A decisão da revista Playboy, editada nos Estados Unidos, de não publicar mais fotos de mulheres nuas, parece ter sido inspirada num conto que o meu amigo Leo Iolovitch publicou no seu imperdível livro 'Na nuvem'. Hoje ele publicou o texto no Facebook e eu faço questão de dividir com todos.
Ver ou não ver
Léo Iolovitch
Durante o banho a vizinha deixava a janela do
banheiro entreaberta.
Esgueirando-se e olhando através das frestas
da veneziana do seu quarto, o menino conseguia ter a visão dos seus sonhos.
Era uma manobra difícil, pois não podia abrir
sua janela, diante do risco de ser flagrado em plena espionagem. Então usava um
banquinho, para alcançar o topo de sua janela, que lhe proporcionava um ângulo
melhor para espiar.
Ele já conhecia os horários do banho. Ao
aproximar-se a hora, fechava a porta do seu quarto, subia no banquinho e ficava
aguardando o momento mágico.
Não contou para ninguém.
Fingia naturalidade quando saía do quarto,
pensando que na sua casa iam perceber algo, pois já estava se achando um pouco
mais adulto.
Um dia não resistiu e contou para seu primo.
O parente na mesma tarde já foi até lá,
compartilhar do segredo e também tentar ver a vizinha nua.
A visão que já era difícil para uma pessoa, era
quase impossível para dois.
Diante da dificuldade para espiar, o primo,
que tinha experiência em computador, sugeriu que usassem uma pequena câmera,
colocando-a numa vara de pesca.
Assim poderiam ter visão completa do banheiro
e, principalmente, da vizinha.
A proposta aparentemente não o entusiasmou,
tanto que ele nem respondeu.
O primo resolveu insistir com sua sugestão
tecnológica, prometendo uma visão completa. Falou até na possibilidade de
gravar e perguntou qual era o problema.
A proposta não seria boa?
Então o menino espião, que sempre fora o dono
da situação, e não estava gostando de dividi-la, pensou mais um pouco, fez um
ar de adulto e respondeu encerrando definitivamente a questão:
“Olha, deixa assim, não vou topar; pois
pensando bem, eu acho que a graça está em não conseguir ver tudo, pois aí sobra
mais para a imaginação”...
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