Um pouco do mesmo. Apenas bem diferente. (5)
Não é preconceito. É ignorância
Cesar Cabral*
Terminada a disputa “dos eles contra nós”, “dazelites
contra os menos afortunados(?)”, do “você é ladrão!” – ladrão é você!”sobrou o
debate do resultado, acentuadamente, pelas redes sociais acusando os nortistas
e principalmente os nordestinos de reeleger a Russef ou Rousseff (às vezes
faço essa pequena confusão, pois os nomes – apenas os nomes, por favor – são tão
parecidos!!).Foi uma eleição da esquerda contra esquerda, do sofisma ideológico vigarista,
poucos dias antes do fim da Guerra Fria entre socialistas e capitalistas.
Nesse domingo, dia 9, o mundo comemora a queda do Muro de Berlim.
O jornal O Globo publicou em editorial que “O desenho
esboçado no primeiro turno, com a divisão do país em 2 grandes blocos, recebeu
traços mais fortes: grosso modo, o Norte-Nordeste perfilado ao PT, o Sudeste/Sul/Centro-Oeste
com a oposição. Fica evidente que o país que produz e paga
impostos — pesados, ressalte-se — deseja o PT longe do Planalto, enquanto aquele
Brasil cuja população se beneficia dos lautos programas sociais — não só o Bolsa
Família —, financiados pelos impostos, não quer mudanças em Brasília, por óbvias
razões.”
Bom: primeiro que não é “o Bolsa Família” já que o termo
exige o artigo
feminino.Como escreveram deve constar “o programa”.
Segundo: o que
pretendem dizer com “não quer mudanças em Brasília, por
óbvias razões”? Que obviedade é essa? Terceiro: penso que é impossível manter
um diálogo honesto e inteligente com a estupidez inculta do sectário seja
ideológico ou teológico. Leio o que dizem – ou falam – para conhecê-los, mas jamais
respondo, discuto, polemizo, essas coisas, com a insanidade.
Entretanto, e dessa vez, “mexeram com as minhas bichas”
(quem é gaúcho e dos velhos sabe o que isso quer dizer). Ora, vivo no nordeste
há mais de duas décadas, casado com uma nordestina e com ela tenho dois filhos
nordestinos. Não saio em defesa deles, pois a eles, essas inutilidades, nem lhes
“bate a passarinha”.
O editorial do O Globo sugere que os nordestinos são
vagabundos; e vagabundo implica em subdivisões agregadas e indissociáveis de
outras maledicências. Não gosto e não aceito esse Brasil político; gosto do outro,
que é parte do mesmo sem nenhuma divisão ideológica, mas com suas características
regionais. Assim como há em outros países: na Argentina um cordobês jamais
desejaria viver em Buenos Aires; pedantes, italianos, falando espanhol e pensando
que são ingleses. O pessoal de Trás-Os-Montes e Alto Douro, torcedores do Porto,
detestam os lisboetas, em Portugal que não entendem o falar galego d´ls. Na Espanha
a região basca tem sua própria língua, o catalão, e o Camp Nou (Campo Novo em
espanhol) estádio do Fútbol Club Barcelona. O ETA (Euskati Ta Askatasuna –
Pátria Basca e Liberdade) tentou ser outro país durante 51 anos. Foram
exterminados em 2011. O tenor José Carreras exprime bem tal ideia: "Ser
torcedor do Barça vai além do
puramente esportivo. É o sentimento de raízes, de valores
e de uma identidade de país: a Catalunha". E assim é mundo a fora; ninguém
é igual nem há unidade.
A “represidenta” - aprendi com Tio Rei - não foi reeleita
apenas com os votos dos nordestinos; ela teve votos em todas as regiões do país e
em todos os municípios. Com um pouco mais, ou um pouco menos num e noutro, ganhou
na soma total; teve mais votos que Aécio Neto. Só com a diferença de 4
pontos percentuais, quase dentro da margem de erro estatístico não posso nem
devemos confiar na “lisura do pleito” mesmo que o Tofóli me puna com multa. Apenas com
os votos do nordeste ninguém é eleito Presidente do Brasil. São 38 milhões de
eleitores, este ano. Pode
fazer a diferença entre perder e ganhar. Por isso é preciso
ter votos no sul, sudeste e centro oeste também.
*Jornalista e escritor.
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