segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Opinião

A ética virou pó
Clésio Boeira*
“Pelo que o José Dirceu significa, mesmo que sua prisão não fosse política, seria política”, escreveu o cronista Luiz Fernando Verissimo. O jornalista Reinaldo Azevedo, da revista Veja, interpreta: “Entenderam? Verissimo não quer nem entrar no mérito se o juiz Moro está certo ou errado, se existem ou não razões para se decretar a prisão preventiva de Dirceu. Para ele, alguns homens deveriam estar acima dessas vulgaridades. Afinal, como só estados totalitários fazem presos políticos e como a prisão do Zé seria sempre política, então o Zé, segundo o escritor, jamais deveria ser preso, pouco importa o que fizesse, nem que roubasse pirulito da Dilma… É assim que as esquerdas entendem a justiça: aos amigos tudo, menos a lei. Aos inimigos nada, nem a lei. Verissimo acredita que a aristocracia de esquerda não pode ir para a cadeia, pouco importa o crime. Vejam os amigos que sobraram ao Zé… É de vomitar”.

Pois é. O PT é um caso a ser estudado para proteger o futuro do país, com ou sem impeachment. O Brasil não pode ser transformado em recôndito indestrutível da política do vale tudo para os líderes da turna dos governantes eventuais. A vida continua – e não pode ser vivida como hoje. De jeito nenhum.

O petismo nasceu pelas mãos de Lula, Dirceu, Genoino e outras figuras menos fulgurantes com o discurso da ética e hoje assusta os brasileiros com a corrupção endêmica. Começou com o mensalão, passou para o petrolão e já está no eletrolão. A Operação Lava-Jato está longe de acabar – e se muito se fala no BNDES.

O PT fez a oposição mais dura da história recente, contudo, chegando ao poder, protagonizou governos corruptos, perdulários e incompetentes, que nos arrastaram para a crise econômica, social e financeira, moral e ética de hoje. A produção cai, o emprego some, o dinheiro encurta e a população de presos do juiz Sérgio Moro não para de crescer em Curitiba.

Milhões de adeptos foram conquistados no país inteiro pelo petismo, criticando os privilégios para os apaniguados no serviço público nos três níveis de poder, mas, ao assumir o governo central, substituiu técnicos por militantes, aparelhou as instituições e se locupletou com o dinheiro do povo.

Nos palanques, atacava a política tradicional, chamando velhos políticos de safados e ladrões, mas, ao assumir, convocou e mantém ao seu lado os mesmos piores exemplares da política tradicional. De Sarney a Collor, passando por figuras como Renan Calheiros e Paulo Maluf, não existe uma que seja oposição.

De inimigo feroz da indecência política, que enriquecia supostos assaltantes dos cofres públicos, agora precisa ouvir de seu principal adversário – a quem derrotou nas urnas, em 2014, contando mentiras e “fazendo o diabo” -, que é uma “organização criminosa” e não um partido político.

Hoje, Lula, presidente eleito e reeleito, apesar do mensalão, é investigado por suposto tráfico de influência. Genoino passou pela cadeia. Dirceu passou também – e está de volta. A ética virou pó. O discurso acabou. Resta a pose, a arrogância e a virulência dos tempos em que petista discursava com ar de superioridade.

*Jornalista – Publicado em O Sul (osul.com.br)

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