Definitivamente, a temperatura em Porto Alegre, a umidade e o frio, não estão colaborando muito comigo. Atacado por uma crise de asma, passei a segunda-feira em consultórios médicos e hoje, bem cedinho, já estava no laboratório para uma série de exames. A idade também ajuda a acelerar o processo, eu sei, mas também não precisava fazer tanto frio assim. Melhor para meus leitores que ficam com o principal editorial do Estadão.
Tenham todos um Bom Dia!
Sobre honestidade*
A “presidenta honesta” vai ter que encontrar motivo
melhor para denunciar o “golpe” armado contra ela pelos corruptos que “querem
acabar com a Operação Lava Jato”. Marcelo Odebrecht, às vésperas de completar
um ano atrás das grades, em delação premiada acusa a presidente afastada de ter
exigido da maior empreiteira de obras públicas do País R$ 12 milhões de
“contribuição” para a campanha presidencial do PT em 2014. Aquela eleição que
ela venceu por pouco, depois de ter mentido despudoradamente, acusando a oposição
de planejar medidas impopulares que ela própria tentou implementar. Com a
colaboração de Marcelo Odebrecht, portanto, Dilma Rousseff ingressa na
confraria dos políticos que se locupletam no poder ou são investigados sob essa
suspeita. Corre o sério risco de se tornar, por decisão do Congresso e da
Justiça, “ex-presidenta desonesta”.
A delação de Odebrecht, ainda não homologada pelo STF,
teve parte de seu conteúdo vazado pela revista IstoÉ. De acordo com as
informações, a “colaboração” de R$ 12 milhões foi solicitada ao então
presidente da empreiteira pelo então tesoureiro da campanha presidencial
petista, Edinho Silva. Disposto a não atender ao pedido, Marcelo Odebrecht foi
diretamente a Dilma Rousseff, de quem teria recebido a ordem: “É para pagar”.
Por sua vez, o ex-diretor Internacional da Petrobrás
Nestor Cerveró, condenado por seu protagonismo na farra da propina da Petrobrás
em benefício do PT, garante, também em depoimento negociado com a Justiça em
troca da redução de sua pena, que Dilma Rousseff “tinha todas as informações
sobre a Refinaria de Pasadena”, cuja compra deu um prejuízo de R$ 800 milhões à
Petrobrás. Por ocasião desse episódio, a presidente da República afastada
presidia o Conselho de Administração da estatal. E quando o escândalo estourou,
já chefe de governo, Dilma isentou-se de culpa alegando que aprovara a venda da
refinaria com base num relatório técnico “falho” e “incompleto”.
Até o momento, a Operação Lava Jato e congêneres, que
devassam a administração pública federal e revelam o mar de lama em que 13 anos
de governo lulopetista afundaram o País, não encontraram provas de que Dilma
Rousseff se tenha beneficiado, financeira ou patrimonialmente, de quaisquer
ilicitudes. É verdade que à sua sombra vicejaram maracutaias de todo tipo, como
as de que foi acusada seu braço direito, Erenice Guerra, que por esse motivo
teve de se afastar da chefia da Casa Civil, que assumira em substituição à
chefe. Mas, assim como aconteceu com Lula, com o aprofundamento das
investigações, os ares ao redor de Dilma começam a ficar pesados e sulfurosos.
Por conta disso, Dilma ainda pode se agarrar à reputação
de “mulher honesta”, contrapondo-se à imagem de corrupto que estigmatiza, por
exemplo, aquele que ela considera o principal responsável pelo processo de
impeachment, o deputado afastado Eduardo Cunha.
Ocorre que honestidade não é virtude, mas obrigação
elementar de comportamento, especialmente para quem tem a responsabilidade de
administrar a coisa pública. Além disso, ser honesto, probo, não significa
apenas não roubar, meter a mão no alheio, enriquecer dilapidando o bem comum.
Ser honesto na vida pública é administrar com parcimônia os recursos do Tesouro
em atenção à óbvia necessidade de manter as contas do governo equilibradas para
impedir que o descontrole resulte na falta de recursos para investir no que é
necessário, inclusive nos programas sociais. É manter a inflação sob controle,
evitar a recessão das atividades produtivas e, consequentemente, o desemprego
em massa. Ser honesto é não mentir em campanha eleitoral sobre dificuldades
econômicas do País, não prometer o que sabe que não poderá cumprir e muito
menos não acusar os adversários de pretender tirar a comida da mesa dos pobres.
Dilma fez tudo isso na campanha eleitoral de 2014.
Portanto, não é honesta. Ela é populista e o populismo é essencialmente
desonesto e autoritário, porque não distingue o público do privado. O que
começa a ser revelado pelas delações premiadas, no entanto, situa-se noutro
plano político e moral. Prenuncia a revelação de comportamentos pessoais – por
ação e ou por tolerância – que a moral e os bons costumes repudiam.
*Publicado no Estadão.com em 07/06/2016
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