Fim de feira*
No deplorável fim de feira em que se
transformou seu mandato, a presidente Dilma Rousseff decidiu vender o governo a
granel para tentar impedir seu impeachment. Não se trata somente de escancarar
a administração pública federal aos políticos fisiológicos, distribuindo cargos
e verbas a quem se dispuser a defendê-la no Congresso. Dilma também resolveu
mostrar-se disposta a entregar de vez a chave dos depauperados cofres do Estado
aos inimigos da racionalidade econômica, satisfazendo a agenda suicida dessa turma
de irresponsáveis em troca de apoio. Essa situação torna o afastamento de Dilma
ainda mais urgente: é preciso que a petista seja destituída o quanto antes,
para que ela não tenha condições de ampliar a ruína do País.
A inconsequência de Dilma, que já teria
renunciado se tivesse algum apreço pelo Brasil, é o retrato perfeito do apego
fanático da tigrada ao poder. Os lulopetistas consideram que os 54 milhões de
votos que Dilma recebeu em 2014 conferem legitimidade automática a todos os
seus atos, razão pela qual qualquer tentativa de fazê-la pagar pelos delitos
cometidos por sua administração configura “golpe”. Ora, o voto não dá, nem a
Dilma nem a ninguém, o direito de solapar as instituições, abrir as portas da
administração à corrupção e envenenar a democracia.
Pois foi isso o que Dilma fez e
continua a fazer, seguindo o padrão estabelecido pelo chefão Luiz Inácio Lula
da Silva, patrono incontestável da roubalheira e da desfaçatez que se
instalaram no governo federal desde a triste chegada do PT ao Palácio do
Planalto. Portanto, nenhum observador razoavelmente informado da cena política
nacional pode se dizer surpreso com as atitudes desesperadas tomadas por Dilma
nos últimos dias, que lhe arrancaram a máscara de democrata e deixaram exposta
sua natureza autoritária – pois a presidente não hesita em entregar anéis que
não lhe pertencem na ilusão de que salvará os dedos com os quais se agarra
sofregamente ao poder.
Na xepa de Dilma, os cargos do
governo, mesmo aqueles que têm alguma importância, serão tirados dos partidos
que abandonaram a presidente e redistribuídos a legendas de aluguel cuja
representatividade é nula – são agremiações que espelham apenas os espertalhões
que as criaram. Um exemplo é o Partido Trabalhista Nacional (PTN), que pode
herdar a Fundação Nacional de Saúde(Funasa), responsável por ações de
saneamento e prevenção de doenças.
Esse partido elegeu apenas quatro deputados
em 2014, mas chegou a 13 graças ao vergonhoso troca-troca partidário e tem um
voto na comissão da Câmara que analisa o impeachment. Outro nanico que pode ser
contemplado com uma boquinha no governo é o exótico Partido da Mulher
Brasileira (PMB), que tem apenas um deputado – justamente, decerto não por
coincidência, o que tem vaga na comissão do impeachment.
Foi a esse espetáculo deprimente que
se reduziu o segundo mandato de Dilma. No passado, os marqueteiros petistas
ainda tentaram criar em torno da presidente a aura de chefe de Estado
implacável com a corrupção, por ter afastado vários ministros flagrados em
atitudes suspeitas. Conseguiram até mesmo emplacar a versão de que Dilma
enfrentava dificuldades políticas por detestar o varejo do Congresso. Toda essa
fraude está agora plenamente revelada. Não há marketing capaz de inventar para
Dilma uma fantasia que esconda o fato de que ela, deliberadamente, está
entregando o governo de bandeja ao que há de mais reles e inexpressivo na
política, pondo preço vil em todos e em cada um dos 54 milhões de votos que
recebeu.
Dilma, antes do último suspiro,
insiste na impostura. Enquanto loteia o governo entre oportunistas
profissionais, a presidente se rende cada vez mais à sua “base” – isto é, aos
grupelhos petistas que, em troca de apoio, cobram dela o aprofundamento da
insanidade fiscal. No entanto, sem dinheiro nem para tapar os buracos das
estradas federais, conforme noticiou o Estado, Dilma não tem mais nada para oferecer, razão pela
qual os próprios “movimentos sociais” e o PT já consideram o impeachment
inevitável e começam a treinar seu discurso de oposição raivosa – algo que eles
fazem como ninguém.
*Publicado no Estadão.com em
30/03/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário