A Lava Jato chegando lá*
Como se estivesse sendo seguido o método da escalada
hierárquica no processo de investigação e apresentação de denúncias da Operação
Lava Jato e congêneres, nos últimos dias o chefão Lula da Silva tornou-se réu,
pela segunda vez, e dois ex-ministros da Fazenda dos governos petistas, Guido
Mantega e Antonio Palocci, tiveram prisão temporária decretada. Figuras de
menor expressão política, camaradas espertos, operadores obedientes e
empresários inescrupulosos, todos beneficiários do maior esquema de corrupção
no governo federal de que se tem notícia no País, já estão atrás das grades.
Aperta-se o cerco agora em torno dos responsáveis maiores por esse esquema que,
conforme se torna cada dia mais evidente, tinha como objetivo principal
financiar o projeto lulopetista de perpetuação no poder. Tudo leva a crer,
diante da devastadora evidência de um conjunto probatório meticulosamente
trabalhado pela polícia e pelo Ministério Público, que o Judiciário continuará
condenando os larápios do dinheiro público, até esgotar o primeiro escalão
dessa hierarquia de delinquentes.
O mais recente desses eventos, a prisão temporária do
ex-ministro Antonio Palocci, provocou mais uma vez reações que colocam a nu as
incoerências e contradições do lulopetismo e dos “progressistas” a ele
atrelados, quando se trata do combate à corrupção. Como a Lava Jato se tornou
símbolo da resistência à bandidagem dos maus políticos, ninguém ousa a ela se
opor abertamente. Mas a cada figurão do PT que cai em suas malhas,
imediatamente surgem os protestos contra o que seria uma atuação “seletiva” dos
investigadores, movidos pela intenção de atingir “apenas um lado”, preservando
os “outros”.
A Operação Lava Jato foi criada para investigar a prática
de corrupção no governo, a partir do escândalo do petrolão, que acabou se
revelando o desdobramento do mensalão, esquema que inaugurou a opção pragmática
de Lula e sua tigrada de comprar apoio parlamentar para viabilizar seu projeto
de poder. Nunca é demais repetir, o PT não inventou a corrupção, mas promoveu-a
à condição de método de ação política. A Lava Jato, portanto, é um fenômeno da
era lulopetista, e surgiu a partir do momento em que, confiantes na impunidade,
PT et caterva organizaram quadrilhas para o assalto
generalizado aos cofres públicos.
Assim, o PT é o “lado” que montou o propinoduto da
Petrobrás e, sabe-se hoje, de praticamente todas as grandes estatais, dos
fundos de pensão e até mesmo de órgãos da administração direta como o
Ministério do Planejamento, onde se chegou a tungar aposentados dependentes do
crédito consignado. É inevitável, portanto, que os petistas e seus associados
surjam como os principais alvos do combate à corrupção. Principais, mas não únicos,
porque o “outro lado” também aparece, com a frequência proporcional a seu poder
para corromper e a disposição para ser corrompido, em investigações policiais.
Mas há um certo embaralhamento da questão do “nós” e
“eles” que os petistas e agregados não explicam. Se é verdade que a Lava Jato é
obra dos inimigos do PT, por que os petistas acusam o atual governo “golpista”,
“usurpador” e “ilegítimo” de conspirar contra a operação?
A reação que manifestam mais uma vez os petistas, agora à
prisão de Antonio Palocci, é perfeitamente compreensível diante do devastador
efeito de mais essa ação da Lava Jato sobre a já desmoralizada imagem do PT.
Palocci é um político articulado e competente que prestou relevantes serviços a
seu partido, como a famosa Carta
aos Brasileiros, que abriu caminho para a eleição de Lula em 2002, e teve uma
atuação eficaz à frente do Ministério da Fazenda, sob Lula, e da Casa Civil,
sob Dilma. Mas as abundantes evidências do tráfico de influência por ele
praticado com a Odebrecht e depois com os clientes de seus serviços de
consultoria revelam que seu calcanhar de aquiles é a irresistível cobiça pelo
vil metal. Essa fraqueza, que não pega bem quando assola homens públicos, tem
produzido efeitos devastadores quando dela trata a Lava Jato. Seja um lado ou
seja outro, os delinquentes estão indo para a cadeia, purgar seus crimes.
*Publicado no Portal Estadão em 29/09/2016
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