Retorno à
irrelevância*
Dilma Vana
Rousseff não apareceu por um acaso na Presidência da República. Sem nenhuma
qualidade que a credenciasse para tão relevante função pública, ela não teria
subido a rampa do Palácio do Planalto, há cinco anos, se não fosse pela vontade
do capo petista Luiz Inácio Lula da Silva. Julgando-se um semideus da política,
Lula criou Dilma do nada e empenhou seu capital político para conduzi-la ao
cargo mais alto da administração do País, apenas para provar que podia.
Portanto, é na descomunal vaidade de Lula que se deve procurar a origem da
profunda crise que o País ora enfrenta – e foi em reação a essa
irresponsabilidade que o País se levantou, em apoio ao impeachment de Dilma e
em repúdio a Lula.
O impeachment de
Dilma tornou-se imperativo. Tratava-se de colocar um ponto final em uma
trajetória que arruinava o Brasil e os brasileiros e ameaçava a democracia. E
essa trajetória não pode ser compreendida sem que se recapitulem os momentos
mais significativos da farsa conduzida por Lula há 14 anos e que, felizmente,
caminha para seu desfecho.
O chefão do PT
elegeu-se em 2002 e, forçado pela crise causada pelo receio de que ele fosse
adotar a perniciosa agenda petista, governou em princípio conforme a cartilha
do bom senso. Infenso, porém, à divisão do poder inerente ao presidencialismo
de coalizão, construiu sua maioria parlamentar comprando deputados. Reelegeu-se
em 2006 já em meio a grossos escândalos de corrupção – o mensalão – e aderiu de
vez à irresponsabilidade, franqueando os cofres públicos a abutres variados e
alimentando seus empresários de estimação com generosos subsídios. Em troca, o
PT e os demais partidos da base cobraram pedágio sobre a roubalheira e com isso
sustentaram seu projeto de poder.
Inebriado pelo
sucesso dessa fórmula, Lula permitiu que os aloprados de seu partido
alimentassem a ideia de que ele poderia pleitear um terceiro mandato. Era
conveniente, pois o PT, em consequência do mensalão, não tinha nomes
competitivos para disputar a sucessão.
A ideia da
re-reeleição acabou abandonada, pois era excessiva até para os padrões do
lulopetismo, mas eis que Lula encontrou a solução perfeita: inventaria um
candidato, desconhecido o bastante para que pudesse controlá-lo, e, uma vez
eleito, esse dublê se limitaria a guardar lugar para a volta triunfal de Lula
em 2014.
Foi assim que
Lula tirou Dilma Rousseff da cartola. A máquina de propaganda petista criou
para a candidata a imagem de competente administradora. Nada tinha
correspondência com a realidade – por onde havia passado, seja no Conselho de
Administração da Petrobrás, seja no Ministério de Minas e Energia, seja na Casa
Civil, Dilma havia deixado um rastro de negligência, omissão e decisões
voluntariosas e equivocadas.
A tarefa de Dilma
seria apenas não fazer bobagens e cumprir rigorosamente as ordens de Lula. Na
campanha de 2010, ele avisou aos eleitores que Dilma seria apenas um nome na
cédula. “Eu mudei de nome e vou colocar a Dilma lá”, disse Lula, humilhando
publicamente sua criatura.
Mas eis que,
como acontece em todo conto de terror, a criatura resolveu pensar por conta
própria. Passou a acreditar que era presidente de verdade, com direito até a
governar e a reivindicar a reeleição. A desconjuntada mandatária começou assim
a assombrar o País, tomando decisões baseadas em suas convicções
pré-históricas, de linhagem stalinista, que arruinaram
os frágeis avanços das classes mais baixas e atrasaram em ao menos uma década o
desenvolvimento brasileiro. Como isso não bastasse, Dilma, que nunca suportou a
política, alienou sua base de apoio e afastou de si até o PT.
E foi em seu
governo – na verdade, desde que ocupou cargos ministeriais – que prosperou e
eclodiu o maior caso de corrupção da história do Brasil. Não inventou o
petrolão – apenas nada fez para interromper a festa com dinheiro público.
Nesse cenário, a
queda de Dilma era questão de tempo. Mas Dilma só se tornou importante por ter
arruinado o País. Começa a voltar, agora, para sua irrelevância. O mesmo ainda
acontece com Lula, o todo-poderoso que concebeu Dilma e foi o grande
responsável por tão infausto momento na história brasileira – e nutre
esperanças de voltar a morar no Palácio da Alvorada a partir de 2018.
Isso,
definitivamente, o País não merece.
*Publicado no Estadão.com em 12/05/2016
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