Falta um empurrão*
Este ano deve ser melhor que 2016, mas nem por isso as
empresas voltarão a contratar nos próximos meses. Otimismo, sim, mas com muita
cautela. A maioria dos dirigentes de empresa ainda não tem confiança suficiente
para justificar novos investimentos e ampliação, ou mera recomposição, do
quadro de pessoal. Esse panorama, já indicado por múltiplos sinais no segundo
semestre de 2016, foi mais uma vez confirmado por uma sondagem da PwC divulgada
em Davos, um dia antes do início das discussões do Fórum Econômico Mundial.
Mais que informação, esse relatório é mais uma advertência para o governo.
O presidente Michel Temer e seus ministros econômicos têm
confiado, aparentemente, que a sucessão de notícias positivas funcione como
combustível para o entusiasmo dos empresários. Boas notícias têm aparecido. O
teto para o aumento de gasto foi aprovado, a inflação tem diminuído, o Banco
Central acelerou o corte de juros e políticos têm declarado apoio à reforma da
Previdência. Empresários têm reagido bem a essas novidades, mas há uma
distância entre essa reação e a decisão de pôr mais dinheiro nos negócios.
Executivos brasileiros estão entre os mais otimistas do
mundo quanto à possibilidade de expansão de suas companhias neste ano, segundo
a pesquisa recém-publicada. O otimismo é ainda mais sensível quando a
perspectiva se estende para três anos. Repete-se, nesse relatório, um detalhe
observado em muitas outras pesquisas. O dirigente confia mais no dinamismo da
própria empresa do que no vigor da economia. Por isso a cautela predomina. A
ordem ainda é cortar custos, buscar maior eficiência com os meios disponíveis e
esperar melhor oportunidade para ações de maior alcance. Mas, nesse caso, de
onde virá o crescimento?
O menor endividamento das famílias e das empresas
favorece o consumo e a produção. A inflação em queda também é um fator positivo
para a recuperação. Com menor alta de preços também diminui a erosão da renda
familiar. Além disso, a redução dos juros abre a perspectiva de crédito mais
acessível. Por enquanto a palavra perspectiva é a mais adequada, porque o custo
dos financiamentos permanece muito elevado. Mas o sinal é positivo.
Somados todos os bons indícios, parte dos dirigentes de
empresa poderá ser estimula a aplicar mais dinheiro na formação de estoques e,
quem sabe, numa preparação mais ampla para quando os negócios voltarem a
florescer.
Mas é difícil, por enquanto, imaginar mudanças muito mais
sensíveis e rápidas. O Brasil chegou ao fim do ano com 12,1 milhões de
desempregados. Milhões de famílias mal conseguem o dinheiro necessário para os
gastos essenciais. Ou foram atingidas diretamente pelas demissões ou vivem o
temor de alguém ser demitido. Esse temor, no fim de 2016, era mais generalizado
que um ano antes, segundo pesquisa publicada há menos de um mês.
O desemprego, portanto, ainda será por um bom tempo um
freio ao consumo, por causa do empobrecimento de muitas famílias ou pelo temor
de gastar numa situação de muita insegurança. Alguns analistas têm previsto
novo aumento da desocupação antes de um recomeço das contratações.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, menciona
indícios de melhora, visíveis nas encomendas de material de embalagem ou de insumos
para produção. Um começo de recuperação, segundo ele, será notado quando sair o
balanço do primeiro trimestre. A evolução ainda será modesta e pouco visível
quando o nível médio de produção deste ano for comparado com o de 2016. A
reativação ficará mais clara, acrescenta, quando se confrontarem os números do
quarto trimestre de 2017 com os dos três meses finais do ano anterior.
A comparação, arrisca o ministro, poderá mostrar um
crescimento, na ponta, de 2%. Prudentemente o governo se abstém de maiores
promessas. Não deveria, no entanto, renunciar a um esforço para criar condições
de uma retomada um pouco mais rápida. Não faltarão capitais privados para
projetos bons, se o governo for capaz de promovê-los.
*Publicado no Portal Estadão em 18/01/2017
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