quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

➤OPINIÃO

Falta um empurrão*

Este ano deve ser melhor que 2016, mas nem por isso as empresas voltarão a contratar nos próximos meses. Otimismo, sim, mas com muita cautela. A maioria dos dirigentes de empresa ainda não tem confiança suficiente para justificar novos investimentos e ampliação, ou mera recomposição, do quadro de pessoal. Esse panorama, já indicado por múltiplos sinais no segundo semestre de 2016, foi mais uma vez confirmado por uma sondagem da PwC divulgada em Davos, um dia antes do início das discussões do Fórum Econômico Mundial. Mais que informação, esse relatório é mais uma advertência para o governo.

O presidente Michel Temer e seus ministros econômicos têm confiado, aparentemente, que a sucessão de notícias positivas funcione como combustível para o entusiasmo dos empresários. Boas notícias têm aparecido. O teto para o aumento de gasto foi aprovado, a inflação tem diminuído, o Banco Central acelerou o corte de juros e políticos têm declarado apoio à reforma da Previdência. Empresários têm reagido bem a essas novidades, mas há uma distância entre essa reação e a decisão de pôr mais dinheiro nos negócios.

Executivos brasileiros estão entre os mais otimistas do mundo quanto à possibilidade de expansão de suas companhias neste ano, segundo a pesquisa recém-publicada. O otimismo é ainda mais sensível quando a perspectiva se estende para três anos. Repete-se, nesse relatório, um detalhe observado em muitas outras pesquisas. O dirigente confia mais no dinamismo da própria empresa do que no vigor da economia. Por isso a cautela predomina. A ordem ainda é cortar custos, buscar maior eficiência com os meios disponíveis e esperar melhor oportunidade para ações de maior alcance. Mas, nesse caso, de onde virá o crescimento?

O menor endividamento das famílias e das empresas favorece o consumo e a produção. A inflação em queda também é um fator positivo para a recuperação. Com menor alta de preços também diminui a erosão da renda familiar. Além disso, a redução dos juros abre a perspectiva de crédito mais acessível. Por enquanto a palavra perspectiva é a mais adequada, porque o custo dos financiamentos permanece muito elevado. Mas o sinal é positivo.

Somados todos os bons indícios, parte dos dirigentes de empresa poderá ser estimula a aplicar mais dinheiro na formação de estoques e, quem sabe, numa preparação mais ampla para quando os negócios voltarem a florescer.

Mas é difícil, por enquanto, imaginar mudanças muito mais sensíveis e rápidas. O Brasil chegou ao fim do ano com 12,1 milhões de desempregados. Milhões de famílias mal conseguem o dinheiro necessário para os gastos essenciais. Ou foram atingidas diretamente pelas demissões ou vivem o temor de alguém ser demitido. Esse temor, no fim de 2016, era mais generalizado que um ano antes, segundo pesquisa publicada há menos de um mês.

O desemprego, portanto, ainda será por um bom tempo um freio ao consumo, por causa do empobrecimento de muitas famílias ou pelo temor de gastar numa situação de muita insegurança. Alguns analistas têm previsto novo aumento da desocupação antes de um recomeço das contratações.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, menciona indícios de melhora, visíveis nas encomendas de material de embalagem ou de insumos para produção. Um começo de recuperação, segundo ele, será notado quando sair o balanço do primeiro trimestre. A evolução ainda será modesta e pouco visível quando o nível médio de produção deste ano for comparado com o de 2016. A reativação ficará mais clara, acrescenta, quando se confrontarem os números do quarto trimestre de 2017 com os dos três meses finais do ano anterior.

A comparação, arrisca o ministro, poderá mostrar um crescimento, na ponta, de 2%. Prudentemente o governo se abstém de maiores promessas. Não deveria, no entanto, renunciar a um esforço para criar condições de uma retomada um pouco mais rápida. Não faltarão capitais privados para projetos bons, se o governo for capaz de promovê-los.

*Publicado no Portal Estadão em 18/01/2017

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