Um dos editoriais do jornal Estado de São Paulo, mostra de forma clara o que está sendo tramado no próprio Palácio do Planalto, para enfraquecer a presidente Dilma e asfaltar o caminho para Lula em 2018. Não deixe de ler.
Lulopetismo desconstrói
Dilma
O ESTADO DE S.PAULO
12 Novembro 2014
A coisa está
pior do que parece para Dilma Rousseff, agora que o PT se garantiu por mais
quatro anos no poder. Os graves problemas políticos que ela terá pela frente no
segundo mandato que conquistou com escassa margem de votos não moram apenas do
outro lado da Praça dos Três Poderes, no Congresso Nacional, mas também a
poucos metros de seu próprio gabinete no Palácio do Planalto, onde está
instalada, pelo menos até o fim do ano, uma ardilosa quinta coluna comandada
pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Em
longa entrevista à BBC Brasil, Gilbertinho - como Lula o chama - detonou o
desempenho de Dilma, a partir de uma perspectiva petista, mais particularmente
a do próprio ex-presidente.
Os petardos de
Gilberto Carvalho: "O governo praticou o diálogo nesses anos, mas, para o
padrão da sociedade brasileira hoje, há muito que fazer. Sobretudo no diálogo
com os principais atores na economia e na política, o governo da presidenta
Dilma deixou de fazer de maneira tão intensa como era feito no tempo do Lula
esse diálogo de chamar os atores antes de tomar decisões". Quer dizer: a
chefe do governo não ouve ninguém para tomar decisões.
Não seria exatamente o
ministro encarregado de coordenar os contatos do governo com os movimentos sociais
que admitiria a falta de diálogo com eles. Mas a versão de Carvalho sobre o
comportamento da presidente é pior do que a da simples falta de diálogo:
"Não faltou diálogo, o que faltou no caso dos movimentos sociais foi o
atendimento das demandas. A reforma agrária e a questão indígena avançaram
pouco. A reforma urbana - as estruturas de funcionamento das cidades, a
mobilidade urbana - também não foi o que os movimentos esperavam". Quer
dizer: ele, o ministro, cumpre sua parte, mas contrariando o discurso de Lula e
do PT, a presidente não prioriza o "atendimento das demandas"
populares.
Tratando em particular
da questão indígena e da queixa de movimentos ligados à área de que algumas
alianças feitas pelo governo comprometeram os avanços, Carvalho foi categórico:
"Em nenhum momento foi por conta da Kátia Abreu (senadora do PSD,
porta-voz do agronegócio) que deixamos de avançar. Não avançamos porque faltou
competência e clareza". Quer dizer: na questão indígena, tão cara ao PT, o
governo Dilma foi incompetente e confuso.
É claro que as
declarações de Gilberto Carvalho foram extraídas do contexto mais amplo de uma
longa entrevista em que, no geral, ele apresenta um balanço positivo do
primeiro mandato de Dilma. Mas, ao contrário do que seria de esperar quando se
trata de um ministro pelo menos fisicamente próximo à chefe do governo, as
declarações selecionadas de Gilberto Carvalho encaixam-se perfeitamente no
contexto mais amplo em que foram feitas, são absolutamente categóricas, falam
por si. E o que revelam?
Revelam que, obcecado
por seu projeto de poder e já de olho em 2018, o lulopetismo está articulado em
torno de um duplo objetivo político-eleitoral. O primeiro: partindo do
princípio sensato de que uma administração desastrada de Dilma Rousseff nos
próximos quatro anos pode botar a perder as possibilidades de Lula se tornar
seu sucessor, a facção lulista, inquestionavelmente majoritária, faz pressão
sobre a presidente para que corrija os rumos do governo, especialmente o
daquele em que se situa a raiz de todos os males - a política econômica.
Não é
por outra razão que Lula defende a nomeação de um ministro da Fazenda com maior
autonomia do que Dilma concedeu a Guido Mantega, para restabelecer a confiança
do mercado no governo e o crescimento da economia.
Em segundo lugar, a
tarefa de desconstruir Dilma Rousseff - que é exatamente a que Gilberto
Carvalho cumpre, agora sem nenhum constrangimento - tem a intenção de
estabelecer claramente entre Lula e sua criatura uma comparação favorável ao
Grande Chefe, o herói de origem humilde, o único e verdadeiro defensor dos
fracos e oprimidos, sempre disposto a abrir os braços e os ouvidos para as
reivindicações da massa popular oprimida pela elite perversa. Se Dilma tivesse
barba, como seu criador, estaria mais do que na hora de colocá-la de molho.
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