A opção pela baderna*
Desde sua fundação, há mais de três décadas, o PT nunca
perdeu uma chance para demonstrar menosprezo pela democracia e suas
instituições. Assim, não surpreende o comportamento lamentável, próprio de
arruaceiros, que alguns parlamentares do PT exibiram no instante em que o
presidente em exercício Michel Temer foi ao Congresso, na segunda-feira
passada, para encaminhar a revisão da meta fiscal. O incidente demonstra de
maneira cabal que o PT confunde oposição firme, legítima em qualquer
democracia, com baderna, que é própria de quem não conhece outra forma de fazer
prevalecer suas vontades que não seja no grito e na marra.
Em pleno Senado, três deputados petistas, Paulo Pimenta,
Helder Salomão e Moema Gramacho, acompanhados de servidores por eles
arregimentados, vaiaram e hostilizaram Temer. Aproveitando-se do mal-estar
gerado por uma gravação clandestina que comprometeu o senador Romero Jucá –
custando-lhe o cargo de ministro do Planejamento por sugerir que ele ajudou a
articular o impeachment da presidente Dilma Rousseff com a intenção de frear a
Lava Jato –, receberam o presidente em exercício aos gritos de “golpista”.
O menor dos absurdos desse episódio é o uso inapropriado
de servidores públicos para funções estranhas a seu trabalho, mormente a
participação em protestos políticos. É preciso lembrar que os funcionários do
Legislativo, mesmo os que servem nos gabinetes, são pagos pelo Estado, e não é
sua função compor claques.
O mais grave, contudo, é a incapacidade dos petistas de
entender como funciona uma democracia representativa e seus rituais – entre os
quais se encontra o respeito solene ao decoro. A atitude truculenta dos
deputados petistas, típica do gangsterismo sindical do partido, infringiu
diversos pontos do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara.
No artigo 3.º, lê-se que é dever fundamental dos
deputados “zelar pelo prestígio, aprimoramento e valorização das instituições
democráticas e representativas e pelas prerrogativas do Poder Legislativo”. O
artigo 5.º afirma que atenta contra o decoro parlamentar “praticar atos que
infrinjam as regras de boa conduta nas dependências da Casa” e “praticar
ofensas físicas ou morais” contra colegas, servidores e autoridades. Ao chamar
de “golpista” o presidente em exercício, que está no cargo por decisão soberana
do Congresso, há não apenas uma ofensa às regras de boa conduta, mas uma clara
ação que desprestigia e desvaloriza o Legislativo.
As exigências de decoro não são um capricho. Ao exigir
que os parlamentares tenham comportamento civilizado, o código parlamentar
procura preservar a essência da democracia, que é limitar o confronto de ideias
ao terreno da política – em que prevalece o debate e a negociação. Por maiores
que sejam as diferenças de opinião entre os diversos grupos representados no
Parlamento, deve-se observar, sempre, o respeito aos oponentes – que, afinal,
lá estão também porque receberam votos. É assim que funciona em democracias
maduras.
Mas o PT nunca demonstrou tal maturidade. Ao contrário: a
democracia, para a tigrada, sempre foi mero instrumento para tomar o Estado de
assalto e acabar com a alternância de poder. Para lastrear esse projeto de
força, mais do que de poder, a máquina de propaganda petista criou o mito
segundo o qual o único movimento político verdadeiramente democrático no Brasil
era o PT; logo, qualquer derrota do PT é tratada como derrota da própria
democracia.
Foi esse espírito que presidiu a manifestação
desrespeitosa dos deputados petistas contra Temer. Não importa que o
afastamento da presidente Dilma tenha sido decidido pelo Congresso conforme o
estabelecido pela Constituição, tampouco interessa se o País precisa
urgentemente de um esforço coletivo para superar a imensa crise que a inépcia
de Dilma e a corrupção lulopetista criaram.
A única coisa que importa é causar
confusão e, por meio da acusação fajuta de “golpe”, impedir que o governo tenha
condições de consertar as lambanças de Dilma e, assim, expor a todos o mal que
o PT causou ao País.
*Publicado no Estadão.com, em 25/05/2016
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