Atestado de incompetência
O Estado de São Paulo
1º/09/2015
Continuar maquiando as contas públicas com novas pedaladas
fiscais e recursos do gênero só faria aumentar o desastre provocado pela
gastança desenfreada que teve seu ápice no ano eleitoral de 2014. Por falta de
opção politicamente viável e pretextando a intenção de ser “transparente”,
Dilma Rousseff acabou tomando a decisão de apresentar ao Congresso, pela
primeira vez na história, uma proposta de orçamento deficitária. E acabou
passando o atestado definitivo de sua incompetência como presidente da
República – se é que ainda existia no País, inclusive no governo, alguém que
disso duvidasse de boa-fé.
Como não têm mais nada a perder, pois já estão no fundo do poço
da credibilidade política e popular, a presidente Dilma Rousseff e o PT vão
continuar tentando jogar sobre ombros alheios a responsabilidade principal pelo
vexame de ter que admitir pública e oficialmente que o governo não tem dinheiro
para pagar suas contas.
À conjuntura internacional adversa, recentemente agravada pelos
problemas da China, certamente será atribuída boa parte da culpa pela inflação
fora de controle, o desemprego que não para de aumentar, os juros altos, a
crescente falta de competitividade da indústria nacional – enfim, pelo fato de
a economia brasileira estar em recessão. O dedo acusador será apontado também
para a oposição e para as “pautas-bomba” que desfiguraram a proposta de ajuste
fiscal. E certamente não faltarão referências à falta de chuvas.
Em resumo, a grande responsável pela crise brasileira é uma
trinca do mal que no momento conspira contra as boas intenções do lulopetismo:
a China, a Câmara dos Deputados e El Niño.
Os brasileiros, porém, já se deram conta de que ninguém melhor
do que Dilma Rousseff personifica a crise política, econômica e social –
agravada pela completa falência moral – que infelicita o País. É claro que não
se pode esquecer a parte que cabe nesse latifúndio ao populismo irresponsável
de Luiz Inácio Lula da Silva. Ninguém mais do que ele tem culpa pelo fato de a
incompetência de Dilma estar hoje instalada no Palácio do Planalto.
Haverá quem diga, com maldosa esperteza, que essa
responsabilidade deve ser compartilhada com os milhões de brasileiros que
elegeram e reelegeram o flagelo que hoje nos preside. Mas à imensa maioria dos
que votaram em Dilma socorre a justificativa de que agiram de boa-fé e hoje
estão arrependidos. Já Lula pode até ter descoberto também que colocar a pupila
no Palácio não foi uma boa ideia. Mas jamais admitirá isso publicamente e para
manter a pose de super-herói ameaça candidatar-se de novo em 2018.
O fato é que o País enfrenta uma crise de desenlace imprevisível
na área política e de consequências previsivelmente assustadoras no campo
econômico. O fato é, ainda, que tudo começou a dar errado quando, do alto da
soberba e da empáfia entranhadas em seu DNA, os petistas no poder, ainda no
segundo mandato de Lula, entenderam que era chegada a hora de parar de fazer
concessões ao “liberalismo” e impor ao País suas convicções estatistas e uma
“nova matriz econômica”.
Felizmente, até como consequência da amarga experiência
brasileira em duas décadas de regime autocrático militar, nossas instituições
republicanas se têm revelado suficientemente fortes para impedir que o Brasil
se deixe contaminar por aventuras “bolivarianas” como as que hoje são
responsáveis pelo retrocesso, sob todos os aspectos, de vários países do
Continente que sintomaticamente o desgoverno brasileiro tem como aliados. Mas o
Brasil paga o preço de ser dominado por um sistema político de representatividade
quase nula, pois o paternalismo petista é quando muito uma panaceia, jamais a
solução para coisa alguma.
Neste momento de vergonha nacional cabe propor uma reflexão aos
brasileiros que, de boa-fé, ainda defendem Dilma Rousseff: o que se pode esperar
de um governo que é incapaz de cumprir aquilo que se exige de qualquer cidadão
– a capacidade de pagar suas próprias contas?
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