Editorial do
jornal O Estado de São Paulo, publicado nesta terça-feira. O assunto é uma
carta que os encarregados pela campanha de Dilma Rousseff (PT) encaminharam aos
empresários brasileiros, solicitando ajuda financeira. A leitura do editorial
do Estadão é imperdível.
PT constrange
empresários
O ESTADO DE
S.PAULO
16 Setembro 2014
A destruição dos fundamentos da
economia e a consequente perda de confiança dos setores produtivos são obras
que têm a indelével assinatura do PT. Além de terem de encarar uma crise
causada em grande medida pela imperícia das autoridades econômicas e da própria
presidente Dilma Rousseff, os empresários do País ainda estão sendo
sistematicamente demonizados na campanha da presidente à reeleição - no horário
eleitoral gratuito, eles são apresentados como vilões que aniquilam o bem-estar
dos pobres em nome do lucro. Mesmo assim, com o caradurismo habitual, os
petistas enviaram a esses mesmos empresários uma carta em que pedem dinheiro
para financiar a campanha de Dilma.
A carta contém todos os elementos da
narrativa fantástica criada pelo PT para convencer a opinião pública de que os
sintomas de crise são apenas fruto de uma visão "pessimista". Diz o
texto, assinado pelo tesoureiro da campanha, Edinho Silva, que os 12 anos de
governos petistas fortaleceram "um modelo sustentável de desenvolvimento
que associou o crescimento econômico à distribuição de renda e à ampliação do
crédito e do consumo".
Como bem sabe a maioria dos
destinatários da tal carta, esse "modelo sustentável" não se sustenta
nem na frase em que ele aparece.
Ora, como falar em
"desenvolvimento que associou o crescimento econômico à distribuição de
renda" sabendo que a economia brasileira vem rateando há anos e agora se
encontra em plena estagnação? Como acreditar na manutenção do modelo petista
diante do fato óbvio de que não há como falar em distribuição de renda se não
houver renda a ser distribuída?
Além disso, a política de
transferência de recursos e de valorização dos salários, que o governo petista
alardeia como se fosse a redescoberta do fogo, só se tornou possível graças à
estabilização da economia, a partir do Plano Real, em 1994. Os pressupostos
para a manutenção dessas condições são o controle sem tréguas da inflação e a
responsabilidade fiscal - elementos que os governos petistas, em especial o de
Dilma, arruinaram em nome da malfadada "nova matriz econômica".
Mas a carta dos petistas aos
empresários não prima pelo pudor e convida os destinatários a observar que, na
era do PT no poder, se construiu "um cenário favorável para a grande
maioria das empresas, com ações que se tornaram referências no enfrentamento à
grave crise econômica internacional".
Os empresários certamente haverão de
se perguntar de que país fala o missivista, pois o Brasil real é aquele em que
metade das empresas está com ao menos uma dívida em atraso, conforme o mais
recente balanço da Serasa - que não leva em conta débitos com a Receita, com a
Previdência Social e com Estados e municípios.
Também não é possível dizer que há um
"cenário favorável" para as empresas quando se observa que a geração
de empregos na indústria - que são os de melhor qualidade - cai há quatro meses
consecutivos. Indicadores para comprovar o estado lamentável da economia são o
que não falta.
No entanto, não é de realidade que a
carta do PT aos empresários trata. Da correspondência emana o espírito
autoritário que marca o partido - pois é possível concluir, como fizeram alguns
dos destinatários, que a recusa a doar dinheiro aos petistas pode gerar
represálias do governo no futuro. Essa ameaça fica bem menos implícita quando o
missivista deixa claro, logo de saída, que fala "em nome da presidente
Dilma Rousseff".
Uma carta de teor semelhante foi
enviada aos empresários em 2010, na primeira campanha de Dilma. Naquela
ocasião, como agora, a mensagem invocava uma certa "cidadania
corporativa" para convencer os empresários a colaborar.
A expressão faz jus ao peculiar
léxico dilmês, pois junta bananas e abacaxis no mesmo cesto discursivo, mas seu
objetivo é claro: qualificar a doação ao PT como uma forma de exercício de
"cidadania". Logo, negar-se a colaborar com o partido seria a prova
de que os empresários recalcitrantes só pensam em si mesmos - exatamente como
aparecem na propaganda do PT.
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