quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Crônica

Um pouco do mesmo. Apenas bem diferente. (5)

Não é preconceito. É ignorância

Cesar Cabral*

Terminada a disputa “dos eles contra nós”, “dazelites contra os menos afortunados(?)”, do “você é ladrão!” – ladrão é você!”sobrou o debate do resultado, acentuadamente, pelas redes sociais acusando os nortistas e principalmente os nordestinos de reeleger a Russef ou Rousseff (às vezes faço essa pequena confusão, pois os nomes – apenas os nomes, por favor – são tão parecidos!!).Foi uma eleição da esquerda contra esquerda, do sofisma ideológico vigarista, poucos dias antes do fim da Guerra Fria entre socialistas e capitalistas. Nesse domingo, dia 9, o mundo comemora a queda do Muro de Berlim.

O jornal O Globo publicou em editorial que “O desenho esboçado no primeiro turno, com a divisão do país em 2 grandes blocos, recebeu traços mais fortes: grosso modo, o Norte-Nordeste perfilado ao PT, o Sudeste/Sul/Centro-Oeste com a oposição. Fica evidente que o país que produz e paga impostos — pesados, ressalte-se — deseja o PT longe do Planalto, enquanto aquele Brasil cuja população se beneficia dos lautos programas sociais — não só o Bolsa Família —, financiados pelos impostos, não quer mudanças em Brasília, por óbvias razões.”

Bom: primeiro que não é “o Bolsa Família” já que o termo exige o artigo
feminino.Como escreveram deve constar “o programa”. Segundo: o que
pretendem dizer com “não quer mudanças em Brasília, por óbvias razões”? Que obviedade é essa? Terceiro: penso que é impossível manter um diálogo honesto e inteligente com a estupidez inculta do sectário seja ideológico ou teológico. Leio o que dizem – ou falam – para conhecê-los, mas jamais respondo, discuto, polemizo, essas coisas, com a insanidade.

Entretanto, e dessa vez, “mexeram com as minhas bichas” (quem é gaúcho e dos velhos sabe o que isso quer dizer). Ora, vivo no nordeste há mais de duas décadas, casado com uma nordestina e com ela tenho dois filhos nordestinos. Não saio em defesa deles, pois a eles, essas inutilidades, nem lhes “bate a passarinha”.

O editorial do O Globo sugere que os nordestinos são vagabundos; e vagabundo implica em subdivisões agregadas e indissociáveis de outras maledicências. Não gosto e não aceito esse Brasil político; gosto do outro, que é parte do mesmo sem nenhuma divisão ideológica, mas com suas características regionais. Assim como há em outros países: na Argentina um cordobês jamais desejaria viver em Buenos Aires; pedantes, italianos, falando espanhol e pensando que são ingleses. O pessoal de Trás-Os-Montes e Alto Douro, torcedores do Porto, detestam os lisboetas, em Portugal que não entendem o falar galego d´ls. Na Espanha a região basca tem sua própria língua, o catalão, e o Camp Nou (Campo Novo em espanhol) estádio do Fútbol Club Barcelona. O ETA (Euskati Ta Askatasuna – Pátria Basca e Liberdade) tentou ser outro país durante 51 anos. Foram exterminados em 2011. O tenor José Carreras exprime bem tal ideia: "Ser torcedor do Barça vai além do
puramente esportivo. É o sentimento de raízes, de valores e de uma identidade de país: a Catalunha". E assim é mundo a fora; ninguém é igual nem há unidade. 

A “represidenta” - aprendi com Tio Rei - não foi reeleita apenas com os votos dos nordestinos; ela teve votos em todas as regiões do país e em todos os municípios. Com um pouco mais, ou um pouco menos num e noutro, ganhou na soma total; teve mais votos que Aécio Neto. Só com a diferença de 4 pontos percentuais, quase dentro da margem de erro estatístico não posso nem devemos confiar na “lisura do pleito” mesmo que o Tofóli me puna com multa. Apenas com os votos do  nordeste ninguém é eleito Presidente do Brasil. São 38 milhões de eleitores, este ano. Pode
fazer a diferença entre perder e ganhar. Por isso é preciso ter votos no sul, sudeste e centro oeste também.

*Jornalista e escritor.

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