sexta-feira, 4 de abril de 2014

Homenagem

Inter chega aos 105 anos, perto de sua segunda Copa

Claudio Dienstmann*

A turma já jogava mesmo o seu futebolzinho por aí, nas praças, em piqueniques, em qualquer gramado onde desse para marcar duas goleiras com pau e pedra, arregaçar as calças, sair correndo atrás da bola. O que os três jovens paulistas Poppe queriam – Henrique Poppe Leão, José Poppe e Luiz Madeira – era só organizar um pouco a bagunça. Nada de muito grande: apenas fundar um clube e ter um lugar fixo para os jogos-internos com dois times de 11 jogadores do clube se enfrentando, jogando entre si, e  de vez em quando um amistoso contra um adversário daqui mesmo. De campeonato, por menor que fosse, de ganhar algum título, de ter um baita estádio, ninguém falava, nem poderia imaginar. E foi assim que nasceu em Porto Alegre o Sport Club Internacional, um novel club de football, na noite do domingo de 4 de abril de 1909, no porão da casa dos pais de João Leopoldo Seferin, Rua da Redenção 141, hoje Avenida João Pessoa 1025, com 40 fundadores.

Isso aí acima já foi dito, escrito e repetido milhares de vezes. Acrescente-se que lá no início nem campo o Inter tinha, claro. Henrique Poppe Leão, 28 anos, o mais velho dos fundadores, tinha colocado – espertamente – o sogro, capitão Graciliano Ortiz Faria, como presidente honorário da primeira diretoria. Seria para dar respeitabilidade, dizia o genro, mas especialmente o capitão era diretor da limpeza pública de Porto Alegre, e Henrique foi lá, na maior cara de pau, e pediu ao diretor um lugarzinho para os match-trainings da gurizada. Conseguiu um potreiro, na Ilhota, e ainda por cima sugeriu também que o sogro – enfim! – mandasse limpar o local. Mas ali o Inter só fez mesmo os tais jogos internos, Inter x Inter: o primeiro campo oficial foi na Redenção, na Volta do Cordeiro, e ainda assim compartilhado: o dono era o Militar, que apenas cedeu uma parceria. Daí o Colorado foi para a Chácara dos Eucaliptos, na Rua Germano Hasslocher, em 1913 (em terreno alugado), e em 1931 para o Estádio dos Eucaliptos – o primeiro bem material do Inter. E foi lá que a Copa do Mundo de 1950 teve dois jogos, México x Iugoslávia e Suíça x México.

Em 1969 o Eucaliptos, pequeno demais, acabou trocado pelo Beira-Rio. E aí o Inter – lá no início 105 anos atrás criado apenas para ser um lugar fixo de jogos internos com dois times de 11 jogadores do clube se enfrentando, jogando entre si,  de vez em quando um amistoso contra um adversário daqui mesmo, nada de falar ou pensar em campeonato, por menor que fosse, de ganhar algum título, de ter um baita estádio – cresceu desse jeito impensável, admirado, amado, campeão do tudo.


E para culminar, agora em 2014, onde é que Porto Alegre vai receber os seus jogos da Copa? Num renovado, moderno e belo Beira-Rio, cinco partidas. Aos 105 anos, jovem e cada vez mais vigoroso, o Inter será o único clube da América do Sul a receber duas Copas do Mundo. Mais do que isso: nos 20 Mundiais, será o terceiro clube do planeta com duas Copas em seu estádio, depois do Bordeaux e Olimpique de Marselha. Aqueles jovens Poppe, definitivamente, não sabiam o tamanho do que estavam fazendo!
*Jornalista

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