PT saudações*
Vera Magalhães
Se alguém ainda acreditava na possibilidade de Luiz
Inácio Lula da Silva ser candidato novamente à Presidência da República em
2018, mesmo depois da Lava Jato e do impeachment de Dilma Rousseff, o eleitor
brasileiro tratou de dizer de forma clara e cristalina: não vai acontecer.
A derrota do PT é tão avassaladora que não permite
nenhuma leitura atenuante. Não se salvou nada nem ninguém no partido. Mesmo o
rosário da renovação da sigla, que começou a ser desfiado por Tarso Genro e
outros, não sobrevive a uma constatação dura: não há candidatos aptos à tarefa.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, citado como
opção na terra de cegos que virou o partido, não quer assumir a missão nem
seria um nome com trânsito suficiente para desbancar os caciques de sempre e
enterrar de vez o lulismo – do qual, diga-se, foi um dos últimos produtos
exitosos.
Sim, porque a única remota chance de o PT se reerguer
seria enterrar o lulismo, mas o partido há muito tempo fez a opção oposta, a de
se enterrar se for preciso para defender Lula, em uma simbiose que as urnas
acabam de rechaçar de maneira fragorosa.
Tanto que o partido não consegue pensar em uma
alternativa para 2018 que não seja seu “comandante máximo”, para usar a
designação que a Lava Jato deu ao ex-presidente.
A insistência na tese de que Lula é vítima de perseguição
– com lances patéticos como queixa à ONU e manifestações internacionais
bancadas por “sindicatos” que nada mais são que versões da CUT para gringo ver
– mostra que o PT decidiu atrelar seu destino ao do ex-presidente.
Dilma já parece ter sido esquecida pelos petistas na
mesma velocidade com que o foi pelos brasileiros. Tanto que, com exceção de
Jandira Feghali, ninguém se lembrou dela nas eleições municipais.
A presidente cassada tem sido vista fazendo compras
tranquilamente no Rio, em um sinal inequívoco de que o discurso de que houve um
golpe era uma fantasia, a única saída para um partido que perdeu o poder porque
já não tinha condições de governar nem apoio popular, como o resultado das
eleições tratou de deixar evidente.
É essa reflexão que o PT terá de fazer se quiser se
refundar. Isso pressupõe admitir que patrocinou um esquema de corrupção cuja
dimensão ainda está por ser inteiramente conhecida. Admitir que levou a
economia do País à maior recessão da história. Que perdeu a governabilidade
antes de Dilma perder a cadeira. E que Lula não é uma vítima de uma perseguição
implacável que envolve Judiciário, imprensa, Ministério Público e sabe-se lá
mais quem.
Quais as chances de o partido fazer isso seriamente?
Remotas, para não dizer inexistentes.
Do outro lado do pêndulo político, o PSDB sai do pleito
municipal como o grande vencedor mais por memória do eleitorado de décadas de
polarização com o PT do que por força própria. Mas o fim dessa alternância,
pelo simples fato de que um dos polos se esfacelou, também obrigará os tucanos
a reverem sua estratégia para voltar a ter chance de governar o País.
Isso significa trocar as disputas de bastidores entre
caciques para ver quem será o candidato da vez, uma constante desde a sucessão
de Fernando Henrique Cardoso, por alguma nitidez programática capaz de mostrar
ao eleitorado que o partido tem um projeto para tirar o País do buraco.
A pulverização de votos por uma miríade de siglas mostra
que o eleitor, embora ainda enxergue no PSDB e PMDB as alternativas mais
seguras à ruína petista, começa a procurar opções.
A negação da política é uma das marcas indeléveis de
2016. O único político de expressão nacional que saiu vitorioso, Geraldo
Alckmin, acertou ao perceber o Zeitgeist e apostar em um candidato em São Paulo
com o discurso da não política. Em escala nacional, no entanto, o País já viu o
estrago que a eleição de um outsider pode provocar. Com Fernando Collor, antes.
E com Dilma depois.
*Publicado no Portal Estadão em 31/10/2016
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