidos, de tucanos a comunistas, passando pelos peemedebistas de
sempre, merecem a aposentadoria compulsória da política e a pena da lei.
Mas que não reste dúvida: o verdadeiro sócio do esquema
criminoso que colocou em xeque a ainda incipiente democracia brasileira atende
pela alcunha de Lula, e sua máscara caiu indubitavelmente diante dos olhos da
Nação. Quem ainda não enxergou é porque não quer mesmo ver.
*Publicado no Portal Estadão em 23/04/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário