terça-feira, 23 de setembro de 2014

EDITORIAL


Editorial do jornal O Globo, publicado na edição desta terça-feira, dia 23 de setembro.



Escândalo na Petrobras não para de crescer
O Globo – 23/09/2014

A partir de 2008, empresas de Youssef processaram, de forma fraudulenta, R$ 1 bilhão, cifra compatível com o custo final da refinaria Abreu e Lima
Na entrevista concedida ao Bom Dia Brasil, da TV Globo, a candidata-presidente Dilma Rousseff teve de se deparar com o espinhoso caso — para ela e o lulopetismo — dos desvios ocorridos na obra bilionária da Refinaria Abreu e Lima, sob a administração do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, cumprindo prisão preventiva em Curitiba.

Não é assunto fácil para ela, por ter ocupado cargos, a partir de 2003, ligados de alguma forma à estatal: ministra das Minas e Energia, antes de passar pela Casa Civil de Lula, assumir a própria presidência do Conselho de Administração da estatal, até chegar à Presidência da República.

Na entrevista levada ao ar ontem cedo, à candidata foi feita a pergunta que paira sobre o escândalo: ninguém notou as traficâncias financeiras de Paulo Roberto? Ao responder, Dilma preferiu creditar ao governo a descoberta dos esquemas do ex-diretor, com o argumento de que a história só começou a sair das trevas porque a Polícia Federal, órgão de Estado, mas com diretores nomeados pelo governo de turno, descobriu o esquema de lavagem de dinheiro de Alberto Youssef, destino de propinas cobradas por Costa a empreiteiras contratadas para construir Abreu e Lima.

Versões à parte, o escândalo não para de crescer. Reportagem publicada no GLOBO de domingo revelou que pela rede de empresas, a maioria fantasmas, criadas por Youssef para processar recursos desviados e enviá-los ao exterior, geralmente para posterior retorno ao país “legalizados”, trafegaram, entre 2008 e 2014, 3.649 operações fictícias pelas quais saíram do país US$ 444,6 milhões, ou cerca de R$ 1 bilhão. Uma das empresas usadas por Youssef foi o laboratório Labogen, aquele que o deputado, ainda petista, André Vargas (PR) aproximou do Ministério da Saúde, no tempo do ministro Alexandre Padilha, hoje candidato lulopetista ao governo de São Paulo.

É corrupção no atacado. O destino das remessas fraudulentas, sempre disfarçadas em negócios de comércio exterior, foram 24 países. A drenagem de dinheiro da Petrobras por meio de superfaturamento de contratos com empreiteiras na construção de Abreu e Lima guarda alguma proporção com o tamanho do que foi investido na refinaria: de um orçamento inicial estimado em US$ 1,8 bilhão, Abreu e Lima sairá por US$ 18 bilhões, ou, numa conta imprecisa, quase R$ 40 bilhões. Pequenos percentuais sobre este total geram uma fortuna.

Na entrevista, Dilma justificou a nomeação de Paulo Roberto, funcionário de carreira da Petrobras, para a diretoria, pelo desempenho profissional dele. Mas há quem garanta que a ascensão de Costa, em 2004, no primeiro governo Lula, se deveu a acertos com pelo menos dois partidos, o PP e o PMDB. Depois, abençoados pelo PT.

Presidente da estatal em todo o período desses malfeitos, José Sérgio Gabrielli depôs na Justiça e responsabilizou o governo federal por essa ou qualquer outra nomeação de diretores. Devolveu a bola para Dilma e Lula.

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