Pó de
pirlimpimpim*
Eliane
Cantanhêde
Todos batem,
todos apanham, e o PT e a presidente Dilma Rousseff tentam se agarrar a um
salvador da Pátria: Luiz Inácio Lula da Silva. É como se Lula, num passe de
mágica, ou com seu pó de pirlimpimpim, tal qual na obra de Monteiro Lobato,
tivesse poderes para acabar com a pancadaria, estancar a Lava Jato, dar um
choque na economia, inebriar a sociedade, salvar Dilma e se eleger nos braços
do povo em 2018. Ufa!
Antes de todos
esses resultados mirabolantes, Lula precisa salvar a si mesmo do tríplex, do
sítio e das empreiteiras que desabam sobre ele sob o peso das delações
premiadas que se sucedem. A do senador Delcídio Amaral, que explodiu de vez o
ambiente político, cita Lula 186 vezes e acrescenta duas bombas contra ele: a
tentativa de comprar (literalmente) o silêncio de Marcos Valério no mensalão e
de Nestor Cerveró no petrolão.
Como advertiu o
ministro Marco Aurélio Mello, em entrevista à Rádio Estadão, a posse num
ministério assegura a Lula foro privilegiado, não impunidade. Ele sai das
garras do juiz Sérgio Moro, mas “nada garante que o Supremo será benévolo”.
E a tal
recuperação da confiança? Assim como os fiéis creem em dogmas e as ovelhas
pagam dízimos, os lulistas se dizem convencidos de que basta Lula sentar no
Planalto e assumir um “superministério” para que todos se rendam à sua
divindade e a economia dispare. Será?
Ontem mesmo, o
dólar, que despencava com a possibilidade do impeachment, voltou a subir. As
Bolsas, que se alvoroçavam, murcharam de novo. Entre o impeachment de Dilma e a
ressurreição de Lula, parece claro qual a torcida do “mercado”. Aliás, assim
como a dos milhões de pessoas que cobriram as ruas do País de verde e amarelo e
transformaram a Avenida Paulista num rio Amazonas de críticas e de esperança.
A única coisa
certa é que, com Lula de volta, está decretado o fim de Dilma. Quem vai dar os
rumos da economia e da comunicação para “animar” os incrédulos? Com quem
ministros, assessores, jornalistas e empresários vão despachar? O que sobra
para Dilma fazer, além de andar de bicicleta?
Será uma
renúncia branca, menos de uma semana após Dilma arrogantemente dizer que “não
tem cara de quem renuncia”. Será também um autogolpe, com uma boa dose de
ironia: o PT tanto falou que seria golpe aplicar a Constituição para estancar a
crise e é quem está derrubando a sua presidente.
Dilma fica na
cadeira, Lula ganha foro privilegiado, mas nem por isso a Lava Jato vai parar
de inundar o País de notícias estarrecedoras. Todo dia uma pior do que a outra.
E a fila de delatores continua crescendo. Delcídio implode o Executivo, o
Legislativo, quiçá o Judiciário, Pedro Corrêa faz a ponte entre mensalão e
petrolão, Monica Moura sabe tudo sobre as relações perigosas entre políticos e
empreiteiras. E continua o bolão de apostas sobre se, ou quando, Marcelo Odebrecht
vai jogar a toalha.
A oposição está
em festa, certo? Em tempos normais de tempo e temperatura, faria sentido, mas o
senador Aécio Neves está sendo arrastado por Delcídio para o olho do furacão
por causa da recorrente Furnas e porque teria interferido na CPI dos Correios
para livrar o PSDB de Minas de mutretas com o Banco Rural.
Quanto ao
ministro Aloizio Mercadante, há três pontos cruciais na fala dele para o
assessor de Delcídio: disse que o governo poderia ajudar, ofereceu-se para dar
uma palavrinha com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, e deixou no ar uma
frase deveras intrigante. Ao explicar seu empenho pró-Delcídio, justificou
assim: “Pra ele não ser um agente que desestabilize tudo”. Tudo o quê? E por
quê?
Senhoras e
senhores, o mundo está desabando. Só crê que o pó de pirlimpimpim de Lula vai
resolver tudo quem acredita em histórias da carochinha, ou precisa
desesperadamente se agarrar a qualquer coisa.
*Publicado no Portal Estadão em 16/03/2016