Sinais de implosão à vista*
Lauro Jardim
O passado cobrou a conta. Dilma é vista pelos políticos
como alguém que não cumpre acordos. O governo Dilma parece perto de implodir. Os sinais dos
últimos dias são evidentes.
*As negociações de cargos capitaneadas por Lula não
seduziram deputados e lideranças partidárias que farejam carniça de longe.
*A divulgação de parte da delação premiada dos executivos
da Andrade Gutierrez na quinta-feira passada mexeu irremediavelmente com os
nervos do Planalto.
*As articulações de partidos da base para mudar de lado
ganham força nos bastidores.
*E, finalmente, a votação de segunda-feira na comissão do
impeachment, com a votação pela aceitação do relatório de Jovair Arantes.
Uma das maiores vitórias do governo no início da semana
passada foi criar a sensação de que as negociações comandadas por Lula estavam
avançando. Isso é passado. O PP pode não admitir oficialmente, mas está pulando
do barco. Assim como o PSD e o PR. Até o líder do PMDB, Leonardo Picciani, e o
ministro Celso Pansera, fieis escudeiros de Dilma, preparam o desembarque.
De público, o Palácio do Planalto não admitirá qualquer
revés. Continuará a espalhar previsões otimistas para a votação de domingo. É
do jogo. Em 1992, 24 horas antes do impedimento de Fernando Collor, Roberto
Jefferson, então na linha de frente da tropa de choque do ex-presidente, bradou
que, pela contagem do governo, Collor teria 206 votos a seu favor. Teve 38.
Como um governo que tem a caneta das nomeações na mão não
consegue êxito num ambiente tão favorável a esse tipo de demanda? A culpa não é
de Lula, um político que, reconhecidamente, sabe negociar. Há um outro
problema, intransponível, que pode ser resumido assim: o passado cobrou a
conta. Dilma é carimbada pelos políticos como alguém que não cumpre acordos.
Mesmo com o aval dado por Lula em suas conversas, a turma sedenta por cargos
ficou com um pé atrás.
Aos que têm dúvidas sobre como o próprio governo enxerga
suas chances para barrar o impeachment, uma evidência. O Planalto trabalha para
protelar a votação do dia 17. A oposição, ao contrário, luta para mantê-la.
Quem acha que perde, ensina a lógica, quer adiar o processo para uma última
tentativa de virar o jogo.
*Publicado no Globo.com em 12/04/2016
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